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Os funcionários do Serviço de Urgência do Hospital Padre Américo, em Penafiel, protestaram, esta tarde, contra a falta de condições dos utentes que estão internados naquele serviço e contra a exaustão a que estão sujeitos. Neste momento estão internadas no serviço de Urgência “mais de 60 pessoas”, denunciam.

De acordo com os profissionais, os doentes ficam internados nos corredores de circulação “durante dias”, inclusive à frente de casas de banho, num cenário “de guerra”. Também não é assegurada a segurança dos doentes e dos profissionais de saúde, assim como as condições de higiene necessárias, argumentam. Da mesma forma, não fica garantida a toma de medicação prescrita nem que seja dada alimentação adequada aos doentes. 

A equipa fala em “exaustão” dos funcionários e num défice de recursos humanos que levam ao excesso de trabalho. 

Esta manifestação contou com profissionais de várias áreas, desde assistentes operacionais a médicos e enfermeiros e técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica.

“Não conseguimos dar ajuda a todos. Alimentação vamos dando, higiene nem sempre”

Fernando Silva é assistente operacional no Hospital Padre Américo há 32 anos. “Nunca vi esta urgência conforme a vejo há meses. Sempre com macas de doentes internados. Isto não são picos, é todos os dias. Prejudica a prestação de serviço e a qualidade. Fazemos o nosso melhor, mas tanto tempo não dá para aguentar”, lamenta o profissional.

Faltam auxiliares e médicos. Há casos em que um assistente operacional cuida de 30 doentes e um enfermeiro de 40, dão como exemplo.

Isso não permite prestar os cuidados mais adequados. “Não conseguimos dar ajuda a todos. Continuamos a fazer notas de risco para protegermos os doentes e a nós e estamos exaustos. Alimentação vamos dando, higiene nem sempre”, reconhece, falando ainda na falta de privacidade que se vive nos corredores.

“Continua a haver doentes internados no Serviço de Urgência, coisa que não devia existir. Neste momento, os profissionais de saúde estão exaustos e não têm tido a capacidade de prestar cuidados adequados, tanto nos internados como nos imensos que vêm à Urgência”, corrobora a enfermeira Marta Sousa. “O cenário infelizmente é de guerra. Temos doentes internados pelos corredores. Neste momento são 60. Isto compromete o socorro”, garante, confirmando que têm sido feitas notificações de risco sobre estas situações.

“Toda a gente está indignada, mas muita gente não está presente com medo de represálias, sobretudo os que têm contratos precários”, frisa. “Para o conselho de administração isto é um pico, mas isto é uma questão crónica e arrastada. O hospital não tem capacidade para dar resposta a uma população tão grande”, atesta Marta Sousa.

“O ambiente que se vive é de cansaço extremo. Há muito que vivemos com esta sobrelotação e é quase um desespero por vermos que nada se está a resolver”

A mesma visão tem a médica Ana Reis: “Falar em picos quase que nos ofende. Há de facto situações de maior afluência, mas esta situação é diferente. O hospital está sub-dimensionado para esta população. Há sempre muitos doentes internados na Urgência. Neste momento estamos a enganar as pessoas. A dizer que estamos de portas abertas e podemos prestar os cuidados necessários. Nós estamos aqui para resolver, e estamos, mas não temos condições para fazer o nosso trabalho da melhor forma e é o que nos preocupa. Não estão a ser dadas condições dignas a estes doentes”.

Segundo a clínica, “o ambiente que se vive é de cansaço extremo”. “Há muito que vivemos com esta sobrelotação e é quase um desespero por vermos que nada se está a resolver”, acrescenta, dizendo que não é possível resolver coisas como tratar de pensos, fazer análises, verificar sinais vitais ou ter “o tempo necessário para olhar para o doente”.

A administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa tenta “fazer coisas mas sem ideias estruturadas”. “Temos de deixar de meter a cabeça na areia. Isto não é um pico. É preciso pensar em soluções de estrutura. Não é de um dia para o outro, mas algum dia teremos que começar. As soluções que temos são tampão e pensos rápidos. Isso para os nossos doentes não resulta”, defende Ana Reis.