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A jovem de Paços de Ferreira, Ana Vitória Alves, venceu o Concurso Lusófono da Trofa 2019, Prémio Matilde Rosa Araújo instituído pela Câmara da Trofa com o conto infantil “O mistério da Meia desaparecida”.

O Prémio Matilde Rosa Araújo é um dos mais afamados no mundo lusófono, conta com países Portugal, Angola, Brasil, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor e tem como objectivos incrementar a criatividade literária, assim como o gosto pela leitura e pela escrita criativa.

É igualmente propósito do concurso fomentar a criatividade literária premiando uma obra inédita de um autor lusófono.

Ana Vitória Alves mostrou-se grata pela oportunidade e pela prémio ganho, recordando que esta foi a primeira vez que participou num concurso literário a este nível.

“Participei neste concurso porque, para além de homenagear umas das maiores escritoras portuguesas de literatura para a infância, é um concurso literário de renome nos vários países de língua oficial portuguesa e, como tal, é uma oportunidade única para os novos escritores (como é o meu caso) poderem ver os seus trabalhos reconhecidos, conseguirem um lugar na rede editorial e terem as suas obras publicadas e vendidas ao público”, disse, salientando que estava serena em relação ao resultado final.

“Como não sabia muito bem como era feita a selecção das obras vencedoras e o que era exigido pelo júri procurei escrever um conto com o qual me identificasse e do qual me orgulhasse! Estou muito contente pelo conto “O mistério da Meia desaparecida” ter sido reconhecido como a obra vencedora!”, acrescentou, sustentando que as observações feitas à obra foram muito positivas e construtivas, tendo o júri valorizado “a riqueza textual e a inteligência criativa no uso da palavra “meia” ao longo de toda a narrativa”.

Falando do “O Mistério da Meia Desaparecida”, o conto infantil vencedor, Ana Vitória Alves revelou que este conto narra a história de uma Meia que, durante uma lavagem mais agitada, perdeu sua meia par.

“Descontente com esta situação, decide investigar o mistério do sumiço da sua meia gémea. A sua perseverança e coragem vai ajudá-la a enfrentar as peripécias e imprevistos que vão surgindo ao longo desta aventura na procura da sua meia mais parecida. Para além de ser um conto infantil engraçado que brinca com as palavras e joga com aliterações e assonâncias é uma história que procura valorizar a tolerância perante a diferença e incentivar a uma maior compreensão e aceitação das especificidades de cada um. Procura, também, transmitir aos mais novos que estas mesmas diferenças não podem ser usadas como forma menosprezo e discriminação só porque esta Meia se afasta da dita norma. É uma história onde o amor e persistência vencem qualquer preconceito”, atestou.

Ao Verdadeiro Olhar, a escritora confessou que sempre foi uma apaixonada pela escrita, pelo género infanto-juvenil atribuindo esta paixão pela leitura à influencia da mãe e dos professores.

“Sempre fui apaixonada pela escrita e, principalmente, pela leitura. Ao longo da minha vida, sempre fui muito estimulada e incentivada, quer por parte da minha mãe quer por parte de vários professores que me acompanharam durante o meu percurso escolar, a escrever, a melhorar a minha escrita, a ler mais e a não desistir de tentar compor os meus próprios contos e narrativas. Foram essas boas influências e a inserção de hábitos diários de leitura que me fizeram querer ser escritora e chegar aos mais novos através das palavras”, sublinhou.

“Escrever para gente mais nova, dá-me mais possibilidades de comunicar as coisas que me parecem mais importantes de uma maneira, aparentemente, mais simples. Criar contextos e personagens que reflictam temáticas e problemas quotidianos permite-me transmitir aos mais novos, valores sociais, éticos e morais”

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Questionada sobre se é expectável que possamos vê-la a aventurar-se noutro género literário que não a literatura infanto-juvenil, a autora confessou que a literatura infanto-juvenil é o género literário que mais a motiva e que mais a preenche enquanto escritora.

“Escrever para gente mais nova, dá-me mais possibilidades de comunicar as coisas que me parecem mais importantes de uma maneira, aparentemente, mais simples. Criar contextos e personagens que reflictam temáticas e problemas quotidianos permite-me transmitir aos mais novos, valores sociais, éticos e morais tão importantes para o desenvolvimento de seres mais tolerantes e pensantes”, concretizou, sustentando que neste momento, tem em fase de ilustração, uma outra obra chamada “A 30000 pés” que deverá ser publicada no próximo ano.

Referindo-se à necessidade de replicar estes concursos literários, no concelho e na região, Ana Vitória Alves confirmou que o incentivo à leitura deve ser uma prioridade de qualquer município.

“O incentivo à criatividade literária e ao gosto pela leitura deveria ser uma prioridade quer no nosso concelho como em qualquer outro do nosso país. A leitura torna-nos mais despertos para temas importantes, torna-nos mais tolerantes, menos preconceituosos, faz-nos reflectir, agir com mais ponderação, estarmos mais conscientes dos problemas que nos rodeiam. Concursos deste âmbito permitem, também, dar voz a novos escritores e novas obras, com tão ou mais talento, do que autores já reconhecidos”, frisou.

Sobre a a literatura infanto-juvenil que se faz em Portugal, a escritora assumiu existir público, embora verifique que exista ainda um défice de muitas crianças que nunca foram estimuladas a ler.

“Existe público, sim! Mas, infelizmente, muitas crianças e jovens nunca foram estimulados a ler mais. A escola tem um papel importante no fomento do gosto pela leitura mas é também em casa que este trabalho deve ser feito. Incentivar os filhos, netos ou sobrinhos a criarem hábitos de leitura vai permitir às crianças desenvolverem a sua imaginação, criatividade, bem como lhes vai permitir o aumento do seu campo vocabular, a aquisição de conhecimentos importantes e desenvolvimento do seu sentido crítico”, afirmou, adiantando que existe, também, um interesse por parte das escolas em fomentar literatura infanto-juvenil e os escritores locais, embora, muitas vezes, os docentes estejam condicionados pela obrigatoriedade do cumprimento dos currículos.

“Penso que há, por parte das escolas, esta preocupação mas muitas vezes, os professores vêem-se restringidos, quer por obrigatoriedade do cumprimento dos currículos quer também pela inacessibilidade a diferentes obras e textos. Penso também que, em Portugal, ainda se dá pouco ênfase a obras de autores portugueses sendo grande maioria das obras analisadas ou incluídas no plano nacional de leitura, traduções de obras estrangeiras. A literatura portuguesa está de boa saúde e recomenda-se e, não tenho dúvidas, que Portugal é um país de talentosos criadores.

Ana Vitória Alves é uma estreante no mundo da escrita e apesar de já ter dois livros escritos e se encontrar a terminar o terceiro ainda não publicou nenhuma obra.