Foto: Alunos do segundo ano do curso de Relações Internacionais da Universidade de Coimbra, onde se integra Albertina da Conceição

Foram dias confusos, de incerteza e de algum pânico, os vividos por duas estudantes de Erasmus, uma de Paços de Ferreira e outra de Lousada, que frequentavam a universidade em Bordéus. Com as complicações geradas pela evolução da pandemia COVID-19, a viagem de regresso das jovens, e de outros cinco colegas de outros pontos do país, foi desmarcada à última da hora, deixando-os numa situação difícil.

Já tinham entregado as residências onde moravam e distribuído a comida. Ficaram sem sítio para dormir e tiveram que apelar à ajuda de várias entidades, entre elas a Câmara de Paços de Ferreira, que contactou o consulado.

Uma conhecida da família acabou por acolher os sete jovens até conseguirem um novo voo. Já estão em casa, em quarentena voluntária, desde ontem à tarde.

Albertina da Conceição, de 20 anos, conta como foi.

“No domingo as pessoas ainda não estavam a levar aquilo muito a sério”

Os jovens, estudantes da Universidade de Coimbra, a maioria do segundo ano do curso integrado de Relações Internacionais, frequentam a Universidade de Sciences Po Bordeaux, em Bordéus, na França.

Estiveram recentemente em Portugal, em férias, e regressaram a 7 de Março, quando já havia registo de casos de COVID-19 no país. A universidade, explica Albertina da Conceição, de Paços de Ferreira, informou que as aulas iriam manter-se. “Lá não era uma área muito afectada, mas tínhamos colegas que vieram de todos os pontos de França”, conta.

Apesar disso, a vida decorreu de forma mais ou menos normal, até que, na quinta-feira passada, as actividades escolares foram suspensas no país.

A jovem de Paços de Ferreira e os colegas foram às compras, preparando-se para uma possível quarentena, resguardando-se depois em casa. Mal tiveram a informação de que o ano lectivo terminava por ali procuraram agendar viagem de regresso a Portugal. Conseguiram fazê-lo para a passada terça-feira.

“No domingo as pessoas ainda não estavam a levar aquilo muito a sério. Ainda tínhamos colegas a sair à noite. Mas na segunda-feira mudou muita coisa”, relata Albertina. As saídas à rua só podiam ser feitas com uma autorização (assinada pelo próprio), indicando o motivo, ligado a questões de saúde, alimentação ou exercício físico, sempre sozinhos.

Mal conseguiram marcar a viagem, Albertina e os seis colegas, de Lousada, Aveiro e Coimbra, que viviam em residências, começaram a preparar tudo. “Vendemos coisas como fornos e microondas e noutros casos enviamos para cá roupas de cama e outros móveis, coisas que não podíamos trazer no avião. E demos a comida que tínhamos comprado e entregamos as casas”, conta a jovem de 20 anos.

“Ficamos em pânico”

Mas, na segunda-feira, veio a notícia de que o voo estava cancelado. Contactaram a emergência consular, que lhes disse para agendar viagem na TAP para o dia seguinte. Só que, mesmo desse, houve suspeita de cancelamento. “Ficamos em pânico”, confessa a pacense, lembrando que não tinham sítio onde ficar.

Desdobraram-se então em contactos com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, os coordenadores do curso, em Coimbra e em Bordéus, o consulado e as câmaras municipais de onde são naturais. Do município de Paços de Ferreira, houve resposta e contacto junto do Consulado Geral de Portugal, pedindo apoio com urgência para a permanência do grupo em França ou ajuda no regresso a Portugal, diz Albertina da Conceição.

Ainda chegaram a ponderar a hipótese de virem até Espanha, mas não sabiam se iam ser autorizados a passar, pois já se falava do encerramento de fronteiras. “Foram dias de muito stress e de incerteza e em que nós equacionamos mil cenários hipotéticos de como regressar. A televisão francesa a dizer que iam ser dadas 24 horas a quem quisesse voltar ao país de origem”, admite.

A mãe de Albertina da Conceição conseguiu então contactar uma empresária de Paços de Ferreira conhecida, da Placapaços Construções Modernas, que foi em auxílio dos sete jovens. “Veio buscar-nos à residência e levou-nos para casa dela. Não cobrou nada, deu-nos um sítio onde ficar e foi incansável quando não nos conhecia de lado nenhum. Depois trouxe-nos ontem ao aeroporto”, refere a jovem, agradecida pelo gesto solidário.

O grupo de jovens chegou ontem a Lisboa. Daí apanharam voo para o Porto. Estão em casa.

“Estou em casa, de quarentena, até porque os meus avós são população de risco e vivem no andar inferior. Com as viagens já estive em vários aeroportos e é melhor prevenir. Não tenho sintomas, mas não sei se tenho o vírus”, salienta. “Estou mais tranquila cá. Pelo menos se ficar doente tenho o apoio da família”, conclui.