Chegaram ao início da noite de quinta-feira, jantaram e foram para o quarto. No dia seguinte, levantaram-se cedo, deram uma volta pela cidade, compraram roupa, produtos de higiene pessoal e assistiram, na primeira fila, ao espectáculo de Natal protagonizado pelos utentes da Santa Casa da Misericórdia. Pelo meio, e sobretudo através de gestos e de umas palavras soltas em inglês, revelaram que as únicas referências que tinham de Portugal eram José Mourinho, Cristiano Ronaldo e Nani. Foi assim o primeiro dia do casal oriundo da Eritreia instalado em Penafiel.

 

De Portugal só conhecem gente do futebol e pediram para assistir à missa

“Eles estão a reagir bem”, garante o provedor da Misericórdia local, a instituição responsável pelo acolhimento da mulher de 23 anos e do homem de 26. Júlio Mesquita ainda é parco em palavras quando o assunto é o jovem casal de refugiados. “Temos indicações para preservá-los e proporcionar-lhes uns primeiros dias tranquilos”, justifica. Mesmo assim, lá vai dizendo que o eritreu chegou acompanhado por um certificado equivalente ao 12º ano de escolaridade e diz ter competências na área do design industrial. Já da esposa não são conhecidas quaisquer habilitações. “Também não sabemos os motivos que os levaram a fugir”, refere.

Júlio Mesquita assume que, nestes momentos iniciais, a comunicação tem sido o principal problema. O português é um idioma inteiramente desconhecido para os dois e ambos não falam inglês. Tal obriga a que os gestos sejam quase a única forma de contacto entre o casal e “um grupo restrito de pessoas que o têm acompanhado”. “Ele ainda tenta falar qualquer coisa, mas ela é mais tímida e reservada”, conta Mesquita. Na tarde da passada sexta-feira, quando ambos assistiam às canções de Natal interpretadas pelos idosos da Misericórdia de Penafiel, esta descrição foi possível de comprovar. O jovem ainda trocou algumas palavras com as pessoas ao seu lado, mas a esposa remeteu-se ao silêncio. “Vamos tentar integrá-los da melhor forma. Para já, vão ficar instalados no Lar de Santo António, onde têm a companhia de mais pessoas, e só no final do ano é que irão para o apartamento”, revela o provedor.

No domingo, a pedido dos próprios, os refugiados irão assistir à missa e, no dia de Natal irão consoar na casa de Júlio Mesquita. Prendas também já tiveram, quando um dos lojistas da cidade ofereceu a roupa que o casal pretendia comprar.