O ano que terminou foi terrífico para o PSD de Paços de Ferreira: num concelho tradicionalmente social-democrata, o PSD ficou reduzido a dois vereadores no executivo municipal. É certo que o socialista Humberto Brito terá algum mérito neste resultado, mas ninguém terá grandes duvidas que se deve, sobretudo, ao demérito dos sociais-democratas da Capital do Móvel.

Durante quatro anos, Humberto Brito lançou acusações e insinuações sobre o anterior executivo PSD, quase todas sem qualquer fundamento, nunca provadas, mas a que o PSD não foi capaz de reagir nem desmentir. Era como bater num morto: durante uns longos e penosos quatro anos, o cidadão comum pacense ficou convencido de que a anterior gestão municipal teria sido criminosa e que os socialistas seriam os salvadores do concelho.

Joaquim Pinto, o candidato do PSD, teve que lidar com esta herança e enfrentar um candidato para o qual não estava preparado, tendo optado por um discurso cordial e pouco acutilante, sentindo-se quase sempre vítima a cada ataque do adversário. Do outro lado tinha Humberto Brito, com um discurso populista e agressivo, disposto a dilacerar o PSD. Joaquim Pinto não estava preparado para essa combatividade e o resultado foi o que as sondagens iam revelando: um desastre.

Interessa agora olhar para o futuro. Quanto ao PSD, para se afirmar como alternativa séria ao PS, terá que mudar muito a sua forma de fazer oposição. Diria mesmo que Joaquim Pinto terá que fazer oposição, o que, até agora, realmente não conseguiu fazer. Senão, não passará de mero instrumento utilizado pelo PSD enquanto aguarda melhores dias para candidatar outra pessoa.

Mais interessante será perceber o que acontecerá no PS. Primeiro porque Humberto Brito não conseguirá continuar a financiar o preço da água por muito tempo. Prova disso foi a necessidade de subir os impostos no início deste ano. Segundo, será interessante perceber o desfecho dos vários processos judiciais contra a Câmara Municipal de Paços de Ferreira no caso da insolvência da empresa municipal.

Mas o maior problema dos socialistas poderá ser uma guerra surda. Com a entrada do vereador Paulo Ferreira para o executivo municipal, abre-se uma luta pela sucessão. Se até agora o vereador Paulo Sérgio Barbosa ia sonhando com a possibilidade de vir a chegar à presidência da Câmara Municipal, Humberto Brito, ao atribuir ao novo vereador os pelouros mais importantes da governação, deu um sinal claro de quais são as suas preferências.

O próprio Paulo Ferreira também terá isso mesmo em mente. A prova disso foi o jantar que organizou na sua casa, nas vésperas da tomada de posse, cujos convidados, pessoas influentes na sociedade e no Partido Socialista, denominaram o encontro como “o começo rumo à presidência”.