Vamos a um exercício: Calcule mentalmente 15×2. Fácil, certo? Então, agora calcule, da mesma forma, e em 15 segundos, 87×6. Se não conseguiu não é grave. E conseguiria realizar 70 operações aritméticas em apenas 5 minutos? Pois, é mais complicado. Mas é o que Filipe Campos, de 10 anos, e Francisco Costa, de 6 anos, alunos do Colégio Maria Droste, de Ermesinde, vão fazer sábado, dia 14, durante o 2.º Campeonato Nacional de Cálculo Mental ALOHA, que se realiza no Colégio CLIP, no Porto.

Com eles vão mais três colegas de turma. Todos começaram a praticar o ALOHA, no Colégio Maria Droste, como Actividade Extracurricular apenas em Setembro, mas já alcançaram resultados, pode dizer-se, surpreendentes. Refira-se, de forma muito básica e directa, que o Cálculo Mental ALOHA é um programa de desenvolvimento mental destinado a crianças dos 5 aos 13 anos de idade que tem por objectivo promover o cálculo mental nas crianças através do uso do ábaco, não o decimal a que estamos habituados, mas o ábaco soroban em que cada coluna possui cinco contas, sendo que a primeira conta de cada coluna, localizada na parte superior, representa o número 5 enquanto as quatro contas inferiores representam uma unidade cada. Confuso inicialmente mas encarado como um jogo e não como mais uma tarefa lectiva, as crianças interiorizam as regras e com o ábaco conseguem fazer vários tipos de operações em tempos recordes. Dependendo do nível que frequentam, com este método é possível fazer cálculos complexos de adição, subtracção, multiplicação, divisão e até raiz quadrada. Sempre com o ábaco ou mentalmente.

Filipe Campos e Francisco Costa

“Isto não é nada difícil”

Filipe e Francisco ainda não vão tão longe, até porque ainda estão no nível II e I, respectivamente, mas conseguem fazer várias operações em poucos segundos sem papel ou algoritmos. Assistimos a uma aula com a professora Natacha Fernandes e Filipe Campos, por exemplo, facilmente deu o resultado da multiplicação 87×6. Com o ábaco e a agilidade dos indicadores e polegares, em 12 segundos, chegou ao resultado 522. E no exercício de preparação para o campeonato e demonstração para a reportagem, Filipe conseguiu fazer, acertadamente, 53 operações em cinco minutos. Resultado que não satisfaz Filipe, até porque, diz, consegue fazer mais. Filipe Campos começou a praticar ALOHA há oito meses, tem aulas duas vezes por semana, mas em casa o treino é diário, até porque como trabalho de casa segue semanalmente 120 operações aritméticas. Mas não é encarado como trabalho, mas antes como um jogo, uma diversão. Um jogo no qual os pais de Filipe já “tentaram” participar “mas não conseguem”. Com o aproximar do Campeonato Nacional natural seria o adensar dos nervos, mas Filipe não está preocupado, até porque não será apenas competição. Vai divertir-se. “Não estou nervoso, estou tranquilo. Sei que posso ganhar”, diz, confiante. Francisco Costa também diz não estar nervoso, até porque “isto não é nada difícil”. E demonstrou. Com a ajuda do ábaco rapidamente resolveu uma operação aritmética com adição e subtracção, sem hesitações. De destacar que Francisco frequenta o primeiro ano do 1º ciclo do Ensino Básico. Comparando as contas nas aulas de matemática, nas quais não se utiliza o ábaco soroban, Francisco conclui que com o método ALOHA é mais fácil.

Pedro Gregório e Natacha Fernandes

 ALOHA vai além dos números e permite desenvolver capacidades

Tanto Filipe como Francisco têm na matemática a sua disciplina favorita, mas para ser um “craque” no cálculo mental não é preciso ser bom na matemática e nem sempre isso acontece. Aliás, os professores de ALOHA nem sequer têm formação em Matemática. Conforme explicou ao VERDADEIRO OLHAR Pedro Gregório, director das delegações do Porto e Braga do ALOHA Portugal, os professores/formadores vêm de áreas como a Psicologia, Sociologia e professores do 1º ciclo. Curiosamente, conta, alguns professores de matemática chumbam no teste de ALOHA. O responsável explica que o objectivo do programa “vai muito para além da Matemática”, sublinhando que o importante é “estimular e transferir o palpável em imagem” e a partir daí fazer o cálculo. Com isto, explica, está a ser estimulado o uso do hemisfério direito do cérebro e assim a trabalhar-se a criatividade, a orientação espacial e a memória fotográfica. Por isso, o ALOHA é um método que vai além dos números e permite desenvolver capacidades que fazem com que as crianças sejam não apenas bem-sucedidas na área da matemática, como também noutras matérias, aumentando a sua autoconfiança e espírito crítico. Tendo por base estes objectivos, as aulas não são apenas números e contas. Só 20 minutos são dedicados a esta parte e a matemática é o que tem menos impacto. O resto são jogos e até dança. “Usando a linguagem matemática conseguimos ter o melhor de dois mundos: desenvolver o hemisfério direito do cérebro e todas as competências a ele associadas e o desenvolvimento da matemática”, diz.

A professora de Francisco e Filipe é o exemplo de quem “não era muito boa a matemática” mas que se fascinou pelo ALOHA, a ponto de ter formação na área e agora ser a sua profissão a tempo inteiro, apesar de academicamente ter-se formado em Criminologia. Foi na Universidade Fernando Pessoa que Natacha Fernandes teve conhecimento desta actividade. “Cativou-se a forma como se olha para os números, a capacidade de raciocinar sem memorizar e conseguir aplicar noutras disciplinas”, disse.

Momento motivacional

O campeonato que se realiza no sábado, no Colégio CLIP, no Porto, é, segundo Pedro Gregório, motivacional, dando a oportunidade aos alunos de demonstrar as suas qualidades e proezas. O desafio passa por realizar 70 contas em apenas 5 minutos, podendo apenas utilizar o ábaco ou a sua visualização mental para as efectuarem. “Neste dia, os cerca de 180 alunos inscritos irão ter um dia em grande, com muitos jogos, brincadeiras e também algumas contas”, frisa. Os melhores alunos de ALOHA terão depois a oportunidade de desafiar outros alunos a nível internacional na grande final do Campeonato Internacional ALOHA, que este ano se realizará na Indonésia.

História do ALOHA

O programa ALOHA Mental Arithmetic nasceu na Malásia em 1993, e foi inspirado no método usado na China e em Taiwan há mais de 900 anos e existe hoje em dia em mais de 30 países dos cinco continentes. Actualmente o programa conta com mais de 4 milhões de alunos em todo o mundo. O ALOHA iniciou em Portugal no ano lectivo de 2014/2015 e conta já com mais de 250 alunos, funcionando como uma actividade extracurricular que já se encontra em diversos colégios privados em Portugal, assim como em vários centros de estudos, como se pode constatar no site do ALOHA Portugal: www.alohaportugal.com.