Imagem do momento da Assembleia Municipal em que foram proferidas as declarações polémicas de Lurdes Castro

Os comentários, que deviam ter sido partilhados apenas com o primeiro secretário da mesa, foram apanhados pelo microfone que gravava a sessão da Assembleia Municipal de Lousada, realizada na passada segunda-feira, e transmitida em directo na plataforma Youtube.

Durante o registo de uma votação relativa à eleição de representantes da Assembleia para várias comissões, e logo depois de mencionar o nome de dois eleitos da coligação Acreditar Lousada (PSD/CDS-PP), a presidente da Assembleia Municipal, Lurdes Castro, disse, a José Pinto Nogueira, “filhos de uma grandessíssima mãe”, “cães” e “para a próxima já lhes conto uma história, se houver próxima”. “Os nossos também falharam, não falharam?”, responde o primeiro secretário. “Mas não foi assim”, replica ainda Lurdes Castro, antes de continuarem o processo de registo dos eleitos.

Em causa estarão abstenções registadas, alegadamente atribuídas à oposição, quando as listas apresentadas foram únicas e supostamente concertadas entre as bancadas do PS e do PSD/CDS-PP. A votação foi secreta.

Para Simão Ribeiro, presidente do PSD, foram “insultos” da “maior gravidade” tecidos em relação à oposição e Lurdes Castro tem de demitir-se do cargo de presidente do órgão e renunciar ao mandato na Assembleia Municipal.  

Já Lurdes Castro diz que tudo não passou de “um desabafo” no final dos trabalhos da sessão quando já havia “algum cansaço”, um comentário “em off” que não foi dirigido a ninguém, e resultado de “falta de honestidade política” da oposição que não cumpriu os compromissos assumidos. Garante que não pretende demitir-se.

Vídeo divulgado e legendado pelo PSD Lousada

“Os lousadenses, quando lhe confiaram o voto, não foi com certeza para tratar os deputados municipais como ‘cães’”

“É um incidente da maior gravidade, condenado pelos eleitos da Acreditar Lousada, pelos vereadores da coligação e pelo PSD”, explica o também vereador social-democrata.

Para Simão Ribeiro, a postura de Lurdes Castro na Assembleia Municipal da passada segunda-feira foi marcada por “uma certa arrogância democrática”, patente, por exemplo, face às propostas da bancada da coligação Acreditar Lousada para “melhorar” o regimento.

Mas quanto ao mais grave que se passou na sessão, só se aperceberam depois, quando reviram a gravação da Assembleia.

“Num acto de infelicidade, que em nada dignifica a Assembleia Municipal, a senhora presidente depois da contagem de uma votação, julgando estar com o microfone, desligado dirige-se à bancada da coligação Acreditar Lousada como, e passo a citar, ‘filhos de uma grandessíssima mãe’, ‘cães’ e ‘para a próxima já lhes conto uma história, se houver próxima’”, afirma o líder do PSD Lousada.

“Apesar do enorme respeito que tínhamos por Lurdes Castro, depois de tais declarações e postura, não vemos outro caminho que não o pedido de demissão de presidente da Assembleia Municipal e a renúncia ao mandato como deputada da Assembleia Municipal”, argumenta.  

“Ao proferir tais palavras, alicerçadas numa postura de ódio e fanatismo, Lurdes Castro não está à altura do cargo. Exigimos que se retrate, que peça desculpa aos lousadenses e abandone as funções, porque demonstrou com a arrogância, falta de educação e pela linguagem que utiliza, que não tem respeitabilidade para dirigir um órgão desta nobreza”, reforça Simão Ribeiro, que desafia ainda o presidente da Câmara de Lousada, Pedro Machado, a dizer se concorda com este tipo de postura ou se a repudia.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Lurdes Castro perdeu o respeito que tinha da nossa bancada e não tem condições de continuar num cargo que exige respeitabilidade, democracia, elevação e respeito que ela, por iniciativa própria, deitou pela janela fora. Os lousadenses, quando lhe confiaram o voto, não foi com certeza para tratar os deputados municipais como ‘cães’, não foi para os insultar gravemente”, sustenta.

Simão Ribeiro adianta ainda que está em aberto a realização de um pedido de Assembleia Municipal Extraordinária para exigir esta demissão.

“Foi mais um desalento, um desapontamento, mais do que ser mal-educada”

Contactada, Lurdes Castro, apesar de não ter “conhecimento do que foi dito na conferência de imprensa”, diz que não teve intenção de “insultar ou ser mal-educada com alguém”.

“Aquilo que foi extraído não passa de um desabafo meu numa altura em que já se estava no final dos trabalhos e com algum cansaço. Foi um desabafo em off, o microfone nem devia estar ligado, não foi uma expressão dirigida a ninguém”, garante a presidente da Assembleia Municipal. E o desabafo, concretiza a socialista, resultou “da falta de honestidade política e pessoal por parte de alguém que assumiu um compromisso na reunião de representantes, um compromisso que não foi cumprido”, alega, referindo-se à votação das comissões.

“Foi mais um desalento, um desapontamento, mais do que ser mal-educada. Quem me conhece sabe que dentro da Assembleia sempre tratei de forma imparcial quer os membros da oposição quer os da bancada do PS”, afiança Lurdes Castro que, garante, não está a ponderar demitir-se “de forma alguma”.

Perante o desafio de Simão Ribeiro, o presidente da Câmara de Lousada diz que este pedido de demissão da presidente da Assembleia Municipal “é patético”. “Já passou tempo suficiente para a oposição digerir o resultado eleitoral. Isto é quase mesquinhez”, comenta Pedro Machado. “Aquelas palavras não foram dirigidas a ninguém e nem era suposto serem ouvidas, foi quase um murmúrio para ela própria. Isto não passa de uma tentativa de arranjar um caso político”, afirma o autarca.

Lurdes Castro é “educada, respeitadora e democrata”. Prova disso, argumenta Pedro Machado, foi o facto de apesar da maioria que o PS tem na Assembleia ter aceitado nomeações de nomes do PSD/CDS-PP e dado tempo à bancada da oposição.

Ao Verdadeiro Olhar, o presidente do PS Lousada, José Santalha, também define tudo isto como um “fait divers” da oposição. “Aquilo que eles consideram um insulto não foi dirigido a ninguém, foi dito para ela própria e em off”, pelo que também não vê motivos para demissão. O socialista salienta que o PS podia ter ficado com a representação “nas comissões todas”, mas acordou uma lista única com a oposição. “Os elementos do PSD/CDS-PP depois de fazerem acordo verbal não votaram nos elementos do PS. Isso é que é ser democrático, fazer acordos e não cumprir?”, questiona.

O vídeo completo da última Assembleia Municipal está disponível aqui. As afirmações polémicas foram proferidas por volta das três horas, 31 minutos e 30 segundos.