Semana(da)

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O Economist, jornal que de há uns largos anos a esta parte costuma fazer uma espécie de ranking sobre a qualidade da democracia, deu-lhe, desta vez, para colocar Portugal como um dos países onde a democracia tem mais alguns defeitos do que no ano anterior.

Os rankings são o que são e valem o que valem, mas estes nunca foram notícia em Portugal, mesmo nos anos em que o país foi classificado como dos melhores. Desta vez, a notícia abriu telejornais, foi capa de jornais e de outros apêndices como se algo de novo e substancial tivesse mudado de um ano para o outro. Bastaria a declaração do estado de emergência para sabermos que há sempre um maior constrangimento das liberdades. O que nos espanta não é a notícia em si, mas o facto da comunicação social se ter “agarrado” ao assunto como sete cães a um osso, esquecendo-se de que esta classificação foi a constante desde que o Economist começou a fazê-la. Só por duas vezes Portugal teve classificação melhor.

Conclusão: mais do que do estado da democracia ficamos a saber do estado da comunicação social. Aqui, a pandemia, salvo honrosas exceções, já passou e endemia. A imunidade e a impunidade do grupo parecem estar adquiridas. É mau. Muito mau.

Enquanto isto, a semana começa com uma velha “estirpe “desta estranha forma de ser e estar dos portugueses. O chico-espertismo dos que por ocuparem cargos públicos importantes como administradores, diretores, autarcas e outros que tais passarem à nossa frente na fila para tomar as vacinas a que ainda não tinham direito. Como se isso não bastasse e num exercício exemplar do “nacional bacoquismo exibicionista” ainda houve sobras para a mulher, a filha, o sobrinho, o amigo, o padeiro, o pasteleiro, o motorista e outras ligações próximas. Para todos, desde que a ação mostrasse um certo nível de privilégios que parece caraterizar esta coisa a que chamamos de democracia e que, apesar de ser quase cinquentenária, ainda não cresceu o suficiente e assim nunca amadurecerá consciente e responsável. Nem os padres escaparam, apesar de dizerem que acreditam em outros poderes. Um padre prevenido valerá por quantos crentes incautos?

Depois disto, ainda há quem diga que a vacinação está a correr mal?

Por falar em vacinação, o ensino à distância recomeça na próxima segunda-feira e muitos alunos não dispõem dos equipamentos necessários. Depois do que estamos a assistir com as vacinas ficamos com uma vontade enorme de ver as autoridades a entrar nas casas daqueles que fizeram tanta propaganda- beneméritos com os nossos impostos- a espalhar em cada concelho que tinham oferecido computadores á farta. Assalta-nos uma dúvida existencial: encontraríamos em suas casas ou nas dos “amigos do partido” alguns computadores que tanta falta vão fazer aos mais desfavorecidos?

Aceleremos, que o tempo, hoje, é escasso..

Demitiu-se Francisco Ramos, o senhor que mandava numa coisa que, considerando o nome- taskforce – deve ser muito importante e devia servir para distribuir corretamente as vacinas. Confessamos que não temos informação suficiente para saber dos seus méritos, mas aquele ar superior e monocórdico de empregado vaidoso, em nós, gerava antipatia. Se a isto acrescentarmos que se tornou administrador do Hospital da Cruz Vermelha pouco antes de ser nomeado para esse cargo e que saiu da taskforce  por causa de irregularidades na vacinação no Hospital da Cruz Vermelha, mas mantém cargo no Hospital da Cruz Vermelha, melhor compreendemos e aceitamos de bom grado que se tenha afastado.

Entretanto, foi nomeado, para o substituir, o Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo, um militar para “vigiar” as vacinas.

Nada a opor, desde que não as guarde em Tancos.

” Saudinha para todos”, como é costume dizer-se e, agora, faz ainda mais sentido.