O presidente do Conselho Nacional de Educação defendeu, durante um seminário organizado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco de Penafiel, que é preciso construir uma educação de infância “capacitadora” e transpor o actual sistema de ensino para um que seja “verdadeiramente inclusivo”, eliminando o estigma da “selectividade”.

David Justino lembrou que o país tem cada vez menos crianças e que o actual sistema de ensino foi preparado para uma sociedade em expansão demográfica, precisando de ser ajustado.

“A segmentação entre jardim-de-infância e creche tem que ser revista e o período dos 0 aos 6 anos considerado como um período único”, sustentou o ex-ministro da Educação. “O problema está em saber como capacitar estas crianças para desenvolverem as suas competências, aptidões e sensibilidade para que possam ter uma escolaridade com sucesso. Parte dos problemas encontrados nos primeiros anos de escolaridade advém de uma falta de estimulação nestes primeiros anos”, argumentou o sociólogo.

Para isso, é preciso introduzir o conceito de “educação de infância”, num processo que seja mais que o actual somatório de várias coisas. “Quanto mais educarmos e capacitarmos as crianças melhor será o futuro do país”, frisou David Justino, perante os presentes no auditório do Museu Municipal de Penafiel.

David JustinoSobre a organização do sistema de ensino em torno da escolaridade obrigatória, o presidente do Conselho Nacional da Educação defendeu que não basta estabelecer metas de escolarização, dando como exemplo a taxa de reprovação de 12% que existe no segundo ano do 1.º ciclo. “Estamos a falar de crianças que chegam à escola com processos de desenvolvimento diferenciados às quais se aplica a mesma receita. É preciso encontrar respostas diferentes para problemas diferentes. E perceber que podemos partir de pontos diferentes e com velocidades diferentes mas chegar todos ao mesmo tempo”, disse.

Sobretudo é preciso perceber que uma retenção, normalmente, “não serve para nada”, além de provocar uma nova no futuro, afirmou o ex-ministro, falando da elevada taxa de alunos que têm pelo menos uma retenção antes dos 15 anos. E mais que procurar culpados, é preciso aumentar os apoios a estas crianças e jovens. “Em vez de andarmos a resolver problemas, andamos a procurar culpados. O que é preciso é encontrar soluções”, apelou, acrescentando que a resolução de problemas do sistema educativo é constantemente adiada pelos políticos com a desculpa da falta de consensos.

“É preciso conceber uma educação de infância que seja capacitadora e eliminar a partir do 1.º ano o estigma da selectividade”, resumiu David Justino.

David Justino