Cerca de 400 utentes de 11 instituições particulares de solidariedade social do concelho de Paredes participaram, esta sexta-feira, no II Sarau de Humor “Rir é o Melhor Remédio”, uma iniciativa da Misericórdia de Paredes em parceria com a Casa do Povo de Bitarães, que decorreu no auditório da A Celer, em Rebordosa.

Num evento com lotação esgotada, que teve como objectivo promover o convívio social e em que os principais intervenientes foram os utentes, voluntários e funcionários das instituições, foram vários os momentos de diversão e de humor, numa tarde bem passada.

A directora técnica da Santa Casa da Misericórdia, Elsa Maria Teixeira, destacou que além do convívio social que está sempre presente nas manifestações e actividades da Misericórdia, este evento teve como finalidade incrementar o intercâmbio entre instituições e fomentar o envelhecimento activo e saudável.

Refira-se que além das 11 instituições particulares de solidariedade social, o II Sarau do Humor contou a presença das Misericórdias de Penafiel e Paços de Ferreira.

“Quisemos proporcionar-lhes uma tarde diferente e através do humor fazer com que os idosos durante algumas horas se esquecessem dos seus problemas, das suas doenças”, disse, salientando que estas actividades, também, potenciam o desenvolvimento mental, estimulam a comunicação e a criatividade.

“Os sketchs são preparados pelos próprios utentes com a ajuda dos demais intervenientes de cada uma das instituições o que além de reforçar o espírito de grupo é um convite à criatividade e ao estímulo individual dos próprios utentes”, afirmou, frisando que o humor é, também, um instrumento que promove o convívio e é bem aceite pela comunidade local.

“Uma coisa é o idoso estar integrado na sua família, outra coisa é encontrarmos idosos sozinhos, sem qualquer rectaguarda familiar”

Questionado sobre  a questão do isolamento que continua a assomar muitos idosos do concelho, Elsa Maria Teixeira reconheceu que existem muitos utentes que devido à falta de salvaguarda familiar fazem com que estes ficam sozinhos, sendo o isolamento um dos principais problemas dos idosos.

“O isolamento afecta sobretudo os idosos que vivem nas suas residências sozinhos. A Misericórdia de Paredes está a dar apoio ao domicílio a 60 idosos. Estamos a falar de pessoas que estão muito sozinhas. Vamos duas a três vezes a casa do idoso, mas fazemos o serviço e vimos embora, e verificamos que há idosos que passam a maior parte do tempo sozinhos”, adiantou, sustentando que é necessário o Estado continuar a apoiar as instituições que integram a valência de apoio ao domicílio.

“O Estado tem apoiado o apoio ao domicílio, mas estou convencida que é uma resposta que deve ter em conta o apoio que o idoso tem para além da instituição. Só o apoio das instituições é muito pouco. Uma coisa é o idoso estar integrado na sua família, outra coisa é encontrarmos idosos sozinhos, sem qualquer rectaguarda familiar”, acrescentou.

Recorde-se que a Misericórdia de Paredes tem 65 idosos em lar e 15 em centro de dia.

Falando da valência de lar, a directora técnica reconheceu que as instalações existentes já começam a ser insuficientes, existindo uma lista de espera significativa.

“Existe uma lista de espera muito significativa e efectivamente não conseguimos dar resposta nem a um décimo dos pedidos. Penso que a Misericórdia de Paredes tem a intenção de avançar com a construção de um novo lar o que permitiria minimizar este problema. O concelho de Paredes tem vários lares, mas mesmo assim é necessário serem criadas mais estruturas”, avançou, sublinhando que os idosos começam a ficar cada vez mais dependentes fisicamente e, além dos problemas físicos, começam a existir, cada vez mais, problemas relacionados com a demência pelo que valências de centro de dia e do apoio ao domicílio já não são suficientes.

“Filhos, genros e noras vão trabalhar, pelo que estas iniciativas ajudam a passar melhor o tempo”

Manuel Neto, voluntário na Casa do Povo de Bitarães, que participou, também, no sketch da instituição, salientou que estas actividades além de promover o riso através do humor, são a melhor resposta ao isolamento que continua assoberbar muitos idosos.

