“Juntos queremos assumir compromissos com o ambiente e a cada dia construir um mundo melhor e diferente”. A frase é do hino criado para celebrar o prémio europeu Green Leaf conquistado pelo Município de Valongo e que foi cantado por dezenas de alunos da EB 2,3 de Valongo na cerimónia de abertura. Expressa um dos propósitos do projecto: envolver a população nas dezenas de acções ambientalmente sustentáveis previstas para este ano e fazer de todos “embaixadores verdes”.

“O trabalho de Valongo é um exemplo de boas práticas que podem ser replicadas em Portugal e no Mundo”, afirmou o presidente da Câmara de Valongo. “O futuro é de todos, é nosso objectivo continuar a dinamizar acções que envolvam todos os munícipes, de todas as idades. O município continuará a apostar numa forte participação cívica”, prometeu José Manuel Ribeiro.

Recorde-se que Valongo foi o município vencedor do European Green Leaf Award 2022, uma iniciativa da Comissão Europeia que reconhece o compromisso com melhores resultados ambientais, com particular destaque nos esforços que gerem crescimento verde e novos empregos. O prémio financeiro no valor de 200 mil euros será aplicado em iniciativas que contribuam para alcançar a sustentabilidade ambiental.

 “Este é um prémio de toda a comunidade. Reconhece o compromisso com melhores resultados ambientais”

“Hoje mostramos ao mundo que vale a pena sonhar. É um dia especial. O nosso concelho ganhou um prémio muito importante que mostra que na nossa terra trabalhamos por um planeta melhor. Em Valongo estamos orgulhosos porque juntos conseguimos ajudar a natureza. Esta é uma missão de todos”, disse a pequena Maria Luís, aluna do 5.º H da EB 2,3 de Valongo, em nome das crianças do concelho.

Essa ideia foi realçada pelo presidente da autarquia. “Este é um prémio de toda a comunidade. Reconhece o compromisso com melhores resultados ambientais. Com este prémio damos a conhecer Valongo e o seu valiosíssimo património natural e cultural, as suas marcas identitárias que lhe conferem características únicas”, sustentou José Manuel Ribeiro.

Mas avisou: “hoje é um dia de partida e não um dia de chegada”. Durante um ano serão desenvolvidas dezenas de acções sustentáveis em termos ambientais, que, para já, não concretizou.

O concelho não começa do zero. Tem trabalho feito. É dos que tem menos perdas de água no país, uma frota de veículos eléctricos e iluminação 100% LED, deu como exemplo. “Aqui iniciamos um caminho, de mudar o comportamento em relação ao lixo. Temos quase 30 mil pessoas a separar os cinco fluxos de resíduos, devemos ser dos concelhos mais avançados do país”, acrescentou o edil. “A grande expectativa é que todos os cidadãos do concelho enverguem este título e sejam embaixadores verdes” e que os outros municípios se inspirem nestes resultados.

“Gostava de ter meios para comprar as serras. Quem é dono do território é que determina o que lá é plantado”

José Manuel Ribeiro defendeu que é preciso “unir esforços contra a perda de biodiversidade” e “trilhar um caminho para a neutralidade carbónica”, sendo a resposta dos governos europeus “decisiva para enfrentar a crise climática”.

“Temos de actuar mais como cidadãos e menos como consumidores ou vamos continuar nesta lógica de destruição do planeta. É junto das comunidades que está o segredo da mudança, com o envolvimento de todos, por isso é que é tão importante a educação”, argumentou o autarca, considerando a ignorância “perigosa”. “Com ignorância não há mudança comportamental e é disso que precisamos”, afirmou.

“Queremos mais famílias a passear no território, mais cidadãos a reconhecer a importância do ambiente e que todos tenham qualidade de vida. Isso só se consegue com rios saudáveis, com ar puro, com ruas limpas, com menos resíduos, com mais árvores”, frisou o presidente da Câmara, lembrando a vasta mancha florestal do concelho, que é paisagem protegida regional e Rede Natura 2000.

