Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Não sou escritor, sou contador de estórias. Estórias da minha gente”. É uma das muitas frases de Germano Almeida, autor cabo-verdiano homenageado na 14.ª edição do Festival Escritaria, em Penafiel, que já contamina as ruas e casas do centro da cidade.

Recebido, esta manhã, com música/dança e com a interpretação de textos do seu primeiro livro – ‘O testamento do sr. Napumoceno da Silva Araújo’, considerado um clássico da literatura cabo-verdiana e lusófona, sorriu largas vezes ao reconhecer a sua obra e até já deu autógrafos.

Em conferência de imprensa, no Museu de Penafiel, Germano de Almeida falou do seu mais recente livro, que fecha uma triologia, e do contexto político do seu país. Agradeceu ainda o convite para vir a Penafiel.

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“Sinto-me honrado por ter sido convidado para este acontecimento importante. Eu a e minha mulher estamos a ser sobejamente tratados. É uma recordação que vamos levar”, garantiu.

“Ligo mais às pessoas do que aos lugares e Penafiel é um lugar particularmente bonito, mas sobretudo as pessoas que tenho conhecido são particularmente amáveis”, sustentou ainda o escritor.

O cabo-verdiano, Prémio Camões em 2018, garantiu ainda que “não escreve à espera do reconhecimento”, mas pelo “prazer de escrever”.  “Gosto de homenagens, mas não vivo em função delas”, disse aos jornalistas.

Questionado, confessou-se “divertido” por ver a sua imagem e palavras espalhadas pela cidade. Sempre em tom afável e de sorriso no rosto, o autor espera que os próximos dias lhe permitam dar a Penafiel o que pode dar – “a minha presença e as minhas palavras” – enquanto recebe de todos “um contributo” que o “enriquece” e à sua cultura.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Para Germano Almeida, “vir a Portugal é sair de casa sem sair de casa”. Mas garante que sempre se sentiu cabo-verdiano e nunca português. “Se Cabo Verde desaparecesse Portugal era o país que eu adoptaria”, garantiu no entanto.

Internacionalizar o Escritaria é o próximo passo

Ao lado de Germano de Almeida esteve o presidente da Câmara de Penafiel, Antonino de Sousa, que elogiou o escritor cabo-verdiano que “acrescenta prestígio a este festival literário”.

O autarca lembrou que vão na 14.ª edição do Escritaria e que nem a pandemia impediu que o evento acontecesse, ainda que com adaptações, sendo que uma das boas coisas que ficou foi a transmissão online das iniciativas.

Antonino de Sousa prometeu mais “uma festa das letras e da literatura” ao longo dos próximos dias, com momentos de arte de rua, exposições, conferências e muita música. Como marca na cidade ficarão, como é habitual, a silhueta e uma frase do autor.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

O presidente da Câmara lembrou que o festival teve, desde a primeira edição, o objectivo de homenagear um escritor lusófono contemporâneo. “Alguns dos maiores nomes da literatura em português têm estado em Penafiel”, destacou. “Na edição deste ano voltamos a África, para ter escritores que usando o português na sua escrita não sejam portugueses. Isso faz parte da génese do festival. Já tínhamos tido o moçambicano Mia Couto e o angolano Pepetela e agora temos este fantástico escritor cabo-verdiano, Germano Almeida, com uma vastíssima obra e Prémio Camões em 2018”, concretizou o edil.

Por isso, a internacionalização é o próximo passo. “Nós achamos que o Festival Escritaria tem tudo para ter uma dimensão maior, para além das fronteiras de Portugal. Pode começar a ser um evento literário conhecido nos países lusófonos, em África, mas também no Brasil, o país com mais falantes de português. Se queremos dar-lhe essa dimensão internacional então temos de trazer cada vez mais escritores que, sendo estrangeiros, escrevem em português”, explicou Antonino de Sousa.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

A presença do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde não deixa de ser relevante para esse objectivo. “Estou certo de que vai ajudar a promover esta reflexão em torno da cultura em português e sobretudo da literatura em português. Podemos dar contributos para aproximar mais os escritores lusófonos dos seus públicos e ter mais portugueses a ler escritores cabo-verdianos e ter mais brasileiros a ler escritores portugueses. O Escritaria pode dar aqui um contributo importante”, defendeu, lembrando que o português é a quinta lingua mais falada do mundo.

Até domingo, o Escritaria evoca a vida e a obra de Germano de Almeida.