“O Estado não olha para os bombeiros como deveria e temos que cavar receitas”. O desabafo é de Jorge Videira, presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde, eleito, este fim-de-semana, para mais um mandato de três anos.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, o dirigente lamenta que “os encargos sejam cada vez maiores e que as receitas tenham tido uma redução demasiado significativa”. À semelhança do que acontece com outras corporações do país, a pandemia também veio agudizar as fragilidades financeiras dos bombeiros de Ermesinde. Jorge Videira aponta como exemplo o facto de essa quebra de receitas da corporação local, de Março a Setembro último, ter rondado os cerca de “16 mil euros, o que é demasiado”, pondo a colectividade numa “situação muito complicada”.

O presidente aproveita para explicar que, e no caso do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), foi realizado um acordo com aquela estrutura do Estado em 2012, mas “estamos em 2021”. Ora, quer isto dizer que este documento “está completamente desajustado”, porque os preços praticados continuam a ser os mesmos, quando está tudo muito mais caro”, desde combustível, ordenados, entre outros factores, frisou.

Jorge Videira mais mais longe e enumera que o INEM paga “cerca de 18 euros” aos bombeiros por um serviço que, para a corporação, custa cerca de “40”, considerando este fosse entre valores “inadmissível”.

“O Estado sabe que nós somos o maior exército do país e deveria olhar para estas estruturas de uma maneira completamente diferente”, mas, “infelizmente, estamos esquecidos”, lamentou.

E para agudizar este cenário de contrariedades financeiras, em que os serviços que são prestados não são pagos com justiça, veio a pandemia a criar um fosso ainda maior e, contas feitas, a quebra de serviços, e logo de receitas, cifrou-se na ordem dos “50 por cento”.

Para tentar combater estas vicissitudes, e já no próximo ano, a direcção planeia uma campanha de sensibilização, a ser feita junto da população, para que o número de sócios aumente. Jorge Videira lembra que os bombeiros servem uma comunidade de cerca de 75 mil pessoas, mas tem apenas sete mil associados. Um número que fica aquém das expectativas da associação e que urge .

Apesar de todas as restrições financeiras, é certo que a direcção da associação dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde vai continua a trabalhar e a sonhar, sendo que o novo caderno de encargos para os próximos três anos, além de incluir a “recuperação de algumas receitas perdidas”, pretende ainda “continuar a investir em equipamentos, à semelhança do que tem sido feito até agora, e na manutenção dos já existentes”.

O dirigente salientou que, nos últimos seus anos, conseguiram “comprar cinco ambulâncias e três carros operacionais”, para além de terem recuperado “duas viaturas antigas”. E este é um trabalho que é para prosseguir neste mandato.

Jorge Videira tem 70 anos, “quase tantos como a corporação”, como gosta de dizer, e faz questão de lembrar que todos, sobretudo o corpo activo, “abdicam do seu tempo e das suas famílias para servirem a população”, e isso é algo que “ninguém deveria esquecer”. Por isso, o presidente espera que a população se una em prol desta causa, associando-se a um trabalho que é feito para todos, sem excepcção.