“Sejam todos bem-vindos ao mobiliário do futuro”. A frase é da Maria, assim foi baptizada. É uma mesa tecnológica montada por três empresas de Paços de Ferreira que promove o conceito “smartliving”. Integra a internet das coisas, ecrã que pode dar quatro conteúdos em simultâneo e um assistente de voz que permite controlar as funções da própria mesa e do ambiente em que se insere, como apagar ou ligar a iluminação e a climatização. Toda esta tecnologia pode ser introduzida noutras peças de mobiliário.

A meta é estimular os empresários de Paços de Ferreira a passar a desenvolver móveis com tecnologia incorporada. Um campeonato em que, admite o presidente da Câmara, o concelho já “está atrasado”.

Ontem, numa sessão promovida pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira, juntamente com a Associação Empresarial de Paços de Ferreira e a Moveltex, foi promovido o projecto “Smart Living by Capital do Móvel” que quer promover a criação de uma nova geração de mobiliário tecnológico, cuja revolução está já a ocorrer noutras partes do mundo. Um dos objectivos é criar um consórcio de investigação e desenvolvimento com a Universidade de Aveiro que permita apostar em produtos inovadores.

“O mobiliário inteligente já é realidade noutros mercados. Precisamos de pegar na tecnologia existente e incorporá-la nos nossos móveis”

“A má notícia é que estamos atrasados na incorporação de tecnologia no mobiliário”, afirmou o presidente da Câmara de Paços de Ferreira. “O mobiliário inteligente já é realidade noutros mercados. Precisamos de pegar na tecnologia existente e incorporá-la nos nossos móveis”, defendeu Humberto Brito. E é preciso que isso aconteça de forma rápida. “Temos de acelerar este processo”, sustentou.

O autarca falava numa sessão em que se debateu a importância da inovação e se desafiou as empresas a integrarem um consórcio com a Universidade de Aveiro.

Humberto Brito não desvaloriza a importância dessa medida, mas salienta que “a inovação demora o seu tempo”. E que até lá é preciso, no “mais curto espaço de tempo”, incorporar no mobiliário produzido na Capital do Móvel a tecnologia já existente, sob pena de ficar em causa a “sustentabilidade” destas indústrias ao não acompanharem uma tendência mundial.

Samuel Santiago, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira, também defendeu que é essencial capacitar as empresas para as transformações necessárias. “Temos de nos juntar cada vez mais. Só em conjunto conseguimos atingir patamares superiores, sobretudo quando estamos a competir a nível mundial. A inovação é fundamental e a integração da tecnologia também”, argumentou.

“Há tecnologia que já existe e também devemos avançar por aí já. Mas a inovação também é algo que queremos potenciar para sermos diferenciadores e criarmos valor acrescentado no produto, não competindo apenas pelo design e preço”, acrescentou o responsável pela Associação Empresarial. A médio prazo, a intenção é ter um centro tecnológico no concelho.

“Vai estar quase tudo ligado na internet das coisas. Os móveis de Paços de Ferreira também”

Na sessão, abordaram-se a importância da investigação e desenvolvimento e as oportunidades de financiamento para o sector.

Os intervenientes foram unânimes: é preciso conhecimento e inovação e juntar empresas e universidades para que haja experimentação, o futuro passa por acrescentar valor aos produtos e o desafio é colectivo.

Foram ainda dados exemplos de empresas de Paços de Ferreira que avançaram nesse sentido como a Artnovion, que apostou em investigação e desenvolvimento e que criou nova tecnologia, tendo agora contratos com a Disney e a Netflix; e a Maroco que está num consórcio internacional com 22 entidades europeias, desde empresas a universidades, e participa no desenvolvimento de estudos para produzir tecidos que possam evitar a propagação de infecções e de vírus como o Sars-Cov-2 responsável pela Covid-19. Os CEO das empresas deixaram um recado: há dificuldades a enfrentar, não será “um mar de rosas”.

O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, António Cunha falou aos empresários de “um tempo desafiante e complexo de transformação digital”. “Vai estar quase tudo ligado na internet das coisas. Os móveis de Paços de Ferreira também”, sentenciou, afirmando que é preciso estar preparado para a mudança.

O futuro da região Norte, disse ainda, passa pela criação de valor. O diagnóstico aponta para uma região transformadora onde estão um terço das empresas do país e que são responsáveis por 39% das exportações, mas onde se produz “pouco valor e riqueza”. “O nosso drama é o rendimento que é muito baixo em todos os sectores”, afirmou António Cunha. Frisou, no entanto, que o Norte é também uma região com forte capacidade inovadora e que a aposta tem de passar pelo conhecimento.