Falhamos!

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“ A dependência é uma besta que dá cabo do desejo e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo”- Jorge Palma

Demos connosco, coisa rara, a reler as crónicas que escrevemos desde que a pandemia se instalou entre nós e tomou conta das nossas vidas.

Infelizmente, como já aconteceu noutras situações e apesar de sermos leigos na matéria, bastou estarmos atentos ao fenómeno, ouvir os cientistas das diferentes áreas da medicina e da matemática, consultar sistematicamente três ou quatro links da especialidade e, sobretudo, ignorarmos os novos “opinadores” que, afinal, eram os velhos comentadores de tudo e que já nos tinham enganado vezes demais para podermos dar-lhes sequer o benefício da dúvida. Neste contexto, não nos era difícil ter antecipado, atrevidamente, que pandemia não combinava com economia e que meias medidas nem curavam a doença nem salvavam a economia.

Infelizmente, aqueles que escolheram os meios-termos ignoraram que, mesmo que fossem boas as intenções, estávamos – e estamos- a lidar com o desconhecido. Os resultados estão à vista.

Damos connosco a olhar o início da pandemia e a admirar o “milagre português” injectado pelo presidente da república ou no “otimismo irritante”, analgésico introduzido pelo primeiro-ministro.

Ingénuos. Há muito que sabíamos que o optimismo sem razão nos aproxima da alienação e que, hoje, já não há milagres. Aliás, se Cristo viesse hoje ao mundo, não morreria na cruz para nos salvar, mas antes de espanto ao ver o que fizemos ao planeta onde vivemos.

Mas, mesmo assim, tínhamos de chegar aqui? Tínhamos de fechar as escolas? Tínhamos de encerrar o bastião que mais nos aproxima da utopia da igualdade?

Continuamos a acreditar que, graças a um esforço de organização exemplar, as escolas não foram, não são, focos de propagação do vírus.

Encerram, então, porquê?

Essencialmente, por motivos que escapam ao domínio de quem as dirige e de quem nelas trabalha. Porque originam a circulação de milhões de pessoas e assim aumentam enormemente a possibilidade de contágios e porque fora das escolas o mundo é muito diferente. A começar em casa onde tantas vezes se ignoram as regras sanitárias, passando pelos transportes escolares que continuaram a funcionar como antes e porque “normalizamos” o convívio com o vírus só porque nos disseram que já existia uma vacina. Uma, não. Muitas.

Falhamos, enfim, todos.

Continuamos, erradamente, a acreditar, apesar dos novos tempos e deste novo mundo, que basta dizermos que a nossa liberdade termina onde começa a do outro. Isso era antes.

Hoje, não chega dizer. Hoje urge fazer. E essa ação vai mais longe do que aquilo que nos ensinaram. A nossa liberdade, mais do que terminar onde começa a do outro, só existe se a fizermos com a liberdade do outro.