Numa altura em que se prega e se defende a implementação de novas soluções de mobilidade, assim como uma aposta forte na rede de transportes públicos, se apregoa que o futuro sustentável das cidades passa pelo investimento nos modos suaves, como a deslocação pedonal, deslocação através da bicicleta, trotinete e outros, se opina sobre a necessidade do reforço imediato do transporte público no que concerne o conforto, a frequência e o preço, para assim demover as pessoas de usar o automóvel ou o motociclo, eis que o Presidente da Câmara do Porto anuncia que vai limitar o acesso das linhas de transporte público ao centro da cidade.

Este anúncio espantou e chocou os autarcas vizinhos pois contraria tudo aquilo que a AMP (Área Metropolitana do Porto) defende e incentiva, e contraria tudo aquilo que é prática em cidades europeias que são visitadas por milhares de turistas tal como acontece atualmente na Invicta.

Rui Moreira afirma que o fará só por dois anos e que o motivo são as obras do Bolhão e as obras de requalificação viária em duas ou três ruas centrais. Sabemos no entanto que soluções aparentemente provisórias rapidamente se tornam definitivas.

A história devia servir para não repetirmos erros. Se bem se lembram, o Porto foi todo esventrado aquando da Porto 2001- Capital da Cultura, e apesar de ter-se revelado um péssimo exemplo de gestão urbanística, nem aí optaram por tirar os transportes públicos do centro da cidade. Nessa altura, quem tentava entrar de carro na cidade do Porto, pensava duas vezes e por iniciativa própria optava pelos transportes públicos para o poder fazer de forma rápida. Se o centro do Porto vai entrar em obras, então apostemos numa boa rede de transportes públicos à superfície para evitar que as pessoas usem o seu carro. Em vez de tirar os autocarros criem-se mais faixas dedicadas aos mesmos. Se eu tiver uma boa opção de transporte público para que é que vou arriscar ir no meu carro para demorar horas a entrar no centro da cidade devido às obras?!

Não devia ser este o princípio? Restringir o uso do automóvel particular, criar barreiras ao mesmo e aumentar as frequências dos transportes públicos rodoviários, e a qualidade dos mesmos, para que sejam a melhor solução para entrar na cidade e sejam a melhor solução para dar qualidade à cidade e à experiência de quem a visita ou nela habita?

Obrigar a fazer transbordo é criar um entrave à decisão de optar pelo transporte público para aceder ao centro da cidade. A cidade do Porto tem cada vez mais turistas mas isso implica também cada vez mais gente a trabalhar lá e mais cidadãos dos concelhos vizinhos a visitar os novos espaços que abrem quase diariamente. O Porto tem de estar preparado para receber todos da mesma forma e não é criando dificuldades a uns que se vão beneficiar os outros.

O Porto tem recursos financeiros e a oportunidade de apostar em políticas de mobilidade que sejam exemplares e elas deveriam passar por corredores tipo ciclovias para acolher o fenómenos das bicicletas, trotinetes elétricas e outros, corredores de BUS para garantir um rápido escoamento ao maior número de linhas possível, regulação dos autocarros turísticos e restrições ao acesso via automóvel particular.

Quando foi eleito para governar o Porto foi eleito para garantir a melhor qualidade de vida a quem no Porto habita mas também a quem no Porto trabalha, estuda ou visita, por isso senhor Presidente, pense de novo, reflita e deixe-nos entrar na sua cidade dentro de um autocarro.

Claro que na sua casa manda o senhor, mas tenha consciência que as suas ações vão ter um impacto muito grande na vida diária de muitos trabalhadores e estudantes e esse impacto pode ser positivo ou negativo e não é justo que os munícipes dos concelhos vizinhos sejam prejudicados por ações pouco refletidas. Se insistir em governar o Porto como se da sua quinta ou condado se tratasse, está a plasmar nos Aliados o centralismo que tanto critica do Terreiro do Paço. Se a regionalização política que defende é só para favorecer o Porto em detrimento dos demais concelhos da AMP então o Porto não tem um líder com visão metropolitana mas sim um chefe que acha que “Eu quero, posso e mando” e usa o seu poder para impor a sua vontade contra a vontade de muitos, usa a sua vontade contra o interesse de todos.

O Porto. (ponto) é um grande slogan para caracterizar uma cidade que fala por si, com uma história rica, e habitada por um povo direto, franco e amigo do seu amigo, mas com atitudes destas ficamos a pensar que afinal significa que o Porto será como o senhor quer, e ponto.