“Quem tem medo de cães”, começam por perguntar as terapeutas, Sílvia e Maria, da associação sem fins lucrativos DTC Social, na Escola EB 2,3 de Paredes. “De que é que eles precisam?”, insistem junto dos alunos, alguns com multideficiência e severas dificuldades de comunicação. “Carinho, donos, comida, brincar, passear e ir ao veterinário”, respondem as crianças, que têm a oportunidade de fazer festas ao cão, o Custa, um rafeiro de nove anos, e participar em alguns jogos lúdicos que visam o relaxamento e criar empatia.

As sessões de terapia assistida por animais, promovidas pelo Grupo de Trabalho para a Inclusão do Município de Paredes, através dos pelouros de Acção Social e Desporto, estão a decorrer em escolas e instituições do concelho e vão chegar a 100 crianças, jovens e adultos com deficiência.

O objectivo é o desenvolvimento social, emocional, físico e cognitivo dos participantes. Estas sessões já têm vindo a realizar-se nos últimos anos. “É intenção da Câmara de Paredes realizar mais acções desta natureza, até porque esta é uma das muitas que desenvolve no âmbito do trabalho para a inclusão social”, frisa a vereadora da Acção Social, Beatriz Meireles.

“Tenho um cão em casa, e brincar com ele deixa-me mais feliz”

Primeiro cada um teve direito a dar festinhas ao Cusca. Só quem quis, que nestas sessões não se quer ninguém obrigado, garante Sílvia Sousa, psicóloga e técnica especialista em intervenções assistidas por animais. “Não estamos aqui para causar mau estar, mas para aumentar a qualidade de vida, para as crianças terem momentos lúdicos e prazerosos, não para terem momentos de stress e tensão”, salienta.

Ela e a colega Maria vão “puxando” pela plateia. São jovens com várias deficiências, físicas e mentais, alguns autistas com interacção e outros que praticamente não comunicam a não ser por gestos e ruídos.

Depois o Cusca, um cão terapeuta, exibiu os seus truques, arrancando palmas e sorrisos dos presentes. Muitos quiseram brincar com ele, dar-lhe comida ou só dar-lhe “mais cinco”. Havia mesmo quem estivesse ansioso pela sua vez. Era o caso do pequeno Cristiano Ribeiro, de Cristelo. “O Cusca está aqui e eu gostei muito. Ele deu-me mais cinco e fez exercícios, rebolou e saltou. Ele dá a pata. Gostava que isto acontecesse mais vezes. O meu pai não me deixa ter um cão, mas gostava de ter”, confessa o menino de 12 anos.

Cristiano Ribeiro e Nelson Carvalho

Nelson Carvalho, 12 anos, de Vila Cova de Carros, também gostou desta manhã diferente. “Gosto de animais porque são engraçados. Eles dão-nos carinho a nós e nós a eles. Gostei de dar comida”, afirma com um sorriso. “Tenho um cão em casa, e brincar com ele deixa-me mais feliz. Gostei desta sessão e queria que acontecesse mais vezes”, acrescenta José Pedro Pereira, 12 anos, de Louredo.

“Há crianças que têm medo e essas nunca se forçam a participar”

Fundada em 2010, a DTC Social tem vindo a desenvolver sessões em vários municípios. Estas actividades assistidas por animais, com cães especializados, têm um carácter lúdico, embora possam também ter benefícios terapêuticos, como o relaxamento, a estimulação multissensorial ou o aumento da empatia, explica Sílvia Sousa.

“Queremos que os jovens possam passar bons momentos, divertir-se e, sobretudo, aprender brincando”, diz a técnica especialista em intervenções assistidas por animais. “O cão serve muito como catalisador. É muito mais fácil quebrar o gelo com um cão que quer brincar e gosta de festas. As crianças ligam-se mais rapidamente a nós por causa dele”, sustenta.

“Há crianças que têm medo e essas nunca se forçam a participar”, garante, Sílvia Sousa, dizendo que as sessões vão sendo adaptadas às reacções dos participantes.

Este não é o primeiro ano que estas actividades se realizam em Paredes. Desta vez, as sessões já foram realizadas em escolas dos Agrupamentos de Vilela, Lordelo, Sobreira, Paredes, Cristelo e na Escola Básica de Gandra. Esta terça-feira, as actividades continuam junto dos utentes da Obra de Assistência Social da Freguesia de Sobrosa, da Escola Secundária de Paredes e do Emaús – Pólo de Baltar.