Li recentemente um artigo que referia os nascidos entre 1997 e 2010 como a geração dos “centennials”. Sucedendo à dos “millennials”, tem levado as empresas a repensar o seu modelo de gestão e relacionamento hierárquico, podia ainda ler-se.

A geração dos centennials caracteriza-se por encarar as tecnologias de informação e comunicação quase como uma extensão do próprio corpo. Criativos, inovadores, tolerantes, pragmáticos, equilibrados nas suas expectativas, mas também mais impacientes, fruto dos estímulos diários. É assim caracterizada esta geração que “faz acontecer”.

O mundo empresarial prepara-se agora para receber os primeiros centennials.  Estarão todos os centennials preparados para responder aos novos desafios profissionais? E a escola? Esteve (está e estará) preparada para lhes proporcionar um percurso adequado aos novos tempos, sem deixar ninguém para trás?

O curso da história não se compadece com a estagnação. Esta afirmação ganha ainda mais força no séc. XXI, período de profundas transformações tecnológicas, que revolucionaram todas as áreas do saber, profissionais e a vida em sociedade.

À educação, à semelhança do que tem acontecido em tantas outras áreas, é pedido que não se alheie das transformações que têm sofrido a nossa forma de estar em sociedade, a nossa relação com os outros, com o conhecimento e com o mundo laboral. Apesar de todas as mudanças, a escola continua a reproduzir os modelos de ensino de há décadas. Não é de estranhar, por isso, que a frustração seja, muitas vezes, o resultado do trabalho árduo que os profissionais desenvolvem em contexto escolar. Frustração pela atitude dos alunos e pelos resultados obtidos.

Os centennials (ou o que quer que venham a chamar à geração seguinte) precisam de uma nova atitude face ao conhecimento, menos transmissiva e  mais construtiva. Para além de recetores de conhecimento – que, aliás, lhes chega a um ritmo frenético de todos os quadrantes e não só da escola – , eles são produtores de ideias e projetos e as suas aptidões, criatividade, capacidade de inovação, tantas vezes elididas, exigem consideração.

Mais do que fazer testes e estudar no dia anterior para o sucesso traduzido numa nota, os centennials precisam de margem para criar! Longe da obsessão pelos resultados numéricos, que muitas vezes espelham muito pouco em relação àquelas que são as aptidões exigidas quando entram no mercado de trabalho. Longe da tendência para reproduzir conhecimento, que prova muito pouco em relação à capacidade de adaptação e ao empreendedorismo, hoje tão apregoados e fundamentais. Longe da mecanização.

Este é o desafio da escola: ajudar os seus alunos a crescerem numa perspetiva holística, valorizando as diversas competências, incluindo as artísticas (pouco consideradas) e a inteligência emocional. Uma escola que prepare os alunos para os desafios do futuro, os dote de capacidade de reflexão e autocrítica, os leve a questionar o porquê das coisas (e dos próprios conteúdos que abordam nas aulas)… Uma escola onde esteja sempre presente a arte, a emoção a amizade e menos a competição.

Quem quer aceitar este desafio? Eu sei. Conheço muitos que já o aceitaram, ainda que espartilhados  por um sistema que lhes deixa pouca margem de manobra.