“Foi à casa de banho. Já só disse à minha tia que estava muito tonto e caiu para o lado”, relata Sara Barbosa, neta de Emídio Ribeiro Pires, um homem de 76 anos, de Besteiros, Paredes, que morreu, ontem de madrugada, em casa, cerca de uma hora depois de ter alta das urgências do Hospital Padre Américo, em Penafiel. 

A família acredita que houve negligência médica e aguarda o resultado da autópsia para apresentar queixa-crime. 

“Temos a certeza que foi negligência médica. Estivemos a rever os documentos e, no meio dos exames do meu avô, há umas análises em nome de Emídio Pinto, e o meu avô é Emídio Pires, e estão datadas de dia 7”, dia em que o homem nem sequer esteve nas urgências. Acreditam, por isso, numa possível troca de exames. 

“Nós sabíamos que o meu avô não tinha muita saúde e não ia durar muito tempo. Mas entrar numas urgências, não internarem e mandá-lo embora…”, critica. “Uma coisa era o hospital dizer-nos ele vai para casa e vai morrer. Ninguém tinha esperança que ele fosse durar mais um ano ou até um mês. Mas dizerem vai para casa e faz a medicação e está tudo bem, que foi o que deram a entender”, aponta ainda a neta. 

Sem vaga no internamento

Nos últimos meses o estado de saúde de Emídio Ribeiro Pires tinha vindo a piorar. A respiração começou a ter de ser auxiliada e, se até há um mês, a máquina era usada 16 horas por dia, passou a ter de o fazer 24 horas. Também tinha anorexia.

Na quinta-feira semana passada, conta a neta, Sara Barbosa, tinha ido à urgência porque estava cansado, não conseguia respirar, e “achava que a medicação que lhe tinham dado na semana anterior estava a ser muito forte, porque lhe dava vómitos, náuseas e tonturas”. Teve alta na sexta-feira de manhã, com a indicação de que estava “fraco e desidratado”. Mas voltou a dormir mal na noite seguinte e deixou de conseguir urinar. Por isso, no sábado, voltou a dar entrada no Hospital de Penafiel, por volta das 14 horas. Ali ficou um dia e meio, a receber medicação e a fazer exames. “Era uma pessoa debilitada, desidratada, que não conseguia respirar sem a ajuda da máquina e esteve sentado, num cadeirão, cerca de 24 horas”, até ser passado para uma maca, depois de a família reclamar, relata Sara. Esteve sempre na sala de urgências, já que não havia vaga no internamento. 

Anteontem, domingo, por volta das 19 horas, “uma das médicas veio falar com a família e disse que era impensável dar-lhe alta” nesse dia, “que estava com uma infecção urinária grave e tinha de fazer medicação lá”, explica a neta. Mas, às 23h45, ligaram a uma das filhas do homem de 76 anos a informar que teve alta. Ela foi buscá-lo e levou-o a casa.

Emídio até estava comunicativo, mas pouco depois quis ir à casa de banho, porque continuava sem conseguir urinar. “Foi à casa de banho. Já só disse à minha tia que estava muito tonto e caiu para o lado”, conta Sara Barbosa.

Chamados os meios de socorro o homem já estava em paragem cardio-respiratória, que não chegou a ser revertida.  “A minha tia tem a certeza que já saiu daqui morto”, sentencia. Foi transportado de volta ao Hospital de Penafiel. A família já pediu uma autópsia que deve ser realizada hoje. 

Contactado, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa não responde a questões. Numa curta declaração enviada diz que “lamenta profundamente a morte registada e endereça sentidas condolências a todos os familiares”. “Entretanto, a situação vai ser analisada com detalhe para que, de forma adequada, se possa fazer a devida avaliação do sucedido”, garante o CHTS.