Nascida e criada em Ermesinde, Catarina Mesquita Gonçalves nunca tinha sequer pensado em ser bombeira. Até que, num dia igual, aos outros deparou-se com uma ambulância parada à porta dos pais com a mensagem “Torna-te bombeira voluntária”. Pensou “porque não?” e foi ao quartel inscrever-se.

Fez parte da primeira recruta feminina dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde, em 2010, e foi promovida a bombeira de 3.ª. “Foi uma grande mudança interna. Esta casa era só frequentada por homens”, explica. Mudança maior aconteceu recentemente, quando, com a criação do Quadro de Oficiais na corporação, Catarina foi promovida a Estagiária a Oficial Bombeiro no Quadro Activo. Antes, já ia dando apoio ao comando em algumas tarefas de âmbito operacional. “Há muita coisa que é preciso fazer fora ir ao terreno”, descreve.

Vai agora fazer o curso de comando na Escola Nacional de Bombeiros. “Podia ter escolhido o caminho mais curto, mas preferi fazer o curso porque é uma função de muita responsabilidade. Quando me perguntam se estou preparada costumo dizer que estou preparada para me preparar. E há muita gente no quartel com muita experiência com quem tem muito a aprender”, garante.

Actualmente, há 99 bombeiros no quadro activo, 22 são mulheres. E há muitas meninas na escola de infantes e cadetes. “As mudanças custam a todos. Foi um caminho percorrido e agora temos um papel significativo. As mulheres fazem todo o serviço, desde estagiárias a oficiais. Esta promoção é mais uma dessas etapas”, sustenta.

Ainda assim, afirma, “há muita mudança de mentalidade por fazer”.

“Costumo dizer que quando queremos alguma coisa arranjamos forma, quando não queremos arranjamos desculpas”

Se o voluntariado aconteceu por acaso, a profissão – é Assistente Social – veio pelo desejo de trabalhar com pessoas. “Queria fazer a diferença na vida das pessoas mesmo que fosse pequena. Esforço-me por isso todos os dias”, explica a jovem.

Catarina Mesquita Gonçalves tem hoje 29 anos. É casada com um bombeiro e tem uma filha de quatro anos. “Temos vindo a apoiar a carreira um do outro e partilhamos a paixão pelos bombeiros”, conta.

Assume-se como mulher, mãe, dona de casa, profissional, bombeira, bloguer… “Já não me sento no sofá há muito tempo”, brinca. Mas garante que há espaço para tudo. “Costumo dizer que quando queremos alguma coisa arranjamos forma, quando não queremos arranjamos desculpas”, refere. “Durmo pouco, mas tento ter prazer no que faço. O meu trabalho, o voluntariado, o meu blogue têm que me deixar feliz”, conclui a bombeira que gere um blog sobre maternidade, o My Dream Baby, e todos os anos organiza um evento chamado “Mãe de Sapatilhas”, sobre alimentação e exercício físico.

A filha, garante, quase não sente a sua ausência, mesmo quando faz piquete nocturno. “Uma mãe mais feliz é uma mãe mais realizada e com mais paciência”, acredita. “Passo-lhe a noção de voluntariado e explico que a mãe dela também é dos outros. Ela sabe que a mãe é feliz aqui e vê os bombeiros como uma instituição positiva”, acrescenta Catarina Mesquita Gonçalves.

Apesar das novas funções continua a sair frequentemente em ocorrências. É ainda formadora dentro e fora dos bombeiros.