“Bosque dos Avós” assim se designa a iniciativa que tem como finalidade criar um bosque com cerca de 1.000 árvores, num terreno baldio na Serra do Marão, plantadas por avós. Cada árvore vai ser baptizada com o nome de um neto.

A ideia de Claudino Silva, um penafidelense a residir em Amarante, conta também com a colaboração mais próxima de José Neto e Arlindo Alves, dois avós e mentores de um projecto que tem ganhado escala e que conta já com perto de 200 avós da região, de vários pontos do país e até do estrangeiro.

Ao Verdadeiro Olhar, Claudino Silva destacou que a ideia de avançar com o “Bosque dos Avós” surgiu-lhe após ter sido avô, tendo decidido homenagear a neta e, ao mesmo tempo, fazer algo pela floresta. As árvores vão dispor um número e vai ser possível identificá-las graças à colocação de um sistema GPS.

“Idealizei plantar uma árvore, dando o nome da minha neta àquela árvore que seria sintonizada por GPS. Através deste sistema vai ser possível identificar e localizar com precisão o local da árvore ”, disse.

O projecto conta já com o apoio da União de Freguesia da Aboadela, Várzea e Sanche e do director da Associação de Baldios, onde se situa a zona florestal onde vão ser plantadas as 1.000 árvores. Integra quase 200 inscrições de avós não apenas da região como do país e até do estrangeiro, emigrantes portugueses que têm contactado a organização manifestando querer participar.

“Começamos com 15 árvores, mas já temos perto de 200. Trata-se de um projecto que tem vindo a ganhar dimensão e que, além da dimensão ambiental, assume um cariz afectivo na medida em que adensa e reforça os laços afectivos entre avós e netos”, sustentou, avançado que foi contactado recentemente por um avó de Amarante que tem 22 netos e disponibilizou-se a plantar uma árvore por cada um.

Claudino Silva relevou, também, que o projecto potencia a plantação de árvores como o plátano bastardo, o medronheiro, pinheiro manso, a faia e a bétula, contribuindo para a diversidade do ecossistema, sendo estas árvores, por contraponto ao eucalipto, mais resistentes aos fogos.

O fundador do Bosque dos Avós reconheceu, por outro lado, que o objectivo passa, também, agregar contributos de outras instituições como escolas que potenciem o projecto e permitam que possa ser replicado noutros locais, mantendo a filosofia para o qual foi criado.

“Creio que se fosse uma organização maior, uma organização camarária, a promover esta ideia já teríamos no país um por cento dos avós a participar”, adiantou.

José Neto, um dos colaboradores do Bosque dos Avós, responsável pela criação do logótipo do projecto assumiu que a avalanche de pedidos e contactos dos avós tem sido bastante significativa pelo que foi necessário criar uma plataforma online, que além da aceitar as inscrições possibilita ao avó escolher a árvore a plantar.

“Quando me tornei avÔ senti-me pai outra vez”

José Neto esclareceu, também, que a criação da plataforma tem possibilitado que a organização  esteja a dar resposta e a enviar via “sms” informações sobre o local onde vão ser plantadas as 1.000 árvores (no máximo), as características das árvores e facilita a localização de cada mesma.

“Trata-se, no fundo, de uma questão logística. Temos uma área de pouco mais de um hectare. Há um limite estabelecido pelas entidades oficiais que nos estão a apoiar”, sustentou, frisando que após a plantação das árvores outras actividades estão previstas.

“Este é um projecto dinâmico. No futuro, pretendemos continuar a desenvolver outras acções tendo como objectivo a salvaguarda da floresta e do património do Marão”, expressou, afiançando que colaborar com esta iniciativa fê-lo sentir-se novamente pai.

“Quando me tornei avô senti-me pai outra vez. Quando somos pais nem sempre conseguimos ter o tempo que queremos para os nossos filhos. Hoje que sou avô sinto que que tenho esse tempo que não tive quando fui pai”, afiançou, confessando que vivemos numa sociedade assoberbada pela manifesta falta de tempo em que os pais têm cada vez menos tempo para dar aos seus filhos.

Foto: Claudino Silva

“Cada vez mais percebemos que esta ideia pode criar uma dinâmica nacional que tem a ver com a recuperação da floresta, mas, também, com a dinamização de zonas deprimidas, produtos assim como incrementar a gastronomia, o turismo a hotelaria entre outros produtos”

Já Arlindo Alves reconheceu que além da militância social e cultural e a solidariedade que o une a José Claudino Silva e José Neto, este projecto, começou a ganhar dimensão nacional, existindo já uma autarquia da região centro que contactou a organização no sentido de exportar o “Bosque dos Avós” para esse município.

“Cada vez mais percebemos que esta ideia pode criar uma dinâmica nacional que tem a ver com a recuperação da floresta, mas, também, com a dinamização de zonas deprimidas, produtos assim como incrementar a gastronomia, o turismo a hotelaria entre outros produtos”, asseverou, manifestando que a organização não tem nenhum interesse pessoal no projecto.

Contactado pelo Verdadeiro Olhar, Belmiro Guimarães, um dos avós que já se inscreveu no projecto, afirmou que esta é uma ideia ímpar que além da salvaguarda das florestas pretende motivar as populações para a importância de preservar os ecossistemas.

A árvore escolhida por Belmiro Guimarães para plantar foi o medronheiro, árvore autóctone, também, conhecida por resistente aos fogos florestais.

A iniciativa conta com a colaboração do Parque Florestal de Amarante que irá disponibilizar as árvores.

A plantação está agendada para 24 de Março.

Foto: Claudino Silva