Sempre o dia seguinte: vacinar, vacinar, vacinar

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O Governo de Portugal continua sem ter um plano para a distribuição de vacinas contra a covid-19. Em outubro, a Comissão Europeia pediu planos nacionais. Portugal anunciou um grupo de trabalho na semana passada. A UE já comprou mais de dois mil milhões de vacinas.

A pandemia continua a dominar as nossas preocupações, com o natal aí à porta e quase um ano depois de tudo isto começar. Mas o problema de fundo é o de sempre: o dia seguinte.

Na primeira vaga, gerimos danos e, no “intervalo”, não preparamos o sistema nacional de saúde para a – infelizmente certa – segunda vaga. Os ventiladores tardaram, a cooperação com o setor privado e social só a contragosto e os recursos humanos, dizimados pela exaustão, foram magra e tardiamente reforçados.

São problemas continuam mal resolvidos. Mas há um outro, cada vez mais premente: a vacinação. Esse elixir que pode salvar milhões de pessoas e resgatar as nossas vidas do entorpecimento, da dormência, da atrofia.

Desde maio deste ano, a União Europeia investiu milhares de milhões de euros no desenvolvimento de uma vacina, com o desígnio de encurtar para 18 meses o seu desenvolvimento. O período habitual é de 10 anos.

Perante os primeiros resultados viáveis desta investigação, a Comissão Europeia tem negociado a aquisição de vacinas para todos os europeus, porque juntos somos capazes de mais, melhor e mais rápido. Com uma população de cerca de 420 milhões, foram contratadas quase dois mil milhões de vacinas, dos 6 laboratórios já na fase de desenvolvimento mais avançada.

Não basta desenvolve-las e comprá-las se depois não chegaram à população.

Com as primeiras vacinas a poderem estar prontas já no inicio de 2021, a Comissão Europeia apelou a que os países começassem a planear como iriam vacinar a sua população. Espanha, Bélgica e Alemanha, pelo menos, já os apresentaram. Mais de dois meses depois, soube-se a semana passada que Portugal criou um grupo de trabalho para o efeito.

Vulgar e recorrentemente falamos do atraso do nosso país face ao resto da UE. Não somos, mas antes estamos atrasados. O Governo da República está atrasado, outra vez! Será que não aprendemos nada com a vacina da gripe sazonal? Volto a insistir: temos de preparar o dia seguinte. E o dia seguinte à descoberta de uma vacina tem de ser vacinar, vacinar, vacinar.