O “Chefe Gastão”, como é conhecido, é um dos rostos mais visíveis do movimento escutista em Paredes. A ligação ao escutismo nasceu aos 14 anos e, há 41, fundou, o primeiro agrupamento de escuteiros do concelho que o acolheu depois de casar. Hoje continua ligado ao Agrupamento 519 de Paredes, do qual foi chefe máximo durante 26 anos.

Pelo trabalho que realizou na educação dos jovens e pelo seu contributo na promoção e crescimento do movimento escutista no concelho, Adriano Gastão Moreira vai ser medalhado com a Medalha de Mérito Municipal do Concelho de Paredes. A entrega é feita este domingo, no encerramento do 1.º Aca Paredes, um encontro que junta 350 escutistas de Paredes no Parque da Cidade.

De escuteiro clandestino a militar

Nasceu em Soalhães, Marco de Canaveses, há 77 anos, e tornou-se “paredense por casamento”, apenas em 1965. Mal terminou a instrução primária, foi trabalhar para o Porto. “Aos 12 anos já era aprendiz de cabeleireiro, em Campanhã. E aos 14 já era sindicalizado e tinha caixa de previdência”, recorda. É também nessa idade que se junta ao Agrupamento de Escutas da Paróquia de Campanhã. “Gostava de ver os escuteiros, fui percebendo o que faziam e resolvi aderir”, conta o Chefe Gastão. Só que, por não ser natural de lá, acabou perseguido pela Mocidade Portuguesa e pela PIDE. “Quando havia actividades de campo ia clandestinamente, sem ser registado. E continuei ali, camuflado, até aos 18 anos”, resume.

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Chegado à maioridade, alistou-se, como voluntário, no serviço militar. Ingressou no Exército Português onde fez carreira, até passar à reserva por volta dos 58 anos.

Começou no Quartel de Penafiel e seguiu depois para o Instituto de Altos Estudos Militares em Lisboa. Mal regressou, concorreu a sargento do quadro permanente. A partir daí integrou campanhas militares em várias províncias portuguesas de África. Foi mobilizado para Angola, onde esteve durante 27 meses e teve o seu “baptismo de fogo”. “A 17 de Setembro de 1967 estivemos quatro horas debaixo de fogo”, explica. Regressaria a Portugal em 1969, voltando a ficar destacado em Penafiel, mas em 1971 parte novamente, desta vez para Moçambique para chefiar um destacamento de defesa de Cahora Bassa. “Era o único branco. Os meus homens eram todos africanos”, salienta Adriano Gastão Moreira. Aí colaborou também com agrupamentos de escutas locais, nomeadamente com o de Matacuane, cidade da Beira, com o Padre Lacerda.

Voltou a Portugal a 1973, ainda antes da Revolução do 25 de Abril, tendo participado em várias acções ligadas a ela. Foi nomeado para desmobilizar as tropas da Guiné, a partir de Lisboa, e é convidado, mais tarde, para assumir o lugar de investigador na Polícia Judiciária Militar. Assumiu esse papel durante 14 anos, até passar à reserva. Só não chegou a sargento-mor porque saiu do activo para dar apoio à família num momento difícil. “Só por isso não atingi o topo da carreira, mas primeiro estava a família”, garante.

“A minha vida tem sido sempre um serviço aos outros”

A par disso, em 1977, fundou o Agrupamento 519 de Paredes, o primeiro do concelho. “Era, na altura, leitor, ministro da comunhão e formador do curso de preparação de matrimónio da igreja”, conta. Depois deste agrupamento, do qual foi chefe máximo durante 26 anos e onde agora é chefe na secção de Lobitos, ajudou a fundar outros no concelho de Paredes e participou na formação dos seus dirigentes. “Durante muitos anos o agrupamento tinha mais de 120 jovens”, sustenta.

O movimento escutista, defende, contribui, sobretudo, para o desenvolvimento integral dos jovens, permitindo-lhes crescer emocional, intelectual, física e espiritualmente como indivíduos, como cidadãos globais responsáveis, membros das suas comunidades. Incutem-se valores e conhecimento através de acções culturais, recreativas e de convívio.

A tradição alastrou a toda a família. A mulher foi dirigente escutista e o filho e o neto são também escuteiros.

“O escutismo para mim é a prestação de um serviço à comunidade. A minha vida tem sido sempre um serviço aos outros”, assume o natural do Marco de Canaveses, não escondendo que não esperava este reconhecimento da sociedade civil.

“Tenho 12 louvores da minha vida militar por serviços prestados. Medalhas de comportamento exemplar, das campanhas em África e condecorações de mérito militar, por cumprir os meus deveres. No escutismo, que é um serviço voluntário, já fui condecorado com a Cruz de agradecimento do Corpo Nacional de Escutas e várias medalhas por serviços prestados em campo”, resume. “Não esperava um reconhecimento da sociedade civil. Mas ao saber que foram os agrupamentos que o propuseram a lágrima caiu-me. Quem não gosta de ser reconhecido”, confessa o Chefe Gastão.