PAREDES: o advogado do diabo

0

“Este mandato ficará marcado por aquilo de que ninguém ainda falou: a tentativa do atual presidente da câmara (Alexandre Almeida) para conseguir um mega-processo judicial contra Celso Ferreira (seu antecessor)…”

José Orlando Rocha in Verdadeiro Olhar, 5 de fevereiro de 2020.

 

Da notícia que o JN deu à capa no dia 14 deste mês já nós tínhamos dado conta neste jornal onde, semanalmente, vamos expondo a nossa opinião.

Depois de durante muito tempo termos contestado a gestão do PSD na câmara de Paredes, e ninguém se atreveu a fazê-lo como nós, talvez esta notícia pudesse dar-nos algum contentamento. Felizmente que esse não é o nosso sentimento. Nestes casos, sempre recusamos o caminho mais fácil. Que se apure a verdade e que se cumpra a lei se se provarem as acusações de que são alvo os dois autarcas agora acusados.

Contudo, há no caso agora noticiado pelo JN sobre eventuais ilegalidades na gestão de Celso Ferreira, algo perverso que nos faz pensar na dimensão humana de quem informou o jornalista. Primeiro, os visados já foram constituídos arguidos há tempo mais do que suficiente para, há muito, se saber disso.

Quem guardou a informação?

Os arguidos guardá-la-iam sempre. Pelo menos até chegarem a tribunal como tudo indica que virá a acontecer.

Quem mais foi oficialmente notificado? Presume-se que o atual presidente da câmara, Alexandre Almeida. Sobre o timing da divulgação, talvez lhe conviesse guardá-la para depois. Quanto mais tarde a divulgasse mais próximos estaríamos das autárquicas de 2021 e, assim, mesmo que sem decisão definitiva do tribunal, sempre serviria de arma de arremesso político-partidário do PS contra o PSD. Contudo, perante a evidência de que a informação era já do conhecimento de terceiros, teve de antecipar a divulgação.

Até aqui, apesar de tudo, nada de muito anormal se regista. Há, no entanto, neste processo, um comportamento por parte de Alexandre Almeida que é absolutamente reprovável. Neste processo, até agora, só há dois arguidos. Que necessidade teve o presidente da câmara de divulgar os nomes dos funcionários que não são acusados de coisa alguma? Metê-los no mesmo saco, ou seja, misturando o nome dos acusados com o dos funcionários lança um lastro de desconfiança e suspeita sobre os trabalhadores da autarquia que é absolutamente reprovável. Não somos dos que acreditamos na perspectiva simplista que o fez porque quer “despachar” os atuais funcionários para os substituir por “boys and girls”do PS. Já basta o número daqueles a que deu guarida desde que é presidente. Aliás, o aumento dos gastos com a despesa corrente do município comprova isso mesmo. Lamentável, é o que, no mínimo, se pode dizer desta ofensa aos funcionários da câmara municipal.

Pior do que tudo isto é a sensação que emerge em nós sobre a transparência desta gestão. Celso Ferreira e Pedro Mendes, arguidos neste  processo – ouviremos falar doutros  – são acusados, entre outras coisas de desrespeito pelos procedimentos processuais. Quantos exemplos podemos dar da mesma forma de atuar deste executivo liderado por Alexandre Almeida? Muitos!

O meio milhão, leu bem, meio milhão de euros que a autarquia vai pagar só para a aquisição dos terrenos para a ampliação do cemitério de Rebordosa, deixa-nos, se não mais, no mínimo a convicção de alguma falta (ou será excesso?) de habilidade para a negociação.

E dos ajustes diretos, daqueles que batem na barra para não ultrapassar a linha de golo, que é como quem diz, que ficam mesmo nos limites da legalidade da contratação sem concurso público, este executivo mudou algo em relação ao passado recente que tanto criticou? Claro que não.

Perante este cenário não nos resta outra conclusão: que o processo em curso contra os ex-autarcas seja levado até às últimas consequência, mas não nos dê este executivo motivos de desconfiança iguais quando formos chamados a votar neles nas próximas eleições.

Condenar na praça pública os arguidos e dar loas aos que estão no poder agora era muito mais politicamente correto e recolheríamos, seguramente, a anuência da maioria dos nossos leitores. Todavia, para agradar a muitos, teríamos de magoar aqueles a quem ainda não foi dada oportunidade de se defenderem. À opção mais fácil preferiremos sempre o caminho que nos parecer mais justo.

 

O FASCÍNIO DA IMAGEM

A praça José Guilherme, em Paredes, na década de 80

Não são trovas do vento que passa.

São provas do que o tempo muda.