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Desde que chegou a Portugal, começando por se instalar no Norte do país, em 2011, que a vespa velutina, mais conhecida como vespa asiática, uma espécie invasora que representa uma ameaça, sobretudo para as abelhas – tem destruído inúmeras colmeias e põe em causa a produção de mel -, não tem parado de se expandir e de crescer.

A região não é imune a este fenómeno e, em 2021, foram identificados 3.084 ninhos de vespa asiática nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Valongo, num aumento de 81% face a 2020. Mais de 2.900 foram destruídos.

Penafiel foi o concelho com mais ninhos identificados e destruídos e Valongo o que sofreu o maior aumento face ao ano anterior.

Conheça a realidade de cada concelho e as freguesias mais afectadas.

É preciso mais: “a simples eliminação dos ninhos reportados não se tem revelado suficiente para o controle desta espécie”

Lousada passou de 283 ninhos identificados e destruídos em 2020 para 586 reportados em 2021 (mais 107%). Desses foram destruídos 498 ninhos e 88 foram identificados como “falsos alarmes”, explica o vereador do Ambiente, Natureza e Clima da Câmara de Lousada.

“Nos anos de 2016 e 2017 tivemos no concelho um aumento gradual do número de ninhos, no ano de 2018 uma quebra, seguida de novos aumentos nos anos de 2019 e 2020, atingindo mesmo um pico neste último ano”, descreve Manuel Nunes em resposta ao Verdadeiro Olhar, garantindo que a consciencialização que existe junto da população faz acreditar que todos os ninhos identificados terão sido reportados aos serviços municipais. Em mais de 90% dos casos são os munícipes a dar o alerta. Ainda assim, reconhece, ainda há trabalho a fazer junto da população para ensinar a diferenciar a espécie e se os ninhos estão activos ou não.

Para a destruição de ninhos, a autarquia tem contado com a ajuda da Associação NATIVA, “que dispõe de um colaborador da região diário no município”, sendo o serviço reforçado quando necessário.

Mas o vereador entende que “frente a um aumento significativo do número de vespeiros reportados, existe a necessidade em se encontrar novas soluções, pois a simples eliminação dos ninhos reportados não se tem revelado suficiente para o controle desta espécie”.

Em Lousada, as freguesias mais afectadas são Meinedo, União de Freguesias de Cristelos, Ordem e Boim, Lodares e União de Freguesias de Silvares, Pias, Nogueira e Alvarenga.

Paços de Ferreira, Ferreira e Freamunde mais afectadas

Também Paços de Ferreira registou aumentos no que toca a ninhos identificados e destruídos no concelho. Dos 410 reportes feitos em 2021 foi realizada a destruição de 371 ninhos de vespa asiática, uma subida de 97% face a 2020, quando foram destruídos 188.

A autarquia salienta no entanto que os casos têm oscilado: “Registamos menos 100 casos em 2020, comparativamente a 2019, mas temos um aumento que quase duplicou em 2021”. Sustenta ainda que haverá mais casos, não identificados, até pela localização, mas que serão “em número reduzido”.

Os dados revelados ao Verdadeiro Olhar pela Câmara de Paços de Ferreira, mostram que as localidades mais afectadas no ano passado foram a de “Paços de Ferreira 14,39% (sem incluir Modelos), Ferreira 10,73%, Freamunde com 9,27%, Eiriz com 9,02%, Carvalhosa e Frazão (sem incluir Arreigada) com cerca de 8%, perfazendo no seu conjunto 60,24% das ocorrências de ninhos de vespa velutina”.

Neste concelho, na maioria dos casos, os ninhos continuam a ser eliminados por incineração, sendo que noutros casos, sobretudo dentro de edifícios é aplicado insecticida, mas o município adianta que “está a estudar outras possibilidades de abordagem à eliminação”. O trabalho de destruição é feito em conjunto por elementos dos Bombeiros de Paços de Ferreira e por um colaborador da autarquia, em período nocturno.

Questionada sobre se a pandemia influenciou o combate à vespa asiática no concelho, a Câmara de Paços de Ferreira responde que “é provável que sim” já que houve “menos comunicações”. “Registamos alguns períodos em que a eliminação de ninhos ficou suspensa, sendo que os motivos principais se deveram ao período crítico de risco de incêndios e por falta de recursos humanos técnicos para o efeito, e por motivo de férias”, adianta ainda.

Ainda segundo a autarquia há mais sensibilização para o tema na população e menos receios quanto a esta espécie invasora.

Todas as situações comunicadas foram resolvidas em Paredes

A base de dados criada e desenvolvida pela Unidade de Protecção Florestal no âmbito do combate e controlo da vespa asiática em Paredes identifica e localiza os vespeiros comunicados/tratados.

Paredes teve o menor aumento no número de ninhos de vespa asiática identificados e destruídos nestes cinco concelhos quando comparamos os últimos dois anos: 47%.

