Uma coisa é uma coisa

0

Depois de uma fase de negação, seguida de sinais intermitentes, a DGS decidiu e bem aconselhar o uso das máscaras como adereço fundamental para evitar a expansão do vírus.

Se o governo, a reboque das aprendizagens feitas no estudo da literatura e no olhar abrangente sobre o comportamento da COVID-19, caminhou, ao que parece, no sentido certo, já os nossos autarcas, avançaram a todo o gás, com o nosso dinheiro, a oferecer as máscaras, a torto e a direito, como se estivessem a salvar o mundo.

Uns, não ignorando que a oferta é feita com o dinheiro dos contribuintes, deram-nas oferecendo-as mesmo. Outros, usando o nosso dinheiro como se fosse deles, fizeram só propaganda e, se não fosse trágico seria a ironia das ironias: os que mais publicidade política fizeram foram os que piores resultados conseguiram. Até agora, pelo menos.

Três casos para explicar o que atrás fica dito.

Lousada, que, sem culpa, começou mal esta crise, é o concelho que melhor soube resistir à pandemia. Confinou bem, aplanou melhor e hoje é um exemplo nacional. Sim, a autarquia executou um conjunto de medidas que ajudaram ao sucesso. Deu, efetivamente, máscaras à população e juntou viseiras aos comerciantes locais.

Síntese: em Lousada as máscaras foram, efetivamente, dadas.

Penafiel, doutra forma, juntou-se à economia e conseguiu que algumas indústrias sobrevivessem à crise. Deu máscaras aos seus habitantes a comprou-as na indústria local. O sucesso é tal que algumas empresas já produzem para o mercado nacional e querem até exportar.

Síntese: em Penafiel, a população recebeu máscaras gratuitas.

De Paredes saíram noticias em jornais e televisões dando loas à iniciativa como se fosse um exemplar caso único. “Fake news” foi o que fizeram.

Anunciaram 100.000 (cem mil) euros para máscaras.

E o que fizeram: compraram-nas, não se sabe quantas nem por que dinheiro. Ofereceram aos Bombeiros e Cruz Vermelha para estes as venderem às populações. Para ser mais exato, para que estas instituições recebessem como “donativos” as vendas que fizeram.

Mal estavam estas associações se mal estivessem e pensassem sobreviver com esta espécie de ajuda.

Mal fica a autarquia se com este gesto se quer livrar dos apoios que estas coletividades merecem e a quem são devidos.

Pior do que tudo isto ficam os habitantes do concelho.

Com o nosso dinheiro, a autarquia comprou as máscaras, obrigando-os, depois, a comprá-las aos bombeiros ou à Cruz Vermelha. Dito doutra maneira: em vez de as ter de graça como os moradores dos outros concelhos, cada paredense pagou as máscaras duas vezes.

Em alguns casos pode ter pago três vezes, se, por mero acaso, algum comerciante as tivesse comprado ao preço da chuva para as revender depois nos seus estabelecimentos. Não é de crer que esta última hipótese seja verdadeira, mas, quem sabe?

Muito menos se imagina que quem as comprou tenha levado, de borla, algumas para casa. Mas, quem sabe?

E nem vem vale a pena falar no número de máscaras que se podiam comprar com os outdoors da propaganda autárquica.

Síntese: em Paredes, os moradores pagaram as máscaras, no mínimo duas vezes. No mínimo, porque no resto não se sabe.

Receber as máscaras sem as pagar, como em Lousada ou Penafiel, é uma coisa. Ter de pagá-las, no mínimo duas vezes, como acontece em Paredes, é outra coisa.

Como bem diz a sabedoria popular:

Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.