À medida que refletimos sobre o ano que passou, é impossível não destacar a figura que dominou durante vários anos o cenário político de forma tão acentuada, e ao mesmo tempo, tão ambígua. Celso Ferreira, o ex-presidente da Câmara Municipal de Paredes, é a personificação da dualidade entre a justiça legal e a justiça pública. A sua absolvição nos tribunais, após uma série de acusações que o colocaram sob os holofotes de jornais regionais e nacionais e nos ecrãs das televisões, ressoa com um eco de silêncio ensurdecedor.

A narrativa de Celso Ferreira é uma tapeçaria intrincada de triunfo e tribulação. Nos últimos anos, tornou-se figura central em diversos processos judiciais que o colocaram em cheque perante a opinião pública. Os títulos e as notícias foram implacáveis, os ataques de quem lhe sucedeu, incessantes. No entanto, após a sua absolvição, quando a justiça determinou a ausência de ilegalidades nas suas ações, pelo menos nestes processos que eram conhecidos e dos quais estava acusado, esse mesmo frenesim mediático transformou-se num quase sepulcral silêncio.

Este contraste levanta questões pertinentes sobre a natureza da justiça e da condenação pública. Celso Ferreira, embora absolvido pelos tribunais, já havia sido condenado na praça pública muito antes de qualquer veredito judicial. A discrepância entre o ruído ensurdecedor da acusação e o murmúrio tímido da absolvição, levanta a cortina sobre uma realidade muitas vezes ignorada: a de que, no tribunal da opinião pública, o julgamento é muitas vezes emitido sem a espera pela deliberação da justiça e, quase sempre, muito mais cruel.

Enquanto jornal que se pauta pela verdade e imparcialidade, é nosso dever não apenas relatar os factos, mas também questionar as narrativas que os envolvem. A história de Celso Ferreira é um lembrete crucial de que a justiça deve prevalecer tanto nas salas dos tribunais quanto nas páginas dos jornais e nas conversas do dia-a-dia. Deve ser uma chamada à reflexão sobre a responsabilidade dos meios de comunicação social e da sociedade em geral na construção de uma narrativa justa e equilibrada.

Que a história de Celso Ferreira sirva como um espelho para a nossa consciência coletiva, lembrando-nos da importância de aguardar a verdade antes de emitir julgamentos e de reconhecer a redenção quando ela é devida. Afinal, a justiça não se faz apenas nos tribunais, mas também na forma como escolhemos contar as nossas histórias.