Voltaram os conflitos aos Bombeiros Voluntários de Cete. Dois anos depois de o comandante e a direcção desta corporação se terem demitido face a um ultimato de 39 bombeiros, que entregaram os capacetes e pediram para passarem ao Quadro de Reserva em protesto, novas divergências entre o comandante e a actual direcção levaram à demissão em bloco, desta última, no passado sábado.

Noel Ferreira terá ameaçado sair caso o presidente da instituição se mantivesse em funções e vários bombeiros do corpo activo terão prometido abandonar a associação humanitária caso o comandante se demitisse.

Perante este cenário, “para salvaguardar a associação e evitar o que aconteceu no passado”, explica Paulo Pinto, presidente demissionário, a direcção optou por sair e abrir caminho a novas eleições, não prejudicando a parte operacional. Ainda assim, Paulo Pinto fala em “ingratidão”.

“O comandante esteve comigo a 8 de Junho e pôs a questão: ou ele ou o presidente, os dois não podiam ficar na associação humanitária”

Direcção demissionária dos Bombeiros de Cete

A situação já se arrasta há mais de uma semana e ter-se-á precipitado no passado sábado. “O comandante esteve comigo a 8 de Junho e pôs a questão: ou ele ou o presidente, os dois não podiam ficar na associação humanitária”, conta Saúl Ferreira, presidente da Assembleia Geral da corporação.

Em reunião com a direcção, Saúl Ferreira passou a mensagem. A decisão que comunicou depois ao comandante era que, para sair o presidente, toda a direcção sairia. “Ele disse-me que ia apresentar a demissão e reuniu com os bombeiros que me chamaram e me comunicaram que iam apresentar demissão se o comandante fosse embora, apesar de reconhecerem o bom trabalho da direcção”, explica. “Tentei sentar comandante e presidente à mesa, mas o comandante recusou. Com esta posição reuniram de emergência no sábado e resolveram sair. Caem todos os órgãos sociais”, diz o até agora presidente da Assembleia Geral.

Em causa, adianta, estarão pedidos do comandante que não eram exequíveis perante a situação financeira da instituição. “Queria que fosse pago um euro por hora aos voluntários quando estavam de serviço no quartel. Isso era impossível”, garante Saúl Ferreira.

“Em 2017 os bombeiros tinham queixas legítimas da direcção, desta vez não lhes dou razão. Esta direcção fez um trabalho fantástico e tem as contas em ordem”, critica ainda, comparando com o passado. Face a esta “ingratidão” do corpo de bombeiros diz que não vai integrar nenhuma lista, apesar de já ter sido convidado.

“O comandante foi um dos que me foi pedir para vir para cá quando isto estava caótico. Não sei porque não houve diálogo”

Ingratidão é também a palavra usada por Paulo Pinto, presidente demissionário, para descrever a situação em que se viu envolvido.

“É a segunda vez que acontece uma revolução nos Bombeiros de Cete. A minha direcção fez o melhor que pode. Tivemos que por dinheiro do nosso bolso em diversas situações. Foi um mandato de muita dificuldade, mas conseguimos estabilizar as contas, investir em fardamentos e viaturas novas, equipamentos e fazer algumas obras. Agora tivemos esta reacção de ingratidão do comando e dos bombeiros”, lamenta. “Estamos com dificuldades financeiras e pagar um euro por hora aos voluntários não era possível”, argumenta, dizendo que procuraram satisfazer todos os pedidos do comando ao longo do mandato, renovado em Dezembro último.

Justifica a decisão de sair perante a ameaça de problemas no corpo operacional. “Era mais cómodo sermos nós a vir embora para não corremos o risco de não haver bombeiros para fazer os serviços”, refere.

Paulo Pinto diz, no entanto, não entender a atitude de Noel Ferreira. “O comandante foi um dos que me foi pedir para vir para cá quando isto estava caótico. Não sei porque não houve diálogo. Não consigo falar com ele há quase dois meses, nem por telefone nem por email”, aponta. Acredita ainda que esta situação tem “questões políticas pelo meio”. “A demissão foi no sábado e no domingo já havia movimentações de pessoas ligadas a partidos para apresentar listas”, dá como exemplo.

“Saio de consciência tranquila. Quero calma e que a instituição vingue seja com quem for”, sustenta o presidente demissionário. “Estive lá 22 anos consecutivos e fui um dos obreiros daquele quartel. Voltei em Maio de 2017 quando tinham 1.032 euros no banco, a situação era caótica, os bombeiros não tinham fardamento e entrava água pelo telhado. Agora tudo melhorou bastante”, compara.

Contactado, Noel Ferreira, à frente da corporação desde Abril de 2018, não quis prestar declarações.

As eleições estão agendadas para o dia 7 de Julho. Até lá a gestão está a ser assegurada pelo vice-presidente, Joaquim Leal, e o tesoureiro, Adriano Rocha, da direcção demissionária.

Saúl Ferreira antecipa pelo menos duas listas candidatas.

CDS acusa PS de partidarizar instituições do concelho

Perante a demissão desta direcção, o CDS Paredes emitiu um comunicado a acusar o Partido Socialista de partidarizar as instituições do concelho. “Não queremos acreditar, que o Partido Socialista de Paredes, agora em Cete, tenha dado origem à crise na instituição, para depois tentar tomar o poder, e partidarizar os Bombeiros, à semelhança do que tem vindo a acontecer em todo o concelho”, sustentam.

O partido apela ainda a que o processo eleitoral em curso nos Bombeiros Voluntários de Cete seja “digno e transparente, sem partidarização da corporação, e que os bombeiros tenham todas as condições para cumprirem a sua nobre causa”.

Recorde-se que, em 2017, o braço de ferro entre comandante e direcção e os bombeiros durou mais de dois meses.

A direcção e o comando chegaram a ameaçar com processos devido a algumas afirmações feitas. Proibiram depois uma assembleia “ilegal” agendada por um associado. A mesma acabou por realizar-se no parque de estacionamento do quartel e aprovou a destituição dos órgãos da corporação. O comandante e a direcção haviam de demitir-se dias mais tarde, depois de uma reunião mediada pela autarquia.