Manuel Alegre foi, hoje, recebido em Penafiel, com a interpretação de alguns dos seus poemas e com afectos. Por todo o lado, e até domingo, estão espalhadas pela cidade frases e versos ligados ao autor que é o homenageado desta edição do Festival Literário Escritaria.

“Sinto-me muito honrado em estar aqui, em ser durante uns dias um cidadão de Penafiel”, afirmou Manuel Alegre, em conferência de imprensa, agradecendo ao concelho “o contributo que tem dado à cultura e literatura nacional”. “Todos os anos convidam um autor vivo e trazem a obra para a rua. Levam o autor junto das pessoas, tiram-no da estante e das livrarias. Isso hoje tem um grande significado quando há muito menos livrarias”, disse o poeta.

“Aquilo que faz Penafiel é algo de verdadeiramente exemplar. Mais que homenageado eu estou aqui a homenagear esta iniciativa e a agradecer. Isto é muito significativo para os escritores portugueses e para a literatura portuguesa”, acrescentou o autor.

Manuel Alegre foi mesmo mais longe: “Todos nós estamos em dívida para com esta iniciativa de Penafiel, hoje eu, mas todos os escritores portugueses. Haver pessoas a interpretar e a cantar poemas torna-nos mais presentes, mais vivos, mais junto das pessoas e isso vai com certeza criar outro interesse pela literatura e novos leitores, que é o mais importante”.

Dizendo “sentir-se em casa” em Penafiel, o homenageado lembrou que já teve vários reconhecimentos. “Mas este palpita mais, vai mais junto das pessoas”, salientou.

Aos jornalistas, Manuel Alegre disse-se mais “que um poeta da liberdade e da resistência” e assumiu-se como “um insatisfeito e um inconformista”.

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O poeta conheceu o resultado da instalação artística que contou com a participação de mais de 400 mãos dos habitantes do bairro Fonte da Cruz. Também ele juntou a sua mão ao projecto.

Essa foi uma das novidades destacadas por Antonino de Sousa. “O objectivo é levar a literatura, o Escritaria, aos bairros sociais e a essa população que tem estado mais arredada do evento”, explicou o presidente da Câmara, falando da importância de trazer novos públicos ao festival e de tornar a literatura acessível ao maior número de pessoas possível.

“Trazer o escritor à cidade e aproximá-lo das pessoas, uma proximidade que não é habitual. Essa é a grande diferença que o Escritaria tem em relação a outros eventos literários”, afirmou ainda.

A vinda de Manuel Alegre, disse o autarca, foi consensual. “Não tínhamos tido ainda nenhum nome grande da literatura dedicado à poesia”, sustentou.

Quanto ao investimento no evento, que anda entre os 60 e 70 mil euros, é “modesto” para o grande retorno que traz e que vai para além dos dias do Escritaria, defendeu Antonino de Sousa.

“Temos uma procura muito maior nas nossas bibliotecas, seja na municipal, nas escolares ou no Bibliomóvel que percorre o concelho, pelos livros, pela literatura e sobretudo pelos autores que vão passando pelo concelho”, concluiu.

O Escritaria decorre até domingo. Pelas ruas da cidade é impossível não ‘tropeçar’ na obra e na vida do autor homenageado. Há teatro, animação de rua, exposições, apresentação de livros, música e as fachadas dos edifícios e muitos outros locais da cidade a exibir a obra do autor.