Quinze instituições particulares de solidariedade social do concelho de Paredes participaram, esta tarde, numa desfolhada à moda antiga, iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Paredes, através do Programa Movimento Sénior, que decorreu no Parque de Lazer de Recarei.

Num recinto a fazer lembrar as antigas eiras comunitárias, centenas de idosos, ajudados pelos alunos do curso técnico profissional de Turismo da Escola Secundária de Vilela, reviveram uma das mais autênticas e genuínas manifestações culturais que marcou outrora a região.

Seniores reviveram tempos antigos 

Alzira Magalhães, residente em Besteiros, utente no Centro de Bitarães, lembrou que apesar de as  desfolhadas, hoje, terem um carácter lúdico, eram no passado uma tarefa que ocupava muitas pessoas que, como ela, viviam das actividades agrícolas.

“Dediquei grande parte da minha vida a esta actividade. No passado fazia-o por obrigação, hoje, faço-o por entretenimento. É uma forma de passar o tempo e de me divertir”, disse.

Palmira Silva, de 82 anos, residente em Aguiar de Sousa, mostrou-se igualmente satisfeita pela oportunidade de participar e de recordar os tempos em que as desfolhadas eram vividas de forma intensa por toda a comunidade rural.

“Sempre participei nas desfolhadas. Antigamente os agricultores contactavam as pessoas para participar. Era  uma tradição bonita e as pessoas além de fazerem o trabalho manual cantavam”, adiantou.

Rosa dos Santos, 82 anos, residente na Sobreira, utente Associação para o Desenvolvimento Integral na Sobeira, realçou, também, que esta actividade lhe trouxe à memória as desfolhadas do passado.

“Aqui é a primeira vez que participo, mas, quando era mais nova, participei em muitas desfolhadas. Era um dia festivo. Todos trabalhávamos e divertíamo-nos”, avançou.

Virgínia Barbosa, de Rebordosa, manifestou, por seu turno, ser fundamental esta tradição não cair no esquecimento.

“No meu tempo, as desfolhadas envolviam praticamente toda a comunidade. Além do trabalho, havia música, grupos ao despique”, frisou, recordando que as desfolhadas são um património que deve ser preservado e transmitido aos mais novos.

“Claro que os mais novos não sabem como se faz uma desfolhada tradicional, mas é tudo uma questão de querer aprender e eles têm vontade de aprender”, expressou.

Alunos satisfeitos com experiência única

Diana Gonçalves, aluna do curso técnico-profissional de turismo da Secundária de Vilela, reconheceu que é importante preservar os usos e costumes da região.

“Foi uma tarde diferente e uma experiência única. Além do convívio e da diversão aprendemos uma actividade diferente e que ocupou, em tempos, muitas pessoas”, assegurou.

Margarida Pacheco, aluna do mesmo curso, assumiu, também, ter-se divertido e ter tido a oportunidade de estar em contacto com pessoas mais idosas.

“É uma actividade diferente de todas as que habitualmente faço. O contacto com os mais idosos permite-nos aprender novas coisas e partilharmos experiências”, confessou.

Madalena Casaca, do Movimento Sénior, assumiu que a actividade da desfolhada, uma vez mais, superou todas as expectativas.

“Depois das vindimas, chegou a altura da desfolhada a aproveitamos para trazer novamente esta tradição aos idosos que estão institucionalizados e que não têm acesso a este tipo de actividades”, avançou, sublinhando que esta é uma iniciativa que vem acontecendo há alguns anos, tendo contado no ano passado e este ano com o apoio do Centro Social e Paroquial de Recarei.

Ao Verdadeiro Olhar, Madalena Casaca relembrou, também, que esta actividade teve como propósito recriar tradições e fazer os utentes das várias instituições recordarem as desfolhadas tradicionais.

“Na altura faziam esta actividade como forma de trabalho e agora fazem-no de uma forma lúdica e de divertimento. Este ano, tentamos, também, trabalhar com os jovens dos cursos profissionais, promovendo a inter-geracionalidade, isto é reaproximar gerações e de promover as memórias dos mais antigos”, acrescentou.

O padre da paróquia Pedro Sérgio, destacou que as desfolhadas além da dimensão lúdica que, hoje, assumem, trazem à memória um ritual antigo, as noites em que as televisões eram raras, não havia nada para fazer e as pessoas iam de casa em casa, a convite dos vizinhos, às desfolhadas.

O pároco recordou, ainda, que um dos momentos altos das desfolhadas era o aparecimento da espiga rainha, o que dava direito à pessoa que a encontrasse de cumprimentar a sua amada ou iniciar um processo de namoro que, por vezes, levava ao casamento.