Penafidelense colecciona e restaura triciclos para preservar memórias

José Pinto tem 43 anos, é natural de Milhundos e mora em Duas Igrejas. A peça mais antiga da sua colecção, que está exposta no Museu Municipal de Penafiel, é de 1850

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O gosto veio sem avisar e, peça atrás de peça, José Pinto foi compondo uma colecção que já tem dezenas de triciclos de várias épocas, tamanhos, cores e feitios. Quando os restaura, gosta de imaginar as alegrias que algumas crianças já viveram sentadas naquele banco e a girar aqueles pedais.

O penafidelense fá-lo pela paixão de voltar a dar vida a estes brinquedos antigos. Vender está fora de opção.

A grande meta era preservar estas memórias de outros tempos e arranjar um espaço permanente onde possam estar expostas.

Até lá, mais de 60 peças estão patentes numa mostra no Museu Municipal de Penafiel, até domingo.

Bichinho começou com ele, mas alargou-se à família

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

José Pinto tem 43 anos e é natural de Milhundos, Penafiel. Mas é na freguesia de Duas Igrejas, no mesmo concelho, onde mora com a esposa e os dois filhos do casal, que se dedica a coleccionar e restaurar triciclos, entre outras peças antigas.

É pasteleiro, em Freamunde (Paços de Ferreira), e não tinha nenhuma experiência na área. Começou por restaurar motas clássicas, também para ele próprio, por passatempo. E o “bichinho”, que começou nele, alargou-se a toda a família. Tanto a mulher como os filhos já ajudam quer nos restauros quer nas pesquisas de peças.

Ele, de uma família de 12 irmãos, nunca teve um triciclo, só bicicleta. “Foi partilhada entre grande parte dos irmãos. Tinha de dar de uns para os outros”, recorda.

A colecção nasceu quando viu um triciclo antigo em casa de uma senhora conhecida. “Tinha uma roda partida e deu-mo”, conta. Foi o primeiro que restaurou, um Coloma de 1960/70. “Foi muito difícil de arranjar uma roda, teve de vir do Alentejo”, explica. Essa peça permaneceu, como que em exposição, muito tempo na sala lá de casa. “Gostava de imaginar as alegrias e felicidades que aquele triciclo havia de ter dado à criança que andou nele”, confessa.  

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Hoje em dia, as crianças querem um telefone, um tablet ou computador. Mas antigamente, um triciclo como os que José Pinto restaura, mantinha as crianças entretidas, ao ar livre, em horas de diversão. E são essas as memórias que quer preservar com esta colecção particular.

“O sonho era não guardarmos isto só para nós”

Depois desse triciclo vieram outros. E, agora, são já mais de 60. Alguns são oferecidos, outros comprados na internet ou em feiras de velharias. Uns vêm mais inteiros, a outros já faltam bocados ou estão partidos. Quando os restaura, refere o penafidelense, tenta mantê-los o mais possível fiéis ao original. Isso é feito nos tempos livres, aos bocadinhos, depois de sair do trabalho. Mas um restauro pode levar várias horas.

São de várias épocas e de vários países. Além de Portugal, há na colecção peças de Espanha, França, Alemanha, Áustria, Inglaterra e Suíça. O que fez cartaz da exposição, no formato de um cavalo, é o mais antigo, datado de 1850. O mais recente é da década de 90 do século passado.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

As peças não são para vender. “É uma colecção e estou agarrado a ela. Nunca tive intenções de vender ou ganhar dinheiro com isto. É para pôr os outros a recordar os tempos antigos. É para expor a felicidade de andar neste brinquedo”, atesta José Pinto.

Para já, cerca de 60 peças (não todas as que tem), na maioria triciclos, mas também outros elementos como carrinhos de mão (mini), carrinhos de bebé, carros de pedais ou trotinetas de outros tempos, podem ser vistos no Museu Municipal de Penafiel. A mostra arrancou na semana passada e foi prolongada até domingo, dia 19 de Dezembro.

Fora desta exposição, as peças ficam guardadas (num sótão em casa de uma familiar), sendo que ainda nem todas estão restauradas. O sonho é arranjar um espaço permanente onde possam estar em exposição, se puder ser, no concelho. “Tinha gosto que fosse na minha terra”, diz o coleccionador. “O sonho era não guardarmos isto só para nós”, garante.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Muitos dos que já visitaram a mostra, dá como exemplo, lembravam-se de ter ou de os pais terem tido estas peças. “Acho importante não deixar perder isto”, defende.

Até há pouco tempo, ninguém sabia que este era o seu passatempo, além do núcleo familiar. Um hobbie que surpreendeu amigos e vizinhos. “Há sempre quem pergunte: ‘para que queres isso tudo podre?’ Agora já há quem me diga que vale a pena”, diz José Pinto.