Para combater o insucesso e abandono escolar e reduzir as saídas precoces da escola, os 11 municípios que integram a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa vão pôr em prática, nos próximos três anos lectivos, 47 medidas que vão chegar a 50 mil alunos por ano. O TâmegaSousa Educa [acreditamos em ti], plano que apresentado, em Lousada, com a presença do secretário de Estado da Educação, João Costa, sustenta que é desde tenra idade que é preciso criar condições para o sucesso educativo das crianças e jovens.

“Se tivermos em consideração que o Tâmega e Sousa é a região mais pobre do país, uma das mais pobres da Europa e que possui uma percentagem da população muito significativa com poucas habilitações académicas (44% da população ativa possui habilitações académicas inferiores ao 1.º ciclo), compreende-se que, para provocar mudança, é necessário investir nos primeiros níveis de ensino”, refere o documento.

Abordagem é “inovadora e integrada”

O Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar conta com uma abordagem, “inovadora e integrada”, que envolve a escola, aluno e família, constituindo equipas multidisciplinares e criando ambientes educativos favoráveis à aprendizagem. Muitas das medidas querem trazer mais criatividade, trabalho cooperativo, experimentação e inovação às salas de aula de 38 agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas e escolas profissionais deste território. Entre as actividades previstas, dirigidas a todos os ciclos de ensino, do pré-escolar ao secundário, ligadas às artes, desporto, ciências, tecnologia, cidadania, psicologia e orientação vocacional, estão o teatro, a escrita criativa, o xadrez, o empreendedorismo, o mandarim, a canoagem, as salas de futuro e a programação, entre outras. A aposta passa ainda por capacitar os agentes educativos da região para o combate ao insucesso escolar.

É que no Tâmega e Sousa, diz o plano citando dados do Censos 2011 e dos últimos anos lectivos, 12,4% da população com 15 ou mais anos não completou o 1.º ciclo; 33,6% apenas possui o 1.º ciclo e 17% só completou o 2.º ciclo, números ainda assim acima da média nacional. Nos últimos anos lectivos foi ainda registado um aumento da taxa de abandono escolar, refere o documento.

O TâmegaSousa Educa [acreditamos em ti] é um projecto co-financiado pelo Norte 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Social Europeu, tendo um custo total elegível estimado de 7,9 milhões de euros, com os municípios a assumirem 15% do valor. O maior investimento é na criação de equipas multidisciplinares promotoras do sucesso nos 11 municípios (2,7 milhões de euros); e de laboratórios de apoio ao ensino e aprendizagem, que incluem salas do futuro e educação online (1,8 milhões de euros).

A meta é a redução, no mínimo, de 10% da taxa de alunos nos 1.º, 2.º e 3.º ciclos e secundário com níveis negativos (a pelo menos uma disciplina) dos anos curriculares abrangidos e a diminuição, no mínimo, de 25% da taxa de retenção e desistência dos mesmos anos.

“Quer o concelho de Lousada quer o Tâmega e Sousa estão bem cientes de que a educação é um pilar fundamental para o nosso desenvolvimento”

Esta segunda-feira, na apresentação do projecto, o presidente da Câmara Municipal de Lousada lembrou os tempos em que o concelho que lidera, juntamente com o de Paços de Ferreira, tinham das maiores taxas de abandono escolar do país. “Houve muito trabalho feito e invertemos essa realidade”, argumentou Pedro Machado, lembrando os investimentos feitos no parque escolar, nas Actividades Extra-Curriculares e em programas de combate ao insucesso e abandono escolar.

Na área da Educação, referiu o autarca, Lousada está preocupada com a falta de creches e com o ensino profissional. “Quer o concelho de Lousada quer o Tâmega e Sousa estão bem cientes de que a educação é um pilar fundamental para o nosso desenvolvimento”, defendeu Pedro Machado.

Paula Santos, da Autoridade de Gestão do Programa Operacional Região Norte 2020, recordou que no início dos anos 90 este território era conhecido como “a zona cinzenta” e tinha indicadores problemáticos e uma baixa taxa de escolarização. “Mas foi uma das regiões do Norte do país que mais progrediu”, salientou. Estes planos, esclareceu, vão complementar o trabalho que já está a ser feito nas escolas com recursos adicionais.

Num território com mais de 420 mil pessoas, Telmo Pinto, secretário da CIM do Tâmega e Sousa, afirma que o desafio é grande e que o plano se baseis nos exemplos de boas práticas dos 11 municípios. O projecto vai permitir contratar 46 técnicos, de diferentes áreas, como psicologia, artes, orientação vocacional, animação sócio-cultural, ciências, desporto ou terapia da fala, que vão estar próximos dos alunos.

“Este é um plano que nos une a todos”

Num território heterógeno, afirmou Armando Mourisco, presidente da CIM do Tâmega e Sousa, não é fácil chegar a consensos. No entanto neste caso não houve dúvidas: “este é um plano que nos une a todos”. “Todos temos a noção que é a educação que vai tirar o território dos indicadores mais baixos do país”, sustentou. O autarca aproveitou ainda para pedir ao secretário de Estado da Educação justiça para este território no âmbito da reprogramação do quadro comunitário Norte 2020 e na programação do quadro comunitário Norte 2030.

João Costa lembrou os presentes que os principais preditores do insucesso escolar no país são a condição sócio-económica da família e a qualificação académica das mães. “Quando as mães dos alunos têm o 4.º ano 92% dos alunos têm histórias de insucesso e quando as mães são licenciadas os números invertem-se”, explicou.

O governante falou ainda da importância de motivar os alunos a vir à escola. O que será possível através de muitas medidas previstas neste plano, como as artes e o desporto, um dos principais elementos de inclusão na escola. “Um aluno bem sucedido não é um aluno que decorou umas coisas e despejou no dia do teste, é alguém que sabe analisar, pesquisar, pensar criticamente e criativamente e que se preocupa com o bem-estar comunitário, que é capaz de resolver problemas, que é um ser completo”, defendeu o secretário de Estado.