“Toda a força do mundo para vocês. Em breve estarão em casa” ia desejando Cristina Sousa enquanto entoava fados bem conhecidos. Alguns emocionaram-se, outros cantaram e bateram palmas. Todos gostaram.

Levar alegria aos doentes internados é o grande objectivo de uma iniciativa que se repete, há cinco anos, no Hospital Padre Américo em Penafiel, com músicos voluntários, em parceria com a Liga de Amigos do Hospital Padre Américo.

Vêm sempre na quadra natalícia e querem dar um bocadinho de amor a estes doentes. Passaram pelas enfermarias de Pediatria, Psiquiatria, Cirurgia e Ortopedia.

“Saímos sempre daqui de coração cheio e há sempre muita emoção”

Os voluntários vão mudando, o objectivo é sempre o mesmo: dar um melhor Natal a estes doentes. A iniciativa nasceu com o penafidelense Eduardo Peixoto, há cinco anos.

Desde aí, pega no contrabaixo e alicia outros amigos músicos para virem com ele. “No primeiro ano fomos tão bem recebidos que resolvemos continuar”, explica. “Saímos sempre daqui de coração cheio e há sempre muita emoção. Este bocadinho pode fazer a diferença para estas pessoas”, sustenta o músico e docente. “As pessoas gostam, emocionam-se, cantam connosco, choram connosco”, conta.

Francisco Madureira, vem há dois anos, e é professor numa escola básica do concelho. Toca guitarra. “Já cá estive internado mais de uma semana e sei que isto faz falta a quem cá está e a quem vem visitar”, assume o penafidelense. “É sempre uma experiência única. O ano passado fiquei emocionado e este ano está a acontecer o mesmo”, comentava ainda no início da iniciativa.

“Faz todo o sentido vir cá e dar um bocadinho de amor, porque o Natal é mesmo isso, dar amor”, acredita a fadista Cristina de Sousa. “A minha avó já esteve cá internada e passei aqui muito tempo. Foi muito bem tratada”, recorda.

Este ano os músicos interpretaram os fados “Uma casa portuguesa”, “Nem às paredes confesso” e uma música de Natal “Borboleta pechincha”, que cruza uma música brasileira com um ritmo bem português.

“Não me importava de os ouvir o dia todo. Era da maneira que espalhava um bocadinho a cabeça”

Entre os doentes, houve quem ficasse de lágrima no olho, quem cantasse animado e quem batesse palmas. Querem iniciativas destas mais vezes.

“O tempo passa mais rápido. Gostei muito de os ouvir. Não estava à espera disto”, diz Laurinda Barbosa, de 72 anos, que foi operada devido a complicações relacionadas com a diabetes e deve passar o Natal deste ano no Hospital. “Isto animou-me”, garante.

Já Fernanda Pinto, de 68 anos, emocionou-se. “Não me importava de os ouvir o dia todo. Era da maneira que espalhava um bocadinho a cabeça”, confessa. “Ela canta muito bem”, acrescenta. Ao lado, está o marido, José Barbosa, que a veio visitar. “Isto ajuda a deixar de pensar nas doenças. Era preciso aqui mais distracção”, defende.

Noutro quarto está Isabel Silva, de 48 anos, acompanhada da filha, Soraia Pinto. Está internada desde segunda-feira e deve ter alta, espera, este sábado. Acaba de fazer uma mastectomia. “Deviam vir todos os dias e mais tempo. Até cantei com a fadista”, brinca, mostrando, orgulhosa, alguns vídeos da filha, que também canta. “Acho que isto é importante, é pena não haver mais”, afirma.