O Bispo do Porto, D. Manuel Linda  esteve, esta sexta-feira, em Penafiel, no arranque da Visita Pastoral à Vigararia de Castelo de Paiva – Penafiel, que decorrerá entre Janeiro e termina no dia 4 de Junho de 2020, com uma celebração festiva.

Serão visitadas 27 das 42 paróquias que constituem a Vigararia de Castelo de Paiva-Penafiel. As restantes já foram alvo de visita por parte do Bispo da Diocese do Porto em 2017, pelo que não integram o lote de paróquias alvo desta visita pastoral.

Na conferência de imprensa, que decorreu no Santuário do Sameiro, e que oficializou o arranque da visita pastoral, o Bispo da Diocese do Porto, que se fez acompanhar pelo Padre Filipe Silva, Vigário de Castelo de Paiva – Penafiel e D. Armando Esteves Domingues, bispo auxiliar da Diocese do Porto, destacou que esta iniciativa tem como  objectivo ouvir os membros da pastoral e fortalecer o diálogo entre os vários agentes e actores da sociedade civil.

“A Igreja diz que de cinco em cinco anos deveríamos visitar cada uma das paróquias da diocese. Mesmo que a lei da Igreja não nos obrigasse a fazê-lo, hoje um bispo que esteja no seu gabinete e, muitas vezes tem de estar, a lidar com papéis, a responder a correspondência, mesmo com os meios electrónicos que são conhecidos, não pode perder o contracto directo com as pessoas porque senão torna-se um burocrata. Para a minha sensibilidade em concreto, o mais difícil é lidar com os papéis, o mais fácil e mais agradável é lidar com as pessoas olhos nos olhos”, disse, sustentando que esta preocupação é igualmente partilhada pelos  demais bispos auxiliares da diocese.

“Vale muito o facto dos colaboradores que me acompanham, os bispos auxiliares, todos terem sido párocos, menos um, o senhor D. Pio, mas que esteve sempre presente no mundo concreto porque foi professor, vice-reitor da Universidade Católica, director da Faculdade de Teologia, trabalhou sem sectores tão diversos como o mundo da enfermagem, foi formador de enfermeiros, trabalhou com a juventude e todos nós temos um contacto muito forte com a realidade. O senhor D. Armando, o D. Vitorino Soares e eu fomos párocos e isso leva-nos a gostar de estar com as pessoas, não a refugiarmos-nos no nosso gabinete”, concretizou.

Além do contacto com as estruturas, agentes e actores que integram a pastoral,  o Bispo do Porto confirmou que esta iniciativa tem, também, como finalidade contactar com as estruturas que integram o tecido da sociedade , as escolas, hospitais, a indústria, o comércio, o mundo desportivo, as estruturas culturais, etc.

“Não iremos dar orientações a ninguém, mas dizer aos intervenientes destes grupos para que continuem a fazer o seu trabalho porque precisamos deles. Tudo isto faz parte do tecido da sociedade. A Igreja não vê o mundo a preto e branco. Queremos com estas visitas dialogar com os agentes pastorais, com os senhores padres, permutar experiências, e transferi-las para outras paróquias. Queremos levar uma palavra de ânimo aos senhores padres, aos leigos que colaboram, aos catequistas, aos 93 mil catequistas que existem em Portugal que disponibilizam muito do seu tempo, fazem formação, inicial, contínua, especifica, fazem tudo isto com muito trabalho. Se tivéssemos que pagar um salário a todos estes catequistas, o Orçamento de Estado ia à falência. Fazem isto a título gratuito e são dignos de uma palavra de estímulo”, asseverou.

O Bispo da Diocese do Porto, na sua intervenção, não esqueceu a forte ligação entre a criação da cidade de Penafiel, que completa este ano 250.º aniversário, e a Igreja, recordando que Penafiel chegou a ser sede de diocese, ainda que de vida efémera.

“Por coincidência esta é também uma forma de assinalarmos os 250 anos de elevação de Penafiel a cidade que é hoje uma urbe em franco desenvolvimento. Quem viu a cidade há 40 anos, era apenas este núcleo central, hoje vê uma cidade desenvolvida, fortemente comercial, com uma indústria pujante. A cidade nasceu ligada à Igreja, teve uma diocese que foi efémera, mas há esta relação umbilical que a história não pode apagar”, confirmou.

