Mais de um terço das crianças do Grande Porto apresentam níveis deficitários de iodo, um nutriente essencial para o desenvolvimento cognitivo. Esta é a conclusão de um estudo levado a cabo por uma equipa do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Os resultados revelados esta semana concluem que 29 por cento dos rapazes e 34 por cento das meninas do Norte de Portugal apresentam níveis deficitários de iodo, um nutriente essencial para o desenvolvimento cognitivo. No Grande Porto a situação é ainda mais crítica, apontam, revelando que aqui são 37 por cento a quantidade de crianças afetadas.

Em Valongo e Paredes foram avaliadas 219 crianças

O Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto avaliou 2018 crianças dos 6 aos 12 anos de idade, num trabalho de campo que se prolongou por seis meses. Neste trabalho estiveram incluídas também escolas dos concelhos de Valongo e Paredes. Segundo o  investigador André Rosário, membro da equipa de investigação, no concelho de Valongo foram avaliadas 105 crianças (61 do sexo masculino e 44 do sexo feminino), concluindo-se que 30,5 por cento das crianças avaliadas “apresentava níveis de iodo urinário indicadores de aporte insuficiente”. A percentagem desce ligeiramente nas crianças avaliadas no concelho de Paredes. Aqui foram avaliadas 114 crianças (59 do sexo masculino e 55 do sexo feminino), “verificando-se que 21,1% das crianças avaliadas apresentava níveis de iodo urinário indicadores de aporte insuficiente”.

Em vésperas de arrancar o ano lectivo, a equipa de investigadores liderada por Conceição Calhau revela que “as escolas ignoraram a indicação dada pela Direcção-Geral da Educação, num documento de 2013 (Circular n.º 3/DSEEAS/DGE/2013), que define claramente a utilização de sal iodado na preparação das refeições escolares”. Das 83 instituições de Ensino das áreas do Grande Porto, Tâmega e Entre Douro e Vouga monitorizadas pela equipa de investigação do CINTESIS, nenhuma estava a usar sal com iodo no momento da avaliação, apontam.

Falta de iodo na alimentação pode comprometer o Coeficiente de Inteligência

“A falta de iodo na alimentação pode comprometer o Coeficiente de Inteligência em 15 pontos”, alerta a especialista, apelando à adoção imediata de “políticas de intervenção e, necessariamente, de monitorização” que assegurem o cumprimento da indicação da DGE em todas as escolas do país. O estudo revela ainda o desconhecimento da maioria das famílias sobre o sal iodado e à necessidade de usarem sal suplementado com iodo na alimentação dos filhos. Para resolver o problema da carência de iodo nas crianças portuguesas, Conceição Calhau defende uma medida de grande impacto e baixo custo: “a criação de uma lei que obrigue à iodização universal de todo o sal para consumo humano, de forma a que, com baixo consumo de sal, se consiga o aporte necessário de iodo”. Presente em alimentos como a cavala, o mexilhão, o bacalhau, o salmão, a pescada ou o camarão, mas também no leite e nos ovos, o iodo é um microelemento essencial à síntese das hormonas da tiroide e ao pleno desenvolvimento neurológico.