Já aqui escrevi uma vez que um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento mostrava, entre outras coisas, que a maioria dos inquiridos aceitaria um governo autoritário que apresentasse solução para os actuais problemas económicos.

Na altura, a pesquisa revelava que 55% dos entrevistados preferia um governo autoritário a um democrático, desde que resolvesse os problemas económicos. Importa aqui referir que esta novidade não é assim tão nova, pois resultados idênticos foram obtidos noutros estudos recentes em países europeus e desenvolvidos.

Tendo em conta o estado a que chegou a democracia portuguesa, acredito que se o mesmo estudo fosse realizado no nosso país, o resultado seria bem mais grave. Nos últimos anos temos assistido a um PS e um PSD delimitados por um interdito político absoluto: evitar a impopularidade. Faz-se qualquer concessão e evita-se qualquer decisão que possa provocar impopularidade. Inversamente, são capazes de aprovar qualquer medida, mesmo que se revele prejudicial no médio prazo, desde que ajude a fazer votos na próxima eleição.

A agravar esta forma disparatada de fazer política, temos assistido a uma série de episódios que envergonhariam qualquer pessoa que os cometesse, desde que não fossem políticos. Deputados que, para receberem 80 euros de subsídio de deslocação, inventam presenças na Assembleia da República, mesmo estando a 600 quilómetros de distância; deputados das ilhas que recebem um subsídio para irem às suas terras todas as semanas, mas que ficam com o dinheiro e não põem lá os pés há meses; deputados que gastam três milhões de euros em viagens, sem que a Assembleia da República consiga saber onde foram e o que foram fazer; deputados que mentem no seu curriculum vitae; etc.

Há uns tempos, numa entrevista, Otelo Saraiva de Carvalho afirmou que Portugal precisa “de um homem com inteligência e a honestidade como Salazar” para resolver a crise que atravessa. Foram declarações graves, principalmente vindas de quem dirigiu uma revolução contra a ditadura. Mas o que é certo é que estas palavras reflectem aquilo que muitos portugueses vão dizendo “à boca pequena”.

Parece-me que o problema não está na democracia como forma de governo. O povo valoriza, deseja-a e pratica-a da melhor forma que sabe e pode. O problema está na fraca qualidade dos deputados que elegemos. Um dia a factura vai sair cara!