Passou de 421 ninhos em 2020 (os efectivamente confirmados como sendo desta espécie, já que houve maior número de reportes) para 619 em 2021. “Todas as situações comunicadas foram devidamente resolvidas”, atesta o vereador da Protecção Civil da Câmara de Paredes, Francisco Leal.

“A vespa asiática tem um crescimento exponencial devido ao facto de não ter predadores naturais nem competidores, e das condições climatéricas serem bastante favoráveis à sua prevalência.  Os números, nos últimos anos, têm-se mantido estáveis, fruto do trabalho desenvolvido pela Câmara Municipal. No ano de 2020 verificou-se uma redução do número de comunicações que atribuímos ao confinamento prolongado devido à pandemia”, defende o autarca.

Quanto às freguesias mais afectadas, as “mais populosas do concelho têm naturalmente um maior número de comunicações”, pelo que Paredes, Lordelo e Rebordosa destacam-se. Mas “a distribuição no concelho é homogénea”, atesta Francisco Leal.

O vereador argumenta ainda que a estratégia adoptada nos últimos três anos no concelho tem dado “bons resultados”. “Iniciamos a época com acções de sensibilização nas freguesias do concelho, posteriormente inicia-se a distribuição e colocação de armadilhas selectivas para capturar as vespas rainhas (no início do ciclo de vida), e durante o ano efectua-se a intervenção nos vespeiros detectados”, descreve.

Na generalidade, ou pela equipa do município ou pela associação com a qual têm protocolo os casos são tratados num período inferior a 48 horas, adianta.

“As pessoas estão mais esclarecidas e cientes da problemática e dos perigos. A Câmara Municipal, através do Serviço Municipal de Protecção Civil e Unidade de Proteção Florestal, tem promovido anualmente campanhas de sensibilização, com a colaboração das juntas de freguesia, junto das pessoas e através das redes sociais de forma a esclarecer e informar como agir, e de que forma devem comunicar as situações”, salienta Francisco Leal.

Penafiel tem o maior número de casos registados

O concelho de Penafiel, talvez também pela dimensão do território, tem o maior número de casos reportados.

Em 2020, foram identificados 641 ninhos de vespa asiática e eliminados 477. Já no ano passado, o número de ninhos reportados subiu para os 1120 (mais 75%) e o de eliminados para 1066 (mais 123%).

Penafiel (115), Termas de São Vicente (109) e Paço de Sousa (75) foram as freguesias com maior número de ninhos identificados.

A Câmara de Penafiel nota que “a distribuição dos ninhos de vespa velutina participados e eliminados estão localizados junto a áreas edificadas e junto à rede viária, podendo naturalmente existir ninhos em zonas menos acessíveis”.

Neste concelho, e seguindo o plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina, o método de destruição usado continua a ser o de aplicação de insecticida. Mantém-se também uma equipa dedicada à eliminação dos ninhos que sai três a quatro dias por semana, eliminando em média, 10 a 15 ninhos por saída, indica resposta do município penafidelense.

“A população é conhecedora da situação, pois é uma espécie que cada vez mais está adaptada à nossa região, e tem a noção do perigo que é tentar eliminar os ninhos por sua iniciativa)”, sustenta a mesma fonte.

Crescimento de 159% em Valongo

Em resposta ao Verdadeiro Olhar, a Protecção Civil Municipal de Valongo revela que os números também têm aumentado.

Em 2020 foram identificados e exterminados 135 ninhos de vespa velutina, sendo que em 2021, até ao início de Dezembro, esse número já era de 349, trata-se de uma subida de 159%.

Quanto à exterminação foram implementadas mudanças. “Até Agosto de 2021, a exterminação era feita com recurso a fogo. Dentro das habitações ou locais de risco, era utilizado insecticida artesanal. No entanto, para dar uma maior capacidade de resposta a exterminação, a Autarquia adquiriu um sistema de injecção química eléctrico, controlado desde o solo, constituído por um kit de tubos de carbono/kevlar e alumínio que, pela sua estrutura, composição e peso (muito leve), permite realizar intervenções de ninhos em altura, e até um máximo de 30 metros, vulgarmente designado por ‘Cana’”, releva resposta enviada. “Foi também adquirido um sistema de ar comprimido com projéctil de impacto, constituído por um marcador, mira red dot, botija de ar comprimido, carregador e coronha. Serve para intervenções onde não seja possível utilizar a Cana, sendo utilizado apenas em complemento do sistema anterior e, vulgarmente designado ‘Arma’”, indica ainda a autarquia valonguense. Tratou-se de um investimento de 3.300 euros (mais IVA).

Também esta autarquia tem diariamente ao serviço de exterminação dos ninhos uma equipa de dois elementos que é reforçada quando necessário.