Foto: Verdadeiro Olhar/Arquivo

Movidos pela fé, e muitos também pelo cumprimento de promessas, ano após ano, por esta altura, milhares de peregrinos rumam ao Santuário de Fátima. Mais de mil partem da região, em grupos organizados por instituições de Paredes.

Este ano não é excepção. Este domingo e segunda-feira, bem cedo, centenas de pessoas, dos 18 aos cerca de 70 anos, apoiadas pela Associação Nossa Senhora dos Remédios – Obra de Bem Fazer, pela Obra de Caridade ao Doente e ao Paralítico (OCDP Paredes) e pelo Rancho Regional de Paredes, põem pés ao caminho para cumprir o percurso de mais de 200 quilómetros até Nossa Senhora.

A logística não é fácil e implica o apoio de centenas de voluntários que ajudam com a alimentação, os cuidados médicos e a enfermagem.

“Tem que estar tudo organizado para que não falte nada. Desde o pão à água passa tudo pelas minhas mãos”

Os primeiros a partir são os peregrinos apoiados pela Obra do Bem Fazer. Saem este domingo, pouco depois das 7h00, depois de uma missa na Igreja Matriz de Paredes. Cumprem seis etapas e têm chegada prevista ao Santuário para o dia 10.

Ao todo são cerca de 500 os inscritos, apoiados por 140 voluntários. Mais de 200 partem de Paredes, outros juntam-se ao grupo pelo caminho, uma grande parte logo em Canelas, Vila Nova de Gaia. Há pessoas de todas as idades, mas nos últimos anos tem havido um rejuvenescimento que quem procura o apoio desta Obra. “De há dois a três anos para cá há muita juventude”, garante Luís Almeida, tesoureiro da Obra do Bem Fazer e um dos grandes responsáveis pela organização.

Há 27 anos que a instituição organiza esta peregrinação a Fátima. “Tem que estar tudo organizado para que não falte nada. Desde o pão à água passa tudo pelas minhas mãos”, explica.

É que a logística é grande. Todos os dias é preciso preparar três refeições para 650 pessoas. Só para transportar colchões, tenda e utensílios de cozinha, os alimentos e os pertences dos peregrinos, entre outros, são necessários 25 carrinhas e camiões. “Para uma refeição são precisos 125 quilogramas de bacalhau. Carne são aos mais de 100 quilogramas de cada vez. E por dia consumimos cerca de 2.300 pães”, dá como exemplo.

A Obra tem equipas para organizar cada um dos apoios, desde os cuidados de enfermagem à cozinha, ao transporte dos sacos e colchões. “Todos já sabem o que vão fazer e a maioria dos voluntários é repetente”, diz.

Também do lado dos peregrinos, há quem repita esta manifestação de fé há vários anos e a procura pelo apoio do grupo é grande. “Abrimos as inscrições em Janeiro e nesse mês ficou tudo cheio. Tivemos que recusar muita gente”, afirma Luís Almeida. “Há pessoas que já vão connosco há vários anos consecutivos. São mais os repetentes que os que vão de novo”, admite.

Como alguém que já fez esta peregrinação no passado e que apoia como voluntário estes peregrinos há 27 anos, Luís Almeida sustenta que hoje em dia ir a Fátima a pé é muito diferente e acontece com outras condições. “Fui como peregrino aos 25 anos e sei bem o que custa. Mas ir agora a Fátima é um luxo, não falta nada. Antes dormíamos em palheiros, não sabíamos onde íamos ficar, se ia haver água quente para um banho, nada”, conta.

“A nossa grande preocupação é a viagem. Todos os peregrinos são aconselhados a ir em fila indiana e a não se separarem do grupo”

Foto: Verdadeiro Olhar/Arquivo

Na segunda-feira, saem de Paredes os outros dois grupos organizados, também depois de celebrações religiosas agendadas para as 6h30.

Com o apoio da OCDP Paredes seguem rumo ao Santuário cerca de 410 peregrinos, apoiados por 90 voluntários. A instituição organiza a peregrinação desde que foi constituída, há cerca de 47 anos. Muitos dos que vão são repetentes.

“Havia muita gente em lista de espera. Mas impomos limites, até pelos pavilhões onde dormimos. Temos que dar o mínimo de condições”, explica António Pinto, presidente da instituição.

A grande logística começa logo pela manhã. Além do pequeno-almoço, cada peregrino recebe um lanche. Depois há os almoços e jantares. “São 500 refeições de cada vez. Cerca de 1.500 por dia”, descreve.

Durante todo o dia há equipas de enfermagem e a dar água de dois em dois quilómetros. Os enfermeiros fazem massagens e tratam sobretudo de bolhas. À noite, nos pavilhões, há mais cuidados de saúde. Depois há o transporte dos colchões que são diariamente carregados e descarregados, e os sacos de cada peregrino. Uma logística só possível com a ajuda dos voluntários. “Temos cerca de 30 viaturas a dar apoio, cinco nossas e 25 emprestadas”, diz António Pinto. Os peregrinos são ainda acompanhados por uma viatura dos Bombeiros de Paredes.

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Vão cumprir seis etapas, com dormidas em Canelas, Oliveira de Azeméis, Águeda, Coimbra, Pombal e chegada a Fátima prevista para dia 11 de Maio. Pelo caminho “rezam, cantam e choram”. À noite há sempre missa e terço.

Fazer chegar todos ao destino em segurança é o principal objectivo. “A nossa grande preocupação é a viagem. Todos os peregrinos são aconselhados a ir em fila indiana e a não se separarem do grupo. Ninguém passa à frente da cruz e ninguém fica para trás. O que peço a Deus é que corra igual ao ano passado”, conclui António Pinto.

“Temos gente que faz esta peregrinação connosco desde o início e que dizem que enquanto forem vivos e puderem irão a pé a Fátima”

É o sexto ano consecutivo que o Rancho Regional de Paredes organiza esta peregrinação. Leva grupos mais pequenos ou não haveria “as mesmas condições e o mesmo carinho com todos”, acredita Augusto Moreira, responsável pela organização.

Este ano darão apoio a 170 peregrinos – “porque não aceitamos mais, havia mais gente em fila de espera” – e contam com a ajuda de 45 voluntários.

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“Não é uma logística fácil”, admite, lembrando que a cada etapa é preciso montar e desmontar equipamento e dar alimentação a todos. São sempre acompanhados por fisioterapeutas, enfermeiros e auxiliares que prestam auxílio aos peregrinos.

“São muitas refeições. Cerca de 250 de cada vez repetidas ao longo do dia”, explica.

As pessoas vão “pela fé, necessidades, desespero”, comenta Augusto Moreira. “Há gente que foi atendida pela Nossa Senhora e volta todos os anos. Temos gente que faz esta peregrinação connosco desde o início e que dizem que enquanto forem vivos e puderem irão a pé a Fátima”, acrescenta.

Além de Paredes, integram este grupo pessoas de vários concelhos vizinhos, Com Valongo, Lousada ou Amarante.

Estão previstas seis etapas, de cerca de 40 quilómetros diários, e o grupo chegará ao Santuário no dia 11 de Maio.

São acompanhados por uma equipa dos Bombeiros de Paço de Sousa.