Hugo Mota é natural de Paredes e sagrou-se campeão de ‘Swimrun’ em Inglaterra, uma prova que conjuga natação e corrida, realizados em percursos ingremes. A modalidade é tida como uma prova de resistência mais desafiante do mundo e o ‘UK National Swimrun Championship’ decorreu em Jersey, a maior das Ilhas do Canal da Mancha, que fica entre a Inglaterra e a França.

Com 34 anos, o paredense Hugo Mota é engenheiro industrial e trabalha na empresa Jaguar, uma marca de automóveis de luxo. Mas, e além do trabalho, dedica-se grande parte do tempo ao desporto, que apelida de “grande paixão”.

O ‘Swimrun’ surgiu na vida de Hugo Mota há poucos meses, mas foram suficientes para conseguir alcançar, no início do mês de Setembro, um título que o deixou “orgulhoso e feliz”.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, o atleta falou-nos da sua vida profissional e, sobretudo, do campeonato, realizado num percurso que ultrapassou os “20 quilómetros” e onde participaram mais de 100 atletas.

“São provas muito duras, que decorrem em zonas de grande elevação e com encostas”

Este campeonato, que alternou corrida e natação, começou em Gorey e terminou em St John. Foram “provas muito duras”, com muito potencial, uma vez que conjugam duas actividades físicas que exigem um grande esforço físico, dado que decorreram em zonas com uma “grande elevação” e com “encostas”.

As principais características do Swimrun são as múltiplas transições entre a natação, no mar, rio ou lago, e a corrida, que se faz, habitualmente, em trilhos. Uma das particularidades visa o facto de os participantes não mudarem de equipamento ao longo da prova, ou seja, nadam de sapatilhas e correm com fatos de neoprene.

Como curiosidade, o ‘Swimrun’ nasceu em 2002, numa conversa entre amigos que estavam num bar, em Utö, uma das maiores ilhas do arquipélago de Estocolmo, capital da Suécia. Já um pouco bebidos, apostaram que, na manhã seguinte, nadariam e correriam, entre as ilhas, até chegarem ao hotel, onde a dupla perdedora pagaria a conta de pernoite, as refeições e bebidas aos vencedores. A aventura durou mais de 24 horas, e representou um percurso de 75 quilómetros, com dez de natação em águas abertas.

Quatro anos depois, em 2006, o desafio foi transformado em prova quando a competição Otillo, que em sueco quer dizer de ilha em ilha, teve lugar na Suécia. Deste desafio surgiu a modalidade ‘swimrun’ que, hoje em dia, tem vindo a revolucionar o desporto um pouco por todo o mundo.

“Como ia em primeiro lugar, estava sempre com receio de ser apanhado”

Hugo Mota conseguiu cruzar a linha da meta em primeiro lugar, mas não foi tarefa fácil, tanto mais que como ia à frente “estava sempre com receio de ser apanhado”. Mas deu “o máximo ao longo do trajecto”, que incluiu cinco quilómetros a nadar e o restante a correr”.

De realçar que, Hugo Mota participou neste campeonato porque faz parte da elite dos atletas da modalidade, devido à classificação obtida em Agosto, aquando do campeonato nas ilhas escocesas.

Apesar deste primeiro lugar conquistado, reconhece que “ainda tem aspectos a melhorar”, sobretudo ao nível do equipamento usado, mas isso “acontece com a experiência” obtida nas várias provas.

Recuando no tempo, o engenheiro mecânico recorda que foi atleta da equipa de Pólo Aquático de Paredes, por isso, e quando vem a Portugal, faz questão de “matar saudades” do desporto. Este ano, em Maio, numa das incursões à sua terra natal, o amigo Sérgio Moreira, da equipa local Paredes Aventura, estava a organizar a ‘Swimrun Tâmega’ e aliciou-o a participar. Ora como é um apaixonado pela natureza, decidiu aceitar. Adorou e “o bichinho ficou”, confessou ao Verdadeiro Olhar.

