Cláudio Roque é de Valongo, tem 35 anos, e sagrou-se campeão nacional ao conseguir puxar um camião com 22 toneladas, ao longo de 20 metros, em cerca de 19 segundos.

O ‘Duelo de Titãs – Pull Truck 2021’ aconteceu em Junho, mas o atleta já se prepara para alcançar outros feitos, nomeadamente, subir ao pódio do maior evento de ‘Viking Press’ de Portugal, que se realiza este fim-de-semana, em Matosinhos. Apesar das conquistas alcançadas, não deixa de lamentar a “falta de apoios” que os atletas de força têm em Portugal.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, Cláudio Roque contou como se iniciou nesta aventura da força e, mais concretamente, de puxar camiões. Curiosamente, começou há pouco tempo e, diga-se, também não era grande aficcionado de ginásios, espaços que frequentava uma vez por semana.

Cláudio Roque com André Leão, treinador

“Ia para o ginásio, mas não era algo que gostasse muito”, porque “não tinha uma meta ou um objectivo”, o que se tornava “maçador”.

Recentemente, e “por brincadeira”, o treinador André Leão, também dirigente do Clube Cultura Física de Atletas de Força, com sede em Matosinhos, e do qual Cláudio Roque faz parte, conseguiu convencê-lo a empenhar-se na modalidade e, desde essa altura, “tornou-se um vício” e nunca mais parou.

Talvez o confinamento e a “pandemia” também tenham dado uma ajuda, porque não se sentia bem fechado em casa e o facto de ter objectivos a alcançar ajudaram-no a “passar os dias menos bons e a ter uma meta”.

E foi assim que começou a “partir ferro”, como gosta de designar, porque a preparação física para este tipo de competições é “muito dura”. As tradicionais passadeiras ou bicicletas não fazem parte dos espaços onde se prepara fisicamente. Razão pela qual, refere, o trabalho “é exigente e rigoroso”.

E a verdade é que esta brincadeira tem-lhe vindo a trazer vários títulos e distinções. É vice-campeão nacional, na categoria 125 quilos, e, este ano, na competição ‘O Mais Forte De Portugal – Professional Strongman 2021’, bateu o record nacional de Viking Press, em repetições com 175 quilos.

Se tivesse começado mais cedo na modalidade, de certeza que teria alcançado muitos mais feitos, mas, e porque “mais vale tarde que nunca”, Cláudio Roque diz-se cada vez mais motivado, continuando a preparar-se para todo o tipo de provas com camiões e até tractores. “Com tudo aquilo que implique o uso da força”, explicou.

O atleta treina diariamente e, como trabalha por turnos, consegue “ter mais disponibilidade” para aquilo que considera actualmente uma das suas “paixões”, explicou.

Para além do treino no “ferro”, revela que toda esta actividade física exige muitos cuidados com a alimentação. Ao Verdadeiro Olhar explicou que tem que fazer “oito refeições por dia, seis sólidas e duas líquidas”. Alimentos que pesados representam “quatro quilos diários de comida” e até exemplifica que, e por exemplo ao almoço, tem que ingerir “cerca de meio quilo de carne”. Não é fácil, porque um plano alimentar como este “é muito dispendioso”.

“Só em alimentação e suplementação gasto cerca de 500 euros por mês”

Só em “alimentação e suplementação” gasta cerca de “500 euros por mês”, mas o amor que tem ao que faz, faz com que nunca desista e que consiga “ultrapassar todos os obstáculos”.

Cláudio Roque é um homem motivado para a força, mas não está sozinho nesta luta. O seu treinador, que é também “um grande amigo”, ajuda-o a “insistir e a persistir”, fazendo com que, diariamente, se supere e que queira “sempre mais e melhor”, confessou.

“A modalidade deveria ter mais apoio. Mas vêem-nos como malucos,que andam a puxar camiões”

Cláudio Roque lamenta, no entanto, que “as autarquias, assim como as empresas, não apoiem a modalidade. Só “há interesse pelo futebol”, quando a força “é um dos desportos mais antigos do mundo”. “É uma actividade ancestral que vem do tempo dos vikings”, diz.

“Não temos apoios nem patrocínios”, por isso, lamenta que, e no caso do treinador do Clube Cultura Física de Atletas de Força, “quase tenha que tirar em casa para pôr no clube”.

É que por detrás de cada prova ou campeonato, há um “conjunto de despesas, que só com muito esforço pessoal, se conseguem ultrapassar”, disse.

Por isso, “devíamos ter ajudas” e não ser vistos como “os malucos que andam a puxar camiões”, reforçou.

Mas, e enquanto esse dia não chega, Cláudio Roque continua a sua motivação e dedicação à força e sonha continuar a superar-se e, um dia, acredita que vai conseguir “participar em provas no estrangeiro”.