O Grupo 203 dos escoteiros de Portugal “não está vinculado a nenhuma crença religiosa, política, social ou cultural”, por isso todas as crianças e jovens têm as portas abertas para fazerem parte deste movimento. A garantia é deixada ao Verdadeiro Olhar pela dirigente Ana Soares, numa altura em que o grupo se mudou de Paço de Sousa (Penafiel) para Paredes.

Quem olha para a grafia da palavra ‘escoteiros’ pode achar que está escrito de forma incorrecta, mas é precisamente o ‘o’, que advém da origem do agrupamento, que lhe confere esta diferença de “estar aberta a todos”, mesmo “para crianças que não são baptizadas ou adultos que se divorciam”, algo que não acontece em outros congéneres.

Constituído por 26 elementos, seis dirigentes e dois colaboradores, funcionava em Paço de Sousa. Mas os dirigentes desta estructura solicitaram a mudança para Paredes, de onde eram a maioria das pessoas, o que “fazia todo o sentido”, justificou Ana Soares.

O processo ficou concluído em Dezembro e o grupo já funciona na casa nova, na antiga escola primária da Madalena, um espaço cedido pela autarquia e Santa Casa da Misericórdia locais.

Ana Soares, 52 anos, é professora universitária e está ligada a este movimento desde os 11. O tempo passou e nada é igual, mas, e segundo sublinhou ao Verdadeiro Olhar, os escoteiros têm acompanhado essa evolução conseguindo “adaptar-se a uma realidade que se alterou nas várias vertentes, sobretudo tecnológica”.

Mas desengane-se quem achar que os escoteiros deixaram para trás as fogueiras, as bússolas ou as técnicas tradicionais para a sobrevivência no campo. Não! Simplesmente, houve uma “adaptação”, confere Ana Soares que explica que, os escoteiros começam por aprender, por exemplo, a orientar-se através da “bússola e só depois o fazem pelo GPS”.

Porque um dos objectivos dos escoterios é criar nas crianças e jovens “competências para a vida que passam por aspectos “físicos, intelectuais, social, espirituais, afectivos e de caracter”.

E são estes os princípios basilares deste movimento, que surgiu em 1907 pela mão de um ex-militar inglês chamado Robert Baden-Powell.

Coronel aos 33 anos, decidiu escrever um livro com dicas para explorar o meio ambiente e ensinar técnicas para a vida no campo aos seus colegas. O que ele não esperou foi com o interesse de todos os jovens em aprender e repetir todas aquelas técnicas ensinadas no seu livro e que passaram a ser adotadas por diversas escolas britânicas.

Foi daí que nasceu o movimento escoteiro que tinha ainda como objectivo ensinar aos jovens, além das técnicas, valores importantes como cordialidade, educação, disciplina, honestidade e respeito.

E foi no dia 1 de Agosto de 1907 que se realizou o primeiro acampamento da história, altura em que ficou estipulado que cada escoteiro devia praticar uma boa acção por dia. Um princípio que faz com que cada jovem receba lições práticas de cidadania, aprendendo a agir de forma digna face às adversidades da vida.

E são também estes princípios que o Grupo 203 transmite a todos os seus elementos, conferindo-lhes ferramentas que lhes permitem ter “um papel interventivo na sociedade que os rodeia”.

Só que os últimos dois anos não foram fáceis para todas as organizações em geral e este grupo não foi excepção tendo em conta que tinha programadas actividades, a realizar em conjunto e no exterior e, devido à pandemia, foram privados da liberdade. “Foi muito complicado adaptarmo-nos e gerirmos expectativas de crianças e de jovens”, sobretudo porque “sempre tivemos uma relação de contacto e de proximidade”.

Mas o Grupo 203 soube reinventar-se e passou a realizar acções como se fossem feitas ao ar livre, “mas em casa”.

Assim, por exemplo, “distribuímos ementas por todo o grupo e, cada um em sua casa, cozinhava. Depois, almoçávamos ou jantávamos em conjunto”, partilhando a tela do computador, explicou Ana Soares que reconhece que “têm sido tempos difíceis, mas que provam a força deste grande movimento”, não só a nível local, mas mundial.

E porque é que o Grupo 203 é tão aliciante para os seus membros? Ana Soares não tem dúvidas em afirmar que além de “criar competências que são úteis para a vida”, também “incute regras e sentido de participação na sociedade”. Para além disso, “e depois de realizarmos duas ou três actividades parece que nos conhecemos há anos, é criada uma afinidade incrível”.

Com esta deslocação, este grupo ‘sempre alerta’, espera “criar novas oportunidades de crescimento”, servindo a comunidade de uma forma “muito mais presente”.

Até porque os escoteiros têm a capacidade de “tornar desconhecidos em conhecidos, conhecidos em amigos e amigos em irmãos”, concluiu Ana Soares que deixa aberta a porta do Grupo 203 a todos aqueles que queiram contribuir para uma sociedade melhor.