Esta semana fiquei a conhecer as contas da Câmara Municipal de Paços de Ferreira. Confesso que as aguardava com expectativa, dada o permanente “foguetório” relacionado com esta temática lançado pela maioria socialista. Proponho ao estimado leitor que faça uma leitura atenta e o mais imparcial possível do documento. Confesso que, pela posição que ocupo, é-me particularmente difícil seguir este conselho que lhe dou. Mas, ainda assim, tentei fazê-lo por uma questão de responsabilidade. Partilho pois algumas conclusões da leitura que fiz neste artigo que considero mais relevantes:

  1. O grafismo do documento é muito bom. Neste campo, a Câmara Municipal está a fazer um bom trabalho, conclusão a que já tinha chegado aquando da apresentação do Orçamento Camarário para o exercício de 2018;
  2. A Câmara Municipal tem apresentado com consistência, resultados líquidos positivos, o que se saúda;
  3. A dívida total da Autarquia ultrapassa os 51 milhões de euros;
  4. A dívida de curto prazo baixou consideravelmente (cerca de 19 milhões de euros). No entanto, a dívida de médio e longo prazo aumentou, até Dezembro de 2017, cerca de 18 milhões de euros resultante do empréstimo contraído ao FAM, o que representa um acréscimo de 74% face a 2016;
  5. O total de custos operacionais (as chamadas “gorduras” que supostamente foram cortadas pela maioria socialista) aumentaram em 10% face ao ano de 2014 (o primeiro ano de governação socialista) e denotam uma preocupante e gradual consistência de subida (para que não existam dúvida, ver página 199 do documento em análise)!
  6. Segundo o Conselho das Finanças Públicas, uma instituição de âmbito nacional e independente, a Câmara Municipal de Paços de Ferreira é a 4.º pior pagadora do país com 8,9M de Euro de dívida de curto prazo.

Ou seja, não obstante a retórica que tem sido usada pelo Sr. Presidente de Câmara e pela sua equipa indiciarem que a situação do município entrou num verdadeiro “mundo cor-de-rosa” após a sua eleição, verifico que:

  1. Fruto de anos de fortíssimo investimento feito no passado ao nível das infraestruturas públicas municipais, é de bom-tom assumir, sem qualquer tipo de complexos e “rodriguinhos” políticos, que a dívida do município era alta. O problema é que “era” alta em 2013, mas, ao contrário do que tem sido veiculado pela máquina de propaganda socialista, continua alta em 2016, isto apesar de um fortíssimo decréscimo do investimento municipal!
  2. No valor total da dívida ainda não está incluído o (já desactualizado) valor a pagar às Águas de Paços de Ferreira de 50 milhões de euro resultante da negociação feita pelo PS (e que estou em crer justificará em breve um artigo escrito por mim neste espaço), o que a acontecer vai duplicar o valor da dívida de médio e longo prazo da Autarquia;
  3. Não houve o tão anunciado corte nas “gorduras”! Sublinho esta importante questão, pois apesar de ter sido dito o contrário, os números apresentados (pela própria Autarquia) não enganam! Têm vindo a aumentar gradual e consistentemente ascendendo já a mais de 19,6 milhões de euros;
  4. Ao contrário do que é repetidamente dito pelo Sr. Presidente de Câmara e sua equipa, a Autarquia é, infelizmente, uma má pagadora porque o 4º lugar no referido ranking não deve orgulhar ninguém;
  5. A baixa da dívida de curto prazo é praticamente coincidente com o aumento da dívida de médio e longo prazo, ou seja, continua a existir, havendo apenas uma mera transferência de rubricas.

Temos ouvido vezes sem conta, que desde 2014 a Câmara Municipal de Paços de Ferreira passou a ser uma instituição de “boas contas”. Este documento prova que não é verdade. E, se é verdade que quem assume responsabilidades políticas deve ter um discurso de esperança para a população, não é menos verdade que tentar, repetidamente, atirar “areia para os olhos” da população com discursos com pouca adesão à realidade, já levanta questões do foro ético. Porque, tal como usaram e abusaram da colagem à transparência no primeiro mandato, o PS de Paços de Ferreira quer agora “colar-se” à ética. Mas tanto num caso como noutro, são questões que não se anunciam. Praticam-se. Diariamente.