Desde esse dia, a vida de Hugo Mota mudou e hoje divide os seus dias entre o trabalho e os treinos, onde nada em “piscina ou lagos existentes à volta da cidade de Birmingham”, praticando a “técnica e a velocidade”. E assim se prepara para estas provas, através de “natação, com as sapatilhas, incluindo ainda a corrida, com o uso de equipamento de swimrun”, fazendo a transição entre as duas práticas desportivas.

No que diz respeito à corrida, o atleta refere que tem “a sorte de ter um dos maiores parques urbanos à porta de casa”, onde pratica “trail e orientação”.

Sobre o segredo desta vitória, confessou que ajustou os equipamentos de corrida e natação, para conseguir “mais velocidade”. Quanto menos peso levar, melhor, por isso vai optando por equipamento “mais pequeno e mais leve”, o que lhe permite “entrar e sair da água o mais rápido possível”.

É evidente que, esta paixão implica “investimento, devido ao material e também às viagens”, mas o gosto que tem por este tipo de provas, suplanta estes entraves.

Depois deste feito, o sonho de Hugo Mota passa por participar no Campeonato do Mundo, que se vai realizar na Suécia e é considerado a prova mãe da modalidade.

Mas a vida do paredense não é só feita de desporto e Hugo Mota trabalha para a Jaguar, uma marca inglesa de automóveis de luxo, pertencente à Jaguar Land Rover. A fabricante de automóveis multinacional tem sede em Coventry, Inglaterra. E a verdade é que os conhecimentos que aplica na empresa são canalizados para o desporto que pratica. A operar na área da produção, tem que gerir equipas, para fazerem o trabalho “mais rápido, em menos tempo e de forma mais eficiente”. Logo, “estes conhecimentos são transferidos” para o Swimrun, onde tem que aliar a “força e resistência, à eficácia, tentando ser o melhor”, frisou.

“Trabalhar para a Jaguar é um emprego como outro qualquer. É como trabalhar numa empresa de móveis em Paredes. O empenho e dedicação seriam os mesmos”

Sobre o facto de trabalhar para uma das empresas de sonho para a maioria dos engenheiros da sua área, Hugo Mota diz apenas que “é um trabalho como outro qualquer. É como estar numa empresa de móveis em Paredes”.  A “dedicação e o empenho seriam os mesmos”, apenas “o produto final é diferente”.

O atleta faz questão de realçar que a empresa e a equipa com que trabalha “são fantásticas”, incentivando-o e apoiando-o na prática do Swimrun. Todos “valorizam e apreciam” esta sua vertente. Aliás, contou, quando participou na prova da Escócia, andou numa carrinha Jaguar, cedida pela empresa. “Expôs a marca” e conseguiu um meio de transporte. Foi uma “experiência incrível”, contou ao Verdadeiro Olhar.

Hugo Mota destacou ainda que, e depois de se ter sagrado campeão nacional da modalidade, a comunicação da sua empresa até publicitou o feito, porque a Jaguar “quer ter nos seus quadros pessoas activas e com uma vida mais saudável”.

Apesar de ter uma vida feliz em Inglaterra, a verdade é que Hugo Mota não deixa de ter saudades de Paredes. É bom regressar a casa, onde “todas as pessoas se conhecem e existe um grande espírito de solidariedade e entre-ajuda”.

“Paredes é a minha casa e o meu lugar”

Apelida Paredes de sua “casa” e de seu “lugar”, por isso, confessa, que vai continuar em Inglaterra, mas, um dia, sonha regressar a Portugal. Ainda não sabe quando, porque pretende “continuar a ganhar experiência e a crescer profissionalmente”, para conquistar “currículo e ‘know-how’”, mas depois pretende voltar.

E, para já, é feliz em Inglaterra, onde não lhe faltam pessoas para conviver. Tem “uma rede de amigos” que o ajudam a ultrapassar o facto de estar longe de casa, mas não é suficiente para conseguir, por exemplo, matar saudades das “francesinhas”, prato de que falou, algumas vezes, ao longo da conversa com o Verdadeiro Olhar. Para já, não tem viagem agendada para Portugal, mas, quando vier, já sabemos onde Hugo Mota fará uma paragem.