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Vítor Figueiredo, 42 anos, sofre de um atraso cognitivo e foi diagnosticado como esquizofrénico, doenças que o impedem até de andar. Apesar da sua saúde frágil, este doente vive com um esporádico acompanhamento médico e nunca teve a possibilidade de frequentar qualquer instituição especializada no tratamento deste tipo de casos. Por isso, Vítor passa os dias num pequeno apartamento do Bairro Fonte da Cruz, em Penafiel, apenas com a companhia da mãe, uma mulher a quem também já foram diagnosticados problemas de alcoolismo.

Várias entidades têm o caso sinalizado, mas o certo é que este homem continua a habitar uma casa nauseabunda e a sofrer vários “ataques” que o levam a morder as próprias mãos. Os vizinhos temem que uma tragédia possa acontecer mais cedo ou mais tarde.

 

Passa os dias em frente à televisão

 

“Vitinho” foi durante muito tempo uma das figuras singulares da cidade de Penafiel. A residir perto do Estádio Municipal 25 de Abril, Vítor Figueiredo passava os dias junto dos jogadores do FC Penafiel, que o acarinhavam e, não raras vezes, o alimentavam. No entanto, em Dezembro de 2013, Vítor e a mãe foram, devido à falta de condições da casa onde viviam, realojados num dos apartamentos do Bairro Fonte da Cruz e é aí que, desde então, habitam.

Esta mudança afastou o homem de 42 anos, que sofre de esquizofrenia e tem um atraso cognitivo fruto de um ataque de meningite em criança, da interacção social. Hoje, Vítor passa os dias em casa, sentado num sofá e em frente a uma televisão. “Ele não consegue andar e arrasta-se do quarto até à sala. É no sofá que ele faz tudo, até as necessidades”, refere a mãe.

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“Queria que me ajudassem”

 

Maria Orminda Magalhães, de 64 anos, foi vítima de violência doméstica e refugiou-se numa casa-abrigo. Quando voltou a Penafiel, o ex-marido entregou-lhe o filho doente que “nunca esteve em nenhuma instituição” na qual desenvolvesse competências básicas. Com o passar dos anos, também ela agravou um problema que a afectava: o alcoolismo. Embora não o admita, e até tenha recusado submeter-se a um tratamento de desintoxicação, Maria Orminda consume demasiado álcool para ter condições para tratar do filho. “Um dos problemas desta família é a mãe consumir muito álcool. Ela não tem condições mentais para tomar conta do filho”, refere uma das vizinhas. Os habitantes do bloco 5 do Bairro Fonte da Cruz queixam-se do cheiro nauseabundo que exala do apartamento, mas temem, sobretudo, o que pode acontecer à família. “Tememos o pior. Qualquer dia morre alguém”, avisa uma das moradoras do prédio, que critica a falta de intervenção das entidades num caso que considera “dramático”. “Eles não têm as mínimas condições para viver sozinhos. A casa tem um cheiro nauseabundo”, salienta.

Maria Orminda concorda com o cenário descrito: “O Vítor passa os dias em frente à televisão e tem de ir para o quarto de rastos, pois não consegue andar. O ideal era ele ir para uma instituição. Queria que me ajudassem”.

 

 

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Caso sinalizado por várias entidades

 

A Câmara Municipal de Penafiel refere que tomou conhecimento do caso de Vítor Figueiredo em Novembro de 2013, altura em este vivia numa casa degradada situada perto do Estádio Municipal 25 de Abril. Um mês depois, a família foi realojada numa das habitações municipais do Bairro Fonte da Cruz, na qual não paga “renda, água e luz”. “Não é uma situação permanente e o senhorio já foi notificado para proceder às obras na casa antiga para que a família possa regressar para lá”, refere fonte oficial da autarquia. A mesma fonte garante que a “Câmara efectuou todos os procedimentos da sua competência” ao sinalizar o caso e informar as entidades ligadas à saúde e a Segurança Social. “Também foi contactada a Associação Pais e Amigos Deficientes Mentais de Penafiel, mas não foi possível internar o doente. A instituição está lotada”, revela.

Já o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) confirma que Vítor Figueiredo frequenta consultas de psiquiatria. “A última consulta foi em Setembro e a próxima é em Maio”, frisa. Confirma ainda que este paciente deu entrada, só este ano, nove vezes no serviço de Urgência. Na última ocasião, Vítor apresentava ferimentos graves por ter mordido as próprias mãos e teve de ser suturado. “O caso está sinalizado pelo nosso Serviço Social. Tentaram interná-lo numa instituição, mas não foi possível”, sustenta o CHTS.

Até este momento, a Segurança Social ainda não respondeu às questões colocadas pelo VERDADEIRO OLHAR.