Nas últimas semanas, o Hospital Padre Américo não tem sido notícia pelos melhores motivos: umas vezes porque esgotou a sua capacidade para receber mais doentes, outras porque tem falta de médicos e enfermeiros, outras porque os políticos, em especial os autarcas desta região, descobriram agora que o hospital não dá a resposta à população que se esperaria. Só falta ser culpado do surto de infecções do novo coronavírus que assola a região.

É verdade que há uma preocupação generalizada sobre este vírus, até porque, para além de ainda não existir vacina pronta a administrar, se sabe ainda pouco sobre todos os seus efeitos. Se a própria comunidade científica não está tranquila quanto a este assunto, é normal que a população esteja muito preocupada. Mas mesmo isso não explica a aparente histeria e alarmismo de alguns autarcas da região, ao quererem atribuir a responsabilidade do actual estado de coisas ao hospital.

Esses autarcas que têm adoptado um estilo melodramático há muito que sabem das fragilidades do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, em especial do Hospital Padre Américo, que foi dimensionado para 320 mil habitantes e, neste momento, serve uma população de 12 concelhos com mais de 520 mil habitantes, ou seja, mais 200 mil do que o previsto. Sendo assim, nada mais natural que o hospital tenha vivido momentos de pressão.

Em Fevereiro de 2016, noticiámos que, no Hospital Padre Américo, um doente “muito prioritário” tinha de esperar até 267 dias por uma consulta de Cardiologia e que os que não eram considerados “muito prioritários” tinham de esperar quase dois anos. Em 30 de Dezembro de 2017, demos conta de que o Serviço de Urgência, que tinha uma média de 400 doentes por dia, estava a receber 780, quase o dobro. Em Novembro de 2018, era notícia o facto de haver cerca de 25 ambulâncias paradas à porta da urgência por não haver macas suficientes para transferir os doentes.

Assim se vê que os problemas de um hospital subdimensionado para a sua área de intervenção não são novos. Por isso, numa altura em que impera a incerteza e o medo na população, as declarações sobre as falhas do hospital por parte de alguns autarcas (incluo presidentes de câmara e oposições) não só não ajudam em nada ao melhoramento das condições existentes, mas põem também em causa a credibilidade do serviço e dos profissionais de saúde que ali trabalham, contribuindo ainda para amedrontar e alarmar a população.

Todos compreendemos que para o ano há eleições autárquicas e os políticos acham que, com intervenções como as descritas, fazem a sua prova de vida partidária, mas tem de haver limites para o que pode ser resumido como populismo e pouco mais.