Foi em Novembro de 2002 que a Ambisousa – Empresa Intermunicipal de Tratamento e Gestão de Resíduos Sólidos dos seis concelhos do Vale do Sousa deu início à actividade. Nos dois anos seguintes começaram a ser explorados os aterros sanitários de Penafiel e Lustosa (Lousada), seguindo-se estações de triagem e centrais de valorização energética. Em 2019, a empresa avançou com a recolha selectiva e, actualmente, está em curso aquele que será o maior investimento da Ambisousa, a construção de uma Unidade de Valorização Orgânica de Bio-resíduos recolhidos selectivamente, com um custo total aproximado de 18 milhões de euros. Ficará em Paredes e terá uma capacidade para tratar anualmente 25.000 toneladas de bio-resíduos, gerando biogás.

Nesta entrevista, por escrito, de balanço destes 20 anos de actividade da empresa intermunicipal, Antonino de Sousa, presidente do conselho de administração da Ambisousa (a presidência é rotativa, sendo assumida por um dos autarcas dos seis concelhos), realça que sem este sistema, o Vale do Sousa não poderia ter as tarifas “mais baixas do país” com este padrão de qualidade.

Reitera ainda que “não haverá mais aterros sanitários no Vale do Sousa”, sendo que os actuais aterros já estão na primeira fase de selagem, mas o processo, adverte, “é gradual e pode prolongar-se por mais dois ou três anos”.

“Se não existisse Ambisousa não teríamos certamente a tarifa mais baixa do país”

A Ambisousa completou 20 anos de existência no final do ano passado. Como é que classifica a decisão dos autarcas que decidiram criar esta empresa municipal? Se não existisse a Ambisousa, como seria o panorama de tratamento de resíduos destes seis concelhos actualmente? 

A decisão de criar uma empresa intermunicipal para a gestão dos aterros sanitários de Lustosa e Rio Mau foi uma decisão de grande pertinência e que permitiu que, ao longo destes 20 anos, a gestão daqueles equipamentos fosse efectuada com grande rigor técnico, com grande eficiência e sempre tendo por objectivo o superior interesse das populações dos concelhos do Vale do Sousa.

Ao longo destas duas décadas a empresa evoluiu e cresceu muito e, hoje, para além da gestão dos aterros, assume um conjunto de outras valências como, por exemplo, a recolha selectiva ou a produção de energias renováveis. Se não existisse Ambisousa, não teríamos seguramente os padrões de qualidade no serviço que é prestado e não teríamos certamente a tarifa mais baixa no tratamento de resíduos de todos os sistemas do país!

Sem empresa intermunicipal isso não seria possível? 

Dificilmente uma gestão privada, que tem por objectivo o lucro, poderia assegurar a qualidade de serviço que a Ambisousa disponibiliza sem que o valor das tarifas não fosse o dobro daquele que é praticado.

Que marcos destaca como as principais conquistas da Ambisousa ao longo destes 20 anos? 

Há várias circunstâncias que importa sublinhar. Desde logo o excelente desempenho com que se pautou naquela que era a sua missão inicial: gerir os aterros sanitários de Lustosa e de Rio Mau. Depois a capacidade de evoluir e de entrar noutros domínios, como a produção de biogás e fotovoltaica, assegurando receitas que lhe permitiram manter sempre as tarifas mais baixas do país. E ainda a capacidade de abraçar projectos desafiantes como a Estação de Triagem de Lustosa ou, mais recentemente, a Central de Valorização Orgânica. 

Já foi garantido que os actuais aterros – em Penafiel e Lousada – serão encerrados e não haverá mais “aterros” no Vale do Sousa. Partindo do princípio que esta premissa se mantém, para quando o encerramento dos aterros sanitários de Penafiel e de Lustosa? Há datas concretas definidas? Quando encerrarem, já há projectos para o que vai acontecer com aqueles dois espaços?

Já assumimos em diversas circunstâncias que não haverá mais aterros sanitários no Vale do Sousa. Os actuais aterros estão em fase de selagem, estando a decorrer a primeira fase das obras de selagem em Lustosa e em Rio Mau. O processo de encerramento é gradual e pode prolongar-se por mais dois ou três anos. Quando encerrarem o que se pretende é que seja recuperada a paisagem anterior.

