Muito se pode dizer sobre Sérgio de Brito, mas, para começar, que é de Astromil, Paredes, que venceu a bolsa para novos criadores em Teatro da Fundação Calouste Gulbenkian e que se prepara para estrear, no dia 12 de Maio, em Lisboa, a peça “Age of Aquarius”.

Traduzido “a idade do aquário”, é uma representação que pretende “dar uma bofetada a pessoas que vivem da imagem” e que são vistas pelos outros como “perfeitas”.

O verdadeiro Olhar ‘apanhou’ Sérgio de Brito à saída de um ensaio, porque o tempo corre e, dentro de poucos dias, estreia este seu trabalho que passa muitas mensagens. Vejamos, a história centra-se em dois apresentadores de televisão que se detestam, mas que têm que dividir o palco televisivo. E é nesse lugar que “são postos à prova” ao fazerem um conjunto de conteúdos, sob a égide uma “uma ditadura de informação”, como explicou o actor. Eles trabalham, mas estão tão alienados do mundo lá fora que não se apercebem das sirenes que guerra. Sons que vão ecoar pelo Teatro Praga, situado na Rua das Gaivotas, onde a “Age of Aquarius” vai estar em cena nos dias 12, 13 e 14. É assim, a era da actual televisão, “que está em decadência”, porque o que está por detrás “é pura manipulação, é tudo falso”, denuncia o actor.

Sérgio de Brito lamenta que Paredes não tenha um espaço para receber um espectáculo de grande dimensão técnica

As pessoas sonham em viver dentro da caixa mágica, porque têm um ideal que se traduz apenas por “aparecer”, porque vivemos numa sociedade instantânea”, refere Sérgio de Brito que sonha, um dia, “trabalhar em Paredes”. E a propósito faz um parêntesis lamentando que na sua terra “não tenha condições para receber um espectáculo de grande dimensão técnica”. Tem a Casa da Cultura, mas o espaço carece de uma estrutura que o torne capaz para ter produções mais grandiosas.

Estas e outras razões, levaram o paredense a transpor as suas fronteiras e a tentar a sua sorte noutros lugares, como fez questão de recordar. E ao conseguir a bolsa, criou este espectáculo. Foi assim que Sérgio de Brito viajou para outros palcos para conseguir concretizar o seu sonho, mas, um dia, gostava de trabalhar em Paredes, quem sabe “estar ligado a um espaço cultural”, de forma a desenvolver “o teatro, a música e a dança”. Aliás, refere, essa promoção deveria ser função dos executivos municipais, porque “só assim se conseguem educar as populações”. E como exemplos de cidades dinâmicas do ponto de vista cultural, aponta “Aveiro, Póvoa de Varzim ou Vila do Conde” que esgotam as suas salas em todos os cartazes.

A cultura está a “sofrer muitas transformações”, e ainda bem que assim é, porque, um dia, “quando as pessoas descobrirem que dá dinheiro, todas vão querem investir em nós”, vaticina o actor.

Ma se enquanto esse dia não chega, Sérgio de Brito faz do ‘Age of Aquarius’, um megafone, quem sabe para ser ouvido pelas sociedades mais adormecidas. E este “espectáculo portátil” consegue fazer “rir, chorar e pensar”, no mundo do tik tok e do twiter, onde a “informação dura segundos e se dispersa”, descreveu ao Verdadeiro Olhar. Até porque, o que estes dois apresentadores de televisão vão fazer, nada mais é do que o reflexo da nossa “sociedade instantânea”, onde se luta pela fama.

Fama essa que em nada toca o sonho de Sérgio de Brito que, refira-se, virou as costas a um possível estrelato. Do seu currículo constam vários trabalhos que fez para televisão, onde poderia ter obtido essa visibilidade. O licenciado em Ciências da Comunicação e da Cultura, pela Universidade Universidade Lusófona do Porto, passou pelo grupo Cofina, também trabalhou em produção e pesquisa de conteúdos com a empresa Fremantle Media.

Mas o seu sonho falou mais alto, por isso, frequentou o curso de teatro ‘Ramo Atores’, na Escola Superior de Teatro e Cinema. Em Setembro de 2019, começou a trabalhar como assistente de produção e figurinos da Companhia Olga Roriz, onde acompanhou a criação e a digressão do espetáculo ‘Autópsia’ e esteve no processo de criação do ‘Seis Meses Depois’.

Dos projetos em que participou como actor, podemos destacar ‘Eu não sou daqui’, do encenador brasileiro João Fábio Cabral, as performances ‘Casa Coração’. Também participou em ‘Atlas’, de Ana Borralho e João Galante, no Teatro São Luíz, e ‘A Paixão, de Romeo Castellucci’, no Centro Cultural de Belém, 2019). Gravou para a RTP2 ‘Dolls’, peça de teatro para televisão, e fez parte do elenco de ‘Fora de Campo’, da companhia SillySeason.

Recentemente, participou do laboratório de criação do artista e dramaturgo espanhol José Manuel Mora e fez a produção do espetáculo ‘revista cor-de-rosa’, encontrando-se a colaborar com Joana Cotrim no projeto ‘Menino Júlio’, com estreia marcada para Setembro de 2022.

Além de actor, é também astrólogo e tarólogo. Faz mapas astrais e lê tarot e tem uma página na internet dedicada ao assunto denominada ‘O Planeta Sérgio’

Quase não foi preciso questionar Sérgio de Brito sobre o seu trabalho ou o seu percurso, porque as palavras saem-lhe com paixão. Mas o seu trabalho não passa apenas pela representação ou apresentação de realidades. Aos 32 anos, tem muitos outros talentos. Autodenomina-se astrólogo e tarólogo. Foi durante a pandemia que o interesse por este lado esotérico do mundo que o rodeia se revelou. Estudou sobre estas matérias e, hoje, faz mapas astrais, lê tarot, mas com um cariz “mais pragmático e menos fatalista”, explicou. Porque “as cartas são o espelho do que se vive no momento”, referiu. E quem quiser conhecer este seu outro talento, basta pesquisar a página ‘Planeta Sérgio, o universo dos signos começa aqui’. Também tem um canal de youtube e é responsável semanal pelas previsões dos signos no site ‘Lifestyle Sapo’.

Sérgio de Brito é mesmo um homem de muitos talentos e encantamentos. A curto prazo, quer tirar um mestrado em arte cénica. E como gostava de ser programador, como várias vezes referiu, de um espaço cultural, quem sabe se não poderia “criar público” na sua terra natal. Talvez Paredes lhe abra essa porta. Mas, para já, Sérgio de Brito vai continuar a agitar mentes e a ‘dar bofetadas’ a todas as pessoas que o assistem da plateia de um qualquer teatro.