Para já os talhões da Horta Biológica da Palmilheira, em Ermesinde, ainda estão vazios. As primeiras plantas, algumas aromáticas, foram plantadas hoje, durante a inauguração, num gesto simbólico. Mas há quem esteja ansioso para meter as mãos na terra. Algumas das famílias que se candidataram a estes espaços reconhecem a sua importância para a saúde física e mental. Vêm à procura de expandir as hortas de varanda e os pomares de terraço.

José Epifânio é informático. Vive num apartamento, onde também trabalha actualmente (está em teletrabalho). Tem filhos pequenos e quer que tenham contacto com o meio rural, como ele em tempos teve. “Até agora tínhamos uma horta na varanda, vamos expandir”, brinca. “Acho que os meus filhos vão gostar disto, é uma oportunidade para explorar. E isto faz bem”, acrescenta o residente em Ermesinde.

Graça Carvalho e Maurício Ferreira já têm praticamente um pomar no terraço do apartamento. Encaram este como um “projecto de família” que vai envolver o filho e a mãe/sogra. “Vamos ser subsistentes e tirar daqui hortícolas para todo o ano. Vai ser preciso empenho, mas serão produtos de mais qualidade”, acreditam. Apontam ainda os benefícios de ter uma horta no centro da cidade. “Vivemos desligados e não há interacção e isto vai permitir interagir com vizinhos e aproveitar o espaço ao ar livre”, admitem.

Ambas as famílias concordam com o pagamento de seis euros para o uso de água para responsabilizar as pessoas e para que não abandonem os espaços. “Ao que é de borla não se dá valor”, sentenciam.

“Isto é saúde, é melhor estar aqui na horta do que em casa a ver televisão”

A Horta Biológica da Palmilheira tem 172 talhões – 15 dos quais elevados para pessoas com mobilidade condicionada. Nasceu num terreno com 11.000 metros quadrados de terreno cedido pela REN– Redes Energéticas Nacionais e requalificado pela Câmara de Valongo num investimento de cerca de 150 mil euros. Insere-se também no Projecto Horta à Porta – Hortas Biológicas da Região do Porto, da Lipor.

Tem como meta promover a sustentabilidade ambiental e incentivar famílias, escolas e associações locais a cultivar e consumir produtos hortícolas biológicos.

Existem seis abrigos para as ferramentas agrícolas, um charco para promoção da biodiversidade, hotéis de insectos e casas ninhos, assim como mobiliário urbano, entre outros.

O presidente da Câmara de Valongo adiantou que, com mais estes talhões, o concelho de Valongo fica com cerca de 500 hortas comunitárias. Mas a ambição é chegar mais longe. “Com mais este investimento foram dados passos firmes para o concelho atingir o objectivo de chegar às mil hortas”, sustentou José Manuel Ribeiro, lembrando os espaços já existentes em Campo, Valongo e também Ermesinde. Afirmou ainda que a autarquia está disposta a arrendar terrenos para criar novos espaços como estes, cujo sucesso depende das pessoas e da sua “vigilância activa”. É que este tipo de infra-estruturas verdes tem evidentes benefícios para a comunidade, inclusive para a promoção da saúde física e mental, advogou. “Isto é saúde, é melhor estar aqui na horta do que em casa a ver televisão”, garantiu aos presentes.

O autarca não deixou de lembrar os investimentos “fortes” no ambiente nos últimos anos. “Não foi por acaso que ganhamos o prémio Green Leaf que faz de Valongo um embaixador verde”, atestou, dando como exemplo as cerca de 20 mil árvores plantadas nos últimos anos, as hortas comunitárias já existentes, a recolha selectiva porta-a-porta de resíduos que já abrange cerca de 30% da população e cuja meta é aumentar, a aposta na compostagem ou os projectos de recuperação do Rio Leça e o do Parque das Serras do Porto.

João Faria Conceição, administrador executivo da REN, apontou a sustentabilidade como uma das prioridades da empresa. “Nas nossas infra-estruturas temos a obrigação de limpar faixas de terreno. Só em 2021 foram limpos 9000 hectares em todo o país, o equivalente a 9000 campos de futebol ou a uma auto-estrada de quatro faixas de Portugal à Irlanda. Esta solução permite dar algo à comunidade e trazer a população para mais perto da REN”, referiu, acrescentando que além de estar em causa a responsabilidade social da empresa trata-se de optimizar o espaço que estava sub-aproveitado.