Recordou ainda o trabalho realizado com acções de valorização e conservação da natureza, reflorestação, plantação em áreas ardidas, recuperação de sistemas ribeirinhos e requalificação dos rios, entre muitas acções. E apontou um sonho: “Gostava de ter meios para comprar as serras. Quem é dono do território é que determina o que lá é plantado”.

“Não tenho nada contra o eucalipto, mas uma floresta de eucaliptos não é sinónimo de biodiversidade. Gostava de ter uma floresta de sobreiros, de medronheiros, de carvalhos, de castanheiros… porque isso é regeneração, é um legado. Daqui a 30 ou 40 anos podíamos ter uma floresta resistente aos incêndios e às alterações climáticas, que cria dinâmicas económicas… tudo o que não conseguimos fazer hoje”, concretizou José Manuel Ribeiro.

O segundo maior complexo de hortas urbanas vai ser em Ermesinde

 O autarca abordou ainda o projecto de criação de hortas urbanas, biológicas e inclusivas. “Dentro de dias vamos inaugurar o segundo maior complexo de hortas urbanas, quase 200 na zona da Palmilheira, em Ermesinde. Queremos chegar às mil hortas. Quando as pessoas têm uma horta aprendem a fazer compostagem, mudam comportamentos, além de lhes fazer bem à saúde mental”, referiu.

O prémio foi atribuído a Valongo por este envolvimento dos cidadãos em processos participativos, os projectos municipais de eficiência energética, a implementação de hortas biológicas urbanas, o sistema de recolha de resíduos porta-a-porta e a criação das associações intermunicipais Parque das Serras do Porto e Corredor do Rio Leça, entre outros.

O que eles disseram

“Infelizmente não posso estar convosco hoje. Tenho há muito tempo aprazada uma visita a Valongo e hoje era bem merecida pela recepção deste prémio. É um prémio europeu, patrocinado pela Comissão Europeia, e em que o júri é muito claro quanto aos méritos do município de Valongo. Méritos que têm a ver com a preservação da floresta, com a preocupação ambiental, com a sustentabilidade do desenvolvimento, com o diálogo entre gerações, com a projecção do futuro, e a importância das autarquias locais na projecção do futuro. O mesmo é dizer, a importância das populações, de cada cidadã e cidadão a começar nos mais jovens. É por isso que Valongo recebe o prémio. Envio um grande abraço solidário de felicitações”.

Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (em mensagem vídeo)

“Este prémio significa acima de tudo compromisso com o projecto europeu, entre pessoas, entre comunidades. Um compromisso com a natureza e pela natureza. (…) Este prémio distingue um resultado que só pode vir de um trabalho de todos os dias, prosseguindo objectivos comuns. Em Valongo este prémio só foi possível porque sonhar é uma condição que aqui se pratica. Existe identidade e orgulho, mas persiste um certo estigma de território suburbano. Hoje Valongo libertou-se desse preconceito. Vivemos aqui um apelo à mudança de comportamentos”.

Teresa Andresen, arquitecta que acompanhou o processo de criação do Parque das Serras do Porto

“Este prémio é mais um indicador do foco firme e persistente que o município de Valongo tem tido na acção ambiental como meio transformador da acção pública e dos comportamentos. Parabéns! Este reconhecimento europeu, o primeiro no Norte do país e o segundo a nível nacional, é um incentivo a prosseguir e a ganhar escala neste movimento das causas ambientais. Um incentivo e uma responsabilidade acrescida que deve ser partilhada”.

Célia Ramos, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte

“Este prémio sinaliza o compromisso de Valongo com o desenvolvimento sustentável e terá seguramente um efeito multiplicador quer nos concelhos vizinhos, como na região Norte e no país. Sublinho áreas aqui executadas, o projecto do Corredor do Rio Leça e o Parque das Serras do Porto, um trabalho colaborativo importante, a obra da ETAR de Campo para melhorar o rio Ferreira, o que é muito importante, a recolha dos bio-resíduos que é relevante para a economia circular, e também as áreas da mobilidade sustentável e da eficiência energética. É muito importante que neste projecto se envolva a comunidade”.  

José Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente