Apontamentos em férias

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Polémica entre Ordem dos Médicos e o Governo

Escrevemos estas palavras na véspera do encontro previsto para terça-feira entre os protagonistas de uma polémica insólita entre a Ordem dos Médicos e do Governo. Duas ou três notas:

– O governo falhou no caso do lar de Monsaraz que, recorde-se, está na origem da troca de acusações entre o presidente da Ordem e o chefe do Governo. Um lar nunca poderá ser assim chamado se não dispuser de uma equipa multidisciplinar de Saúde. Este é um caso flagrante da falta de condições em que vivem muitos dos nossos idosos. A saúde e a falta dela não pode ser objeto de negócios privados ou mais um tentáculo do polvo do poder.

– A Ordem erra exorbitando das suas competências agindo permanentemente como se fosse um sindicato. São coisas diferentes. A Ordem devia explicar, por exemplo, como é que se queixa da falta de médicos e se opõe à entrada de mais alunos nas faculdades de medicina. O resto é com os sindicatos dos médicos.

A administração do Lar evidencia aquilo que todos sabemos. As redes de clientelismo político e partidário, o compadrio e até a corrupção não são coisas que se vejam apenas nos grandes negócios da administração central. Podem não acabar aí, mas começam muito antes. Bastava que alguém se preocupasse com a qualidade da democracia para encontrar nos órgãos autárquicos, em todos, o compadrio que corrói o sistema e abre alas para a entrada dos “Aventureiros” que disso se alimentam. Bastaria olhar ás relações familiares ou de amiguismo existentes, por exemplo, nas empresas municipais, nas associações empresarias feitas à medida ou até nos dirigentes das IPSS´s, para desvendarmos a teia que consome o erário público, impede o desenvolvimento equilibrado do país e bloqueia o ascensor social que, dizem, a escola proporciona.

Só será assim quando as novas gerações, mais informadas e capacitadas, dispuserem da igualdade de oportunidades de que dispõem os detentores do poder político.

E não poderá acontecer com as regras definidas pelos donos dos centros de decisão política. Esse sistema está viciado, é corrupto e só dá oportunidades à carneirada desenfreada que se deixa enganar, embalado pelo sono e pelo sonho, de um dia chegar lá. Chegar onde, por qualquer meio, chegaram aqueles que agora se fazem seguir.

Ser como esses não deve ser desígnio dos que aspiram a uma sociedade mais justa. E a transparência democrática deve ser ponto de honra de quem tem da política o sentimento de que o serviço público e o bem comum são os fins da ação política.

Quanto à reunião da Ordem com o Governo que ninguém espere mais do que os costumeiros salamaleques que sempre se exibem nos órgãos de comunicação social quando ambas as partes metem a pata na poça. Até nos vão tentar enganar para acreditarmos que não aconteceu nada de grave.