Como serão tratados os resíduos do Vale do Sousa depois desses encerramentos? Isso implicará mais gastos para a população?

Após o encerramento, os resíduos serão tratados através da Central de Valorização Orgânica e de parcerias com outros sistemas, como por exemplo a Lipor. A nossa expectativa é que a receita proveniente da produção de biogás na Central de Valorização Orgânica permita manter as tarifas em valores semelhantes aos actuais.

Com o encerramento dos aterros, as estações de triagem vão manter-se nos mesmos locais (Penafiel e Lustosa) ou haverá alterações?

As estações de triagem irão manter as suas localizações, até porque são equipamentos que não causam qualquer impacto.

Já arrancou a obra da unidade de valorização de resíduos a ser construída em Baltar, Paredes? A conclusão será no prazo previsto?

A Unidade de Valorização Orgânica já está em obra e a expectativa é que fique concluída até ao final do ano.

Já está a ser feito trabalho para mobilizar a recolha de resíduos orgânicos para serem encaminhados para aquela unidade? Acreditam na adesão da população? Serão distribuídos contentores de resíduos verdes/restos orgânicos pelos concelhos? A capacidade instalada prevista chega para servir a população dos seis concelhos do Vale do Sousa ou podem nascer outras unidades destas no futuro? 

Neste momento está a ser executado o plano para a recolha selectiva dos resíduos orgânicos, numa primeira fase junto dos grandes produtores e depois, paulatinamente, para toda a população. Estou certo que se forem criadas condições para a separação e recolha do orgânico as nossas populações irão aderir. É claro que este é um processo complexo e que levará o seu tempo até entrar em velocidade de cruzeiro. A nossa Unidade de tratamento está neste momento preparada para tratar 25000 toneladas/ano, o que se afigura adequado.

Quais os principais projectos/investimentos que se avizinham no futuro da Ambisousa e em que áreas? Está prevista a construção de novos equipamentos, aquisição de novos veículos ou reforço das redes de ecopontos e contentores?

Neste momento, e para os tempos mais próximos, o grande foco da Ambisousa é a conclusão da Central de Valorização Orgânica e a boa execução do plano de recolha e tratamento dos resíduos orgânicos. Não está neste momento previsto em nenhum documento estratégico da Ambisousa a construção de novos equipamentos. O reforço de ecopontos e de contentorização tem sido uma constante e vai continuar a ser, assim como o reforço em veículos de recolha, porque há muita margem de progressão ao nível da recolha selectiva e para isso é necessário que os meios estejam disponíveis e próximos das populações.

A empresa é sustentável? Investe sobretudo com recurso a fundos próprios ou financiamentos/fundos comunitários?

A empresa é sustentável, como bem têm evidenciado os relatórios de prestação de contas anuais, e procura concretizar os seus investimentos, sempre que possível, com recurso a fundos comunitários.

Como vêem a Ambisousa daqui a 20 anos? O que é que a população pode esperar desta empresa intermunicipal?

É muito difícil fazer previsões num domínio que nos últimos anos se tem revelado tão dinâmico, como é o do ambiente. Ainda assim, acredito que a Ambisousa daqui por 20 anos será uma empresa ainda mais robusta, seguramente mantendo a sua marca fundacional e adaptada aos desafios que forem surgindo. A população pode contar com uma empresa que continuará a ter como principal objectivo tratar dos resíduos produzidos na região, de acordo com as melhores práticas ambientais e assegurar sempre, pela boa gestão, tarifas adequadas.

Neste momento é apenas do Vale do Sousa, mas já foi ou pode vir a ser estudada uma possibilidade de alargamento a outros concelhos? Já algum manifestou interesse?

Neste momento, a Ambisousa trata apenas os resíduos dos municípios do Vale do Sousa. A possibilidade de serem integrados outros municípios não foi equacionada e não está na agenda, mas no futuro não sabemos como poderão vir a evoluir os diferentes sistemas.