“Há hoje um renascer da espiritualidade. Esta espiritualidade, porém, não é aquela que nós tradicionalmente mediamos pela participação da missa dominical”

D. Manuel Linda assumiu que apesar da globalização há hoje um renascer da espiritualidade.

“Há hoje um renascer da espiritualidade. Esta espiritualidade, porém, não é aquela que nós tradicionalmente mediamos pela participação da missa dominical. Não obstante e de uma maneira geral, a Diocese do Porto e de Braga devem ser aquelas que a nível nacional apresentam o maior índice de prática dominical, mas este não é o único índice para medirmos a espiritualidade. Há de facto na juventude, nos casais, nas famílias um renascer desta dimensão religiosa. Claro que neste tempo de globalização o que vem mais ao de cima não são as atitudes religiosas tradicionais, o que vem ao de cima é, às vezes, a crítica, o afastamento, um filósofo, um intelectual que escreve um artigo ou tem uma atitude que põe em causa a fé e a religião. De uma maneira geral, a Diocese do Porto é uma zona altamente religiosa e isso manifesta-se nas peregrinações, na maneira como se vive os grandes acontecimentos da vida e posso afirmar que temos poucas crianças que não sejam baptizadas, haverá muitos poucos funerais que não sejam religiosos. Quer nas alturas solenes da vida, quer no sentido de uma piedade dita popular das peregrinações, das procissões, nota-se de facto, um forte sentimento religioso”, acrescentou.

Questionado sobre os problemas e os desafios que enfrentam hoje a Vigararia de Castelo de Paiva-Penafiel e as demais que integram a Diocese do Porto, D. Manuel Linda reconheceu que com a globalização os problemas não são assim tão diversos, com excepção da realidade do Porto e da cidade de Gaia.

“Nestas duas cidades, as pessoas não têm tanto a noção das fronteiras das paróquias. É outra realidade. Há grande oferta de celebrações religiosas. À excepção destas duas cidades, a realidade das paróquias da diocese é mais ou menos semelhante. Ainda não estou em condições de fazer uma proposta de reformulação da vida paroquial à base das tais unidades paroquiais de que falou o D. Armando. Curiosamente em Braga, onde fui arcebispo auxiliar de Braga, durante quase cinco anos, o Arcebispo pediu-me para fazer um trabalho nessa linha e fiz um trabalho que me parece ter sido válido. Aí conhecia minimamente a realidade de Braga. Aqui no Porto ainda não tenho essa pretensão. O Porto é uma diocese muito maior, a maior diocese de Portugal, uma das maiores da Europa, com estes colaboradores que são os senhores bispos e quando tiver mais conhecimento da realidade faremos propostas”, manifestou.

Fazendo um balanço do seu percurso à frente da Diocese do Porto, o responsável pela Diocese do Porto reconheceu que esta tem sido uma experiência única, uma oportunidade para descobrir imensas possibilidades e resolver problemas.

O Padre Filipe Silva, Vigário de Castelo de Paiva – Penafiel referiu que o Bispo é o pastor de cada comunidade, servindo esta visita para actualizar essa proximidade da comunhão, conhecer a realidade e renovar as energias da pastoral.

“Só assim poderemos viver em Igreja, para o reconhecimento mútuo, para o reforço dois laços, renovar as energias na pastoral, e convocar todos para caminhos novos. Estamos sempre em conversão e renovação”, atalhou, sustentando que no âmbito da visita pastoral haverá encontros vicariais com os diferentes servidores da igreja, com os jovens, casais, catequistas, encontros com grupos paroquiais.

O Padre Filipe Silva esclareceu, também, que esta visita tem como finalidade reforçar a pastoral quer interparoquial criando relações entre paroquias e aprofundar a relação vicarial.

“Uma paróquia não esgota a Igreja, temos de ser membros de uma diocese”, revelou, realçando que a Igreja não tem fronteiras.

D. Armando Esteves Domingues, bispo auxiliar da Diocese do Porto, esclareceu que esta visita foi preparada há largos meses, faz parte de um percurso pastoral, que pretende ouvir os membros da Igreja, mobilizar forças e não deixar ninguém para trás.

Recordando declarações do Papa Francisco sobre as paróquias, o bispo auxiliar do Porto defendeu que urge rebaptizou a paróquia, que esta não é uma estrutura em fim de estação, sendo a paróquia, uma célula da igreja em saída, uma comunidade sinodal, em que esta está atenta aos desafios do mundo, não perdendo a sua identidade.

“Em cada paróquia, em cada cidade, em vila ou aldeia, à gente que trata outros com invulgar humanidade e que merecem ser recordados. Esta visita pastoral pretende estimular o que haja melhor em cada lugar ou pessoa mesmo que não sejam lugares católicos”, avançou.

A apresentação da Visita Pastoral à Vigararia de Castelo de Paiva – Penafiel, contou, também, com a presença do Padre Paulo Jorge, pároco de Penafiel.