É uma “guerra” e Portugal e outros países europeus devem juntar-se à França, como aliados, para combater os têxteis asiáticos e turcos. Foi essa a principal mensagem deixada pelos responsáveis da União de Indústrias Têxteis (UIT) francesa, durante uma visita à região do Tâmega e Sousa e a Vila Nova de Famalicão.

Uma comitiva de mais de uma dezena de empresários do sector visitou empresas e contactou com empresários locais à procura de parcerias e de negócios.

Telmo Pinto, primeiro secretário da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa, explicou que, através desta missão inversa, deram a conhecer sete empresas de qualidade e exportadoras. “O nosso grande interesse é criar oportunidades de negócio para criar mais riqueza no nosso território”. No Tâmega e Sousa há cerca de 2.000 empresas do sector têxtil, que representam cerca de 25% da produção de vestuário a nível nacional, referiu.

“Aqui conseguimos mostrar o território, as empresas, o produto e a forma de o produzir”

Avaliar a oferta têxtil do Tâmega e Sousa e a capacidade organizacional, produtiva e exportadora das unidades empresariais, bem como o estabelecimento de contactos comerciais foram os principais objectivos de uma missão empresarial de três dias, co-organizada pela CIM do Tâmega e Sousa, pelo Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa (CETS), pela UIT e pela Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa (CCIFP).

Foram visitadas sete empresas da região, nomeadamente dos concelhos de Amarante, Baião, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira e Penafiel, sendo ainda realizado um encontro de empresários na Quinta da Aveleda, em Penafiel, num complemento às acções que a CIM do Tâmega e Sousa tem desenvolvido junto do mercado francês para promoção dos sectores empresariais estratégicos locais.

“Este encontro decorre de um protocolo que a CIM assinou com a Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa onde ficou claro a possibilidade de conseguir missões empresariais da nossa região em França, como de empresas francesas no nosso território”, explica Telmo Pinto.

As visitas foram realizadas a “boas empresas, com capacidade de exportação e que tivessem a qualidade como base do seu trabalho”. “Isto não é só a possibilidade de as pessoas poderem produzir para a exportação, mas dentro destes empresários há alguns que estão interessados em encontrar aqui oportunidades para investir, para instalar cá empresas ou integrar o capital social de outras empresas”, destacou o primeiro secretário da CIM. “Tendo em conta que o nosso território tem esta força, principalmente na questão do têxtil vestuário, e sendo a França um grande mercado, que também vende para o mundo, podemos ganhar muito com isso”, acredita.

Telmo Pinto adiantou que o que atrai os empresários franceses é a qualidade e não o baixo custo de mão-de-obra. “Eles querem é qualidade e acima de tudo empresas com responsabilidade social, que pugnem pelos direitos dos trabalhadores, não querem ir para outros países do oriente”, sustentou.

Estas missões inversas, que mostram as empresas, têm as suas vantagens, assumiu o responsável da CIM do Tâmega e Sousa. “Aqui conseguimos mostrar o território, as empresas, o produto e a forma de o produzir. As palavras podem ser importantes, mas ver in loco dá outros resultados”, disse, falando também do potencial do território para o turismo industrial.

“Somos cada vez menos concorrentes e cada vez mais complementares”

Yves Dubief, presidente da União de Indústrias Têxteis, e Normand Blanc, vice-presidente da mesma instituição, não esconderam os objectivos que os trouxeram cá. “Os nossos principais concorrentes são as empresas asiáticas e turcas. E para ganhar esta competição temos de estar unidos. Não só com Portugal, mas também com Espanha e outros países europeus”, afirmou Yves Dubief.

O sector está em “guerra” e vieram em busca de aliados. “Fiquei muito impressionado. O nosso objectivo é construir parcerias com as empresas portuguesas para ficarmos mais fortes para combater os concorrentes asiáticos, trabalharmos juntos para termos mais hipóteses de ganhar. Queremos partilhar know-how e tecnologias”, defendeu Normand Blanc.

Isso passa por parcerias na área das vendas e da produção com empresas portuguesas às quais atribuem competências essenciais para ganhar esta luta, como “qualidade, criatividade, reactividade, flexibilidade e inovação” e aposta na tecnologia.

“Somos cada vez menos concorrentes e cada vez mais complementares”, disse o vice-presidente da UIT, instituição que representa mais de 2000 empresas que empregam mais de 60 mil pessoas e com um volume de negócios de 13,5 mil milhões de euros.

Também a responsável de Desenvolvimento e Parcerias da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa, Marie Reis, vê as coisas da mesma perspectiva. “O objectivo é que os dois países não estejam em concorrência, mas apostem na complementaridade e na cooperação entre as diferentes indústrias”.

“Esta deslocação de empresários franceses a Portugal quis permitir, à maioria deles, a descoberta da indústria têxtil do Norte de Portugal. O programa foi denso e os empresários vão voltar para França com uma visão diferente de Portugal e a vê-lo como um parceiro comercial e industrial”, garantiu. Mobiliário e enoturismo podem ser outras vertentes a receber missões deste género, adiantou Marie Reis.

Made in Portugal ainda conta

Num encontro de empresários realizado em Penafiel, havia quem procurasse contactos e negócios.

“Fica-se com contactos, novos conhecimentos. Hoje podem não ser produtivos, mas podem ser no futuro. Contactos nunca são demais”, dizia Joaquim Guimarães da Costa, empresário de Amarante. A Crucineli – Indústria de Confecções produz vestuário feminino de alta costura e já trabalha com o mercado francês, além de ter exportação para a Bélgica, Estados Unidos, Noruega, Suécia, Reino Unido ou Itália. A empresa tem 39 anos e emprega 96 pessoas. Exporta tudo o que produz.

Outra empresa da região que participou foi a Salgado e Neto, de Lousada. “O made in Portugal ainda é uma mais-valia no têxtil. Estamos à procura de novos clientes e o mercado francês é interessante. Aqui eles já vêm demonstrar o interesse o que mostra que a porta está aberta”, afirmou Sónia Magalhães. A empresa produz vestuário para homem, senhora e criança, 100% para exportação para os mercados espanhol, francês e alemão, entre outros. No total, empresa 520 pessoas em três áreas de produção distintas.