Nasci e passei toda a minha adolescência em Parada de Todeia, uma pequenina freguesia do concelho de Paredes. Por se tratar de uma terra pequena, não frequentei lugares que agora fazem parte do meu dia-a-dia. Hoje, vivo em Paredes, que é uma cidade pequena. É provável que tudo isto possa ter tido impacto na minha personalidade, mas não sinto que me tenha transformado numa pessoa menor. Nascer e viver em terra pequena não é o mesmo que ter uma vida pequena.

Vem isto a propósito das várias acções da Câmara Municipal de Paredes intituladas “Dar Vida a Paredes”, com a intenção de aumentar o nível de qualidade de vida dos habitantes da cidade.

Embora o conceito “qualidade de vida” seja complexo, porque está relacionado com a satisfação das necessidades de uma população a nível económico, social, psicológico, ambiental, etc., parece unânime a ideia de que é preciso fazer alguma coisa nesse âmbito na cidade de Paredes, já que, nos últimos anos, a cidade teve um crescimento demográfico desarticulado com acções de planeamento. O resultado foi uma cidade pequena, de trânsito confuso, construção desajustada e moribunda em termos de comércio local.

De facto, é preciso fazer alguma coisa para voltar a dar vida à cidade. Mas bastará replicar alguns eventos e festas que existem nos concelhos vizinhos? Será suficiente? Dir-me-á o leitor: em Penafiel, faz-se, e funciona. Certo. Mas, antes de Penafiel organizar festas, caminhadas e outras iniciativas que mobilizam a população, fez um trabalho de planeamento e mobilidade urbana, na altura desenvolvido pela arquitecta Paula Teles e que foi muito criticado por muitos, mas cujo resultados estão à vista de todos.

Eu acredito que a Câmara Municipal de Paredes tenha a boa intenção de revitalizar a cidade, mas não me parece que isso se consiga organizando o maior churrasco de Portugal ou uma prova de rali no meio da cidade ou caminhadas. Parece-me até que são iniciativas avulsas, sem um fio condutor.

Creio que todas estas iniciativas fariam mais sentido depois de definida uma política de mobilidade, planeamento e redesenho da cidade. Por mais pessoas que estas iniciativas mobilizem, depois de terminadas, não fica nada.

Se a Câmara Municipal definir uma política de planeamento e mobilidade para a cidade, envolver a população nessa missão e a explicar, certamente que todos compreenderão que antes dos grandes eventos é preciso tornar a cidade mais inclusiva, mais acessível e mais democrática. Até lá, continuaremos a ter uma cidade com trânsito confuso, sem passadeiras para peões, sem espaço nos passeios para quem quer passar e lojas e mais lojas fechadas.