“Cada vez mais as famílias não têm tempo para olhar pelos seus idosos e estes passam muito tempo sozinhos. Filhos, genros e noras vão trabalhar, pelo que estas iniciativas ajudam a passar melhor o tempo”, manifestou, salientando gostar de incorporar a sua personagem, participar como actor amador, não sendo a primeira vez que está em palco.

“Este evento tem tendência a alargar-se a outros concelhos”

Constantino de Brito, voluntário na Misericórdia de Paredes, irmão da instituição e um dos elementos dos corpos directivos da instituição, e autor do sketchs da instituição assumiu que o Sarau do Humor é um evento conhecido na comunidade, das instituições sociais, que tem grande adesão junto dos utentes, que promove acções de grupo e estimula o envelhecimento activo.

“Trata-se de uma iniciativa meritória que envolve várias pessoas, utentes, funcionários, voluntários. Julgo que este evento tem tendência a alargar-se a outros concelhos. Já propus que a direcção promova o intercâmbio com outras instituições de outros concelhos da Região do Vale do Sousa”, afiançou, assegurando que esta é, também, uma forma de promover a cultura e combater o isolamento.

Susana Rocha e André Sousa, os pivots de serviço deste evento, reconheceram que desempenham um papel importante enquanto apresentadores do sarau, contribuindo para que os utentes vivam e se sintam integrados, recorrendo ao humor.

“Sabe sempre bem saber que estamos dar o nosso contributo, ver que o nosso trabalho enquanto apresentadores e as nossas piadas são reconhecidas e fazem o público interagir connosco”, esclareceu.

Susana Rocha, funcionária na Misericórdia de Paredes na valência do rendimento social de inserção, ressalvou, também, que o isolamento dos idosos continua a ser um tema central das nossas sociedades.

“A verdade é que as estruturas e os meios existentes ainda são insuficientes seja para o isolamento social, seja porque muitos idosos não têm meios nem recursos para aceder às instituições. Para os que estão institucionalizados ou no centro de dia, a nossa missão passa por lhes proporcionar o máximo conforto e bem-estar”, confessou.

“Enquanto estão aqui, os utentes esquecem-se da vida que têm fora daqui, das doenças, das dores”

Já André Sousa, educador social no lar e centro de dia, ressalvou que este evento é seguramente uma aposta ganha.

“Enquanto estão aqui, os utentes esquecem-se da vida que têm fora daqui, das doenças, das dores. No ano passado o evento foi um êxito, este ano, julgamos, até pela adesão dos utentes que isso também aconteceu e o nosso desejo é que o sarau do humor regresse no próximo ano”, anuiu.

“Queremos que os idosos vivam, se sintam actuantes e participativos”

O presidente da Santa Casa da Misericórdia de Paredes, Ilídio Meireles, afirmou que estas actividades ajudam a rejuvenescer a fazer com que os idosos se sintam actuantes e participativos.

“Esta é uma actividade meritória que envolve, também, a Casa do Povo de Bitarães que agrupa outras instituições e que permita ocupar os nossos idosos, promover o envelhecimento activo e assegurando uma maior qualidade de vida aos utentes tirando-os dos lares e dos centros de dia. Queremos que os idosos vivam, se sintam actuantes e participativos”, asseverou.

A vereadora da Acção Social da Câmara de Paredes, Beatriz Meireles, relevou o trabalho da organização e garantiu que a autarquia estará sempre presente neste tipo de iniciativas.

“Embora esta actividade não sendo uma organização da câmara municipal, defendemos que é fundamental promover estas sinergias entre instituições, manter os idosos activos e proporcionar-lhes momentos de alegria como estes”, declarou.

Também o presidente da Casa do Povo de Bitarães, Mário Rocha, ressalvou o trabalho das instituições do concelho na promoção do bem-estar e qualidade de vida dos idosos.

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