A escolha de jornalistas para assessores de imprensa parece ser um hábito antigo dos políticos. Esta opção resulta quase sempre da experiência directa que os políticos têm com a comunicação social e, por isso, é normal que procurem para assessores jornalistas com quem lidam com mais frequência. Acresce a tudo isto a ideia de que um ex-jornalista continuará a ter um bom relacionamento com os colegas jornalistas e isso facilitará a comunicação.

Não sei se a escolha de um jornalista para dirigir um gabinete de comunicação de uma câmara municipal é ou não uma boa escolha porque não é nada evidente que um bom jornalista seja um bom assessor. Um jornalista não está, à partida, preparado para desenhar uma estratégia de comunicação, para fazer a leitura política do ambiente em que está inserido, nem tem a especialização de um profissional de relações públicas. Até porque a comunicação política não parece fazer parte do currículo ou da prática de um jornalista.

O certo é que, quando o convite chega, é quase sempre irrecusável. Primeiro, porque a maioria dos jornalistas vive numa situação de precariedade; segundo, porque, em regra, têm vencimentos quatro ou cinco vezes superiores ao que ganham a trabalhar para um jornal.

Estes quase dez anos de trabalho com jornalistas e assessores de imprensa dizem-me que os melhores assessores com quem trabalhei não eram jornalistas. Mas também me dizem que sempre que um político pretende boicotar o trabalho de um órgão de informação específico, escolhe um ex-jornalista para gerir o seu gabinete de imprensa. Não sei porquê, vêm-me à memória alguns exemplos. Mas posso estar confundido. Posso estar contaminado por aquela salgalhada que parece estar instalada entre nós de confundir jornalistas com assessores de imprensa e assessores de imprensa com assalariados às ordens. Que